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Incêndio em bateria da Tesla reforça temor sobre risco do lítio
04/08/2021 / 12:23
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Um incêndio em uma das maiores instalações de produção de baterias da Tesla no mundo,
voltou a chamar atenção para os riscos desses equipamentos usados no armazenamento de energia renovável para as redes elétricas.

Foram necessários três dias para apagar o incêndio, que começou durante testes em um
contêiner marítimo que abrigava uma bateria de ions de lítio de 13 toneladas, em Moorabool, próximo de Geelong na Austrália, e se espalhou para uma segunda bateria.

O projeto “Victorian Big Battery”, que usa a Tesla Megapack (a enorme bateria da Tesla), é o maior do país, com 210 blocos capazes de armazenar até 450 megawatts/hora por rede de eletricidade.

Pertencente e operada pela empresa francesa de energias renováveis Neoen, o projeto deveria começar a operar antes do pico da demanda por energia no verão deste ano. A Neoen disse que ainda é muito cedo para dizer como a concessão será afetada e os testes serão retomados somente depois que as condições de segurança foram asseguradas.

O incidente acontece no momento em que empresas do setor de serviços públicos de todas as partes do mundo, da Austrália à Califórnia, dependem cada vez mais de grandes baterias de íons de lítio para armazenar energia renovável de geração eólica e solar. É o mesmo tipo de bateria usada em carros elétricos, que é capaz de fornecer energia rapidamente para as redes elétricas.

A quantidade de armazenamento de energia implementada no ano passado cresceu 62%, segundo a consultoria Wood Mackenzie, e o mercado deverá crescer 27 vezes até o fim da década.

Mesmo assim houve 38 grandes incêndios em baterias de íons de lítio desde 2018, segundo Paul Christensen, um professor da Universidade de Newcastle.

Em Pequim, um incêndio em uma instalação de baterias de íons de lítio em abril matou dois bombeiros e precisou de 235 para ser controlado. Em setembro, uma grande bateria de íons de lítio em Liverpool, pertencente à companhia dinamarquesa de energia renovável Orsted, pegou fogo no meio da noite.

As baterias de íons de lítio podem pegar fogo depois de um processo chamado “fuga térmica”, que ocorre quando uma bateria é sobrecarregada ou amassada. Isso produz calor e uma mistura de gases que quando liberados formam uma nuvem de vapor que pode entrar em combustão ou provocar uma explosão.

Em 2019, no Arizona, um incêndio em uma bateria de lítio em escala de rede lançou um bombeiro a mais de 20 metros da porta do contêiner, deixando-o com lesões cerebrais e costelas quebradas. Esse incêndio começou após um curto circuito em uma célula da bateria de íons de lítio, segundo apontou relatório divulgado depois do incidente.

Por causa da liberação de gases, “não temos uma resposta definitiva de qual é a melhor maneira de lidar com um incêndio em um veículo elétrico ou incêndio em sistemas de armazenagem de energia”, diz Christensen.

“As baterias de íons de lítio são indispensáveis para a descarbonização deste planeta, mas suapenetração na sociedade superou até agora o nosso conhecimento sobre os riscos e perigos associados a elas”, acrescenta ele.

Os riscos só aumentarão, na medida em que mais residências forem instalando baterias de íons de lítio para armazenar energia de painéis solares, ou para reduzir a dependência das redes de eletricidade, depois da sequência de eventos climáticos extremos que estamos testemunhando, afirma.

Na Austrália, os bombeiros usaram equipamentos de respiração e macacões especiais enquanto tentavam conter a chamas. Drones também foram empregados.

Matt Deadman, diretor de sistemas de energia e combustíveis alternativos do National Fire Cheifs Council do Reino Unido, disse que os incêndios em baterias de íons de lítio queimam por muito mais tempo que o normal e que a água serve apenas para evitar que eles se espalhem muito.

“Nesses casos é preciso esfriar as baterias, e assim você pode apagar o fogo, mas as baterias de íons de lítio produzem seu próprio oxigênio na medida em que vão se rompendo – elas voltam a pegar fogo. Assim precisamos tirar delas o máximo de calor que pudermos”, diz.

“No momento dependemos de métodos de combate a incêndios testados e comprovados e que usam água. Eles são eficazes, mas não são uma bala de prata que resolve todas essas coisas com a rapidez necessária”, diz Deadman.

A Tesla disse em julho que as receitas de suas operações de armazenagem e geração de energia, que incluem suas baterias Megapack, mais que dobraram no último trimestre, para US$ 801 milhões.

Elon Musk, o presidente executivo da Tesla, disse que variações mais seguras da tecnologia de íons de lítio, como as baterias de fosfato de ferro-lítio – que usam ferro e fosfato, em vez de níquel e cobalto – são adequadas para as suas grandes instalações de baterias.

Gavin Harper, um pesquisador da Universidade de Birmingham, diz: “É imprescindível não asfixiar as inovações e imperativo que realizemos rapidamente a descarbonização, mas ao mesmo tempo precisamos adotar uma postura cautelosa ao empregarmos novas tecnologias em grande escala”.

*Por Henry Sanderson — Financial Times, de Londres