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Como funciona a dinâmica do mercado sertanejo, mais aquecido do que nunca pós-isolamento da pandemia
05/06/2022 / 13:27
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Com as edições 2022 das festas do peão de Americana (este mês) e de Barretos (em agosto) e o Villa Mix Festival (com datas a serem anunciadas) movimentando o mercado de shows, a música sertaneja vive a sua redenção, depois do flagelo da pandemia de Covid-19.

— Mais de 70% dos grandes eventos hoje são feiras agropecuárias e rodeios, eles absorvem muito os sertanejos. A agenda deste ano está toda cheia, e se a de 2023 estivesse aberta já estaria toda vendida também — diz Toninho Duettos, sócio do escritório Work Show e empresário de Maiara e Maraísa, Zé Neto e Cristiano e Tierry, para quem o estilo, ao contrário de outros, se beneficia por não enfrentar sazonalidades. — Não tem um período melhor ou pior. Hoje, não tem carnaval que não tenha sertanejo.

Para o jornalista André Piunti, do podcast Universo Sertanejo, este primeiro semestre de 2022 é, na verdade, “um dos melhores momentos para o sertanejo na última década”:

— O estilo voltou com muita força, não só com os shows que os artistas ficaram devendo por causa da pandemia e só estão fazendo agora, mas porque o negócio explodiu. Estão falando muito que está faltando artista para o tanto de festa que tem. Os cachês subiram muito, por conta de tudo que subiu no país, mas porque mesmo as duplas médias não têm mais data para fazer shows.

Mas a pandemia foi dura para o mercado sertanejo, em especial o que depende dos grandes eventos, como garante Marcos Mioto, dono de agência de shows referência no mercado sertanejo, que atende as principais feiras agropecuárias.

— Poucos aguentaram atravessar a pandemia sem demissões ou grandes dificuldades financeiras e emocionais — diz ele, que começou a desacelerar o trabalho como contratante, e tem cuidado mais de perto da carreira do filho, o cantor Gustavo Mioto.

Para Toninho Duettos, os empresários de artistas grandes não deixaram de faturar muito durante a Covid-19, apesar de que os maiores ganhos dos sertanejos vêm dos shows.

— A pandemia fez o segmento crescer no streaming. Como as pessoas não podiam sair para ir a um bar, elas ouviam as músicas nas plataformas de sua preferência e isso acabou gerando um faturamento que nos sustentou até que acabasse o isolamento. Mais de 80% vêm do show, o restante vem do streaming, de merchandising e de publipost. Os artistas que tinham maior engajamento nas redes sociais se saíram melhor nessa, a audiência nas lives foi algo que surpreendeu a todos.

Toninho explica que, no mercado sertanejo, nem sempre o maior cachê é o do artista mais presente no rádio, na TV ou nas plataformas de streaming.

— Tem alguns com músicas muito estouradas que não levam público para os shows. E outros muito populares, que às vezes nunca foram em uma TV grande, que acabam atraindo muita gente para a bilheteria. Esses é que têm os maiores cachês.

Para Mioto, a grande virtude do sertanejo é que ele “atinge a todos, da forma que for”.

— Mesmo as pessoas que menos conhecem de musica sertaneja ou não se interessam por ela conhecem Renato Teixera, Almir Sater, Sérgio Reis, Roberta Miranda, Chitãozinho e Xororó, entre outros artistas mais tradicionais — diz.

Preferência por bilheteria
E Toninho Duettos vê como uma “polêmica besta” a questão dos shows bancados por prefeituras:

— O sertanejo, o forró, o funk e o pop-rock, todo mundo fez prefeitura. Mas, se você for pegar o tanto de prefeitura que a gente faz, não dá nem 3% de toda a nossa agenda. A gente prefere fazer shows de bilheteria, onde você tem uma garantia mínima e 50% do valor dos ingressos, o que dá muito mais do que qualquer evento de prefeitura. A gente não vive de show público.

Mioto, por sua vez, diz que é tudo uma questão de responsabilidade do poder público:

— As prefeituras têm uma estrutura jurídica e orçamentária, com departamentos de licitação e de compras que analisam o que é preciso comprar e se é viável comprar. Então, se essa estrutura dá um parecer favorável ao prefeito eleito para que ele contrate um artista, faça uma obra ou realize alguma outra ação na cidade, o que resta aos contratados é apenas prestar o serviço.

O Globo