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O que Elon Musk tem a ver com internet via satélite e monitoramento da Amazônia
20/05/2022 / 15:33
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Elon Musk desembarcou no Brasil nesta sexta-feira (20) para um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros integrantes do governo brasileiro. A reunião deve ter como assunto principal as iniciativas tecnológicas para a proteção da Amazônia, incluindo o uso de satélites para levar internet e monitoramento do desmatamento na região.

O encontro acontece em um resort de luxo no interior de São Paulo. Em uma mensagem postada no Twitter nesta sexta, Musk se diz empolgado de estar no Brasil e pela oportunidade de conectar 19 mil escolas em áreas rurais.

Sem dar detalhes, o bilionário também menciona que deve usar a tecnologia de sua startup de transporte aeroespacial para monitoramento ambiental a Amazônia.

A visita de Musk, que é o presidente-executivo da SpaceX e da Tesla, acontece depois de uma reunião do bilionário com o ministro das Comunicações brasileiro, Fabio Faria, realizada em novembro.

O que são SpaceX e Starlink?

 

Fundada em 2002, a SpaceX é uma startup voltada para o transporte aeroespacial que ganhou destaque ao utilizar tecnologia para reaproveitar os foguetes usados para transporte de cargas.

A companhia já realizou missões de turismo espacial e frequentemente presta serviços para a agência espacial norte-americana (Nasa) no envio de astronautas e suprimentos para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).

O primeiro lançamento de um foguete da companhia só aconteceu em 2008. Dez anos depois, a fim de testar seu foguete mais poderoso até então, Musk mandou um carro da Tesla para o espaço.

Além de enviar satélites, a SpaceX também manda pessoas para fora da Terra. Em 2021, ela conquistou um marco importante no turismo espacial com o lançamento de 4 pessoas “comuns” à órbita da Terra – que até então só tinha recebido astronautas profissionais.

Musk não estava a bordo, mas, com o sucesso da missão, ofuscou de certa forma seus concorrentes no segmento, os também bilionários Jeff Bezos, dono na Amazon, e Richard Branson, da Virgin Galactic.

Divisão de internet por satélite

Um dos braços da SpaceX é a Starlink, divisão voltada para o fornecimento de internet via satélite. Nesse segmento, a empresa de Musk tem como uma de suas principais concorrentes a Blue Origin, de Jeff Bezos, que também oferece internet via satélite.

Em janeiro, a companhia de Musk foi autorizada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a funcionar no Brasil. Com isso, a empresa vai poder oferecer seu serviço de satélite em todo o território brasileiro. O direito de exploração vai até 2027.

A SpaceX trabalha para criar uma “constelações de satélites”, que têm o objetivo de levar conexão para áreas remotas em todo o planeta. A companhia já lançou mais de 1.800 satélites desse tipo.

A intenção do governo é usar os satélites das empresas de Musk para levar internet de alta velocidade para a região amazônica, conectando escolas, unidades de saúde e comunidades indígenas em áreas remotas, onde é mais difícil chegar internet por fibra óptica, por exemplo.

A meta do ministério é conectar 100% das escolas da região até o final do ano.

'Constelação' de satélites ocupará órbita terrestre baixa e ficará bem mais próxima da Terra que os satélites geoestacionários — Foto: Arte/g1

 

Monitoramento ambiental

 

Outro tema comentado por Musk é a o uso da tecnologia da SpaceX para ajudar na preservação da floresta amazônica e no desenvolvimento da região. Mas ainda não há detalhes sobre como será realizada essa colaboração.

O monitoramento via imagens de satélites do desmatamento na Amazônia Legal já acontece e é função do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, desde 1988. O nível de precisão das imagens é de 95%, segundo o próprio instituto.

Apesar da alta taxa de desmatamento detectada, com mais de 13 mil km² de desmatamento pela plataforma Prodes (leia abaixo os sistemas do Inpe), o monitoramento não resulta em fiscalização: dados divulgados em fevereiro deste ano apontam que apenas 1,3% dos alertas resultaram em ações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).

Para fazer a observação, já são usados três tipos de sistemas:

  • Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes);
  • Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter)
  • TerraClass, que mapeia o uso da terra após o desmatamento, em parceria com a Embrapa.

 

O Prodes levanta as taxas anuais de desmatamento. São usadas aproximadamente 220 imagens do satélite americano Landsat-5/TM, que tem de 20 a 30 metros de resolução espacial (ou seja, cada ponto da imagem corresponde a uma área de 400 a 900m²).

Já o Deter é usado desde 2004 para detectar o desmatamento em “tempo real” em áreas maiores do que 3 hectares (30 mil m²). O sistema serve de alerta para dar apoio a ações de fiscalização do Ibama e não deve ser entendido como taxa mensal de desmatamento.

Por fim, há a divulgação dos dados do TerraClass feita a cada dois anos. O objetivo deste monitoramento é saber qual foi o uso da terra após o desmatamento. O levantamento é feito em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A atuação da empresa na Amazônia deve contribuir para desenvolvimento da região. Há algumas semanas, o governo do Amazonas afirmou que mantinha contato com a empresa de tecnologia aeroespacial.

“Elon Musk demonstrou interesse em trazer investimentos para cá e vamos trabalhar para consolidar esse negócio. Venham conhecer a Amazônia. A Amazônia está chamando vocês”, disse o governador do Amazonas, Wilson Lima sobre o interesse do bilionário.

Antes do encontro com o governo brasileiro, Musk já havia manifestado interesse em iniciar operações da Starlink na região da floresta amazônica.

Escolas sem internet

 

Segundo a “Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras” (TIC Educação 2020), a Região Norte tem o menor percentual de instituições de ensino com acesso à internet:

  • Centro-Oeste: 98%
  • Sul: 97%
  • Sudeste: 94%
  • Nordeste: 77%
  • Norte: 51%

 

A mesma pesquisa evidenciou que o problema não é apenas a falta de acesso à rede, mas também a baixa porcentagem de colégios da região Norte com computadores: só 63% têm alguma máquina para os alunos e funcionários usarem. A média nacional está bem acima disso (87%).

Em dezembro passado, o governo federal lançou o Programa Internet Brasil, criado para dar acesso gratuito à banda larga móvel para alunos carentes de escolas públicas — a iniciativa tinha sido vetada por Bolsonaro e depois foi criada por meio de Medida Provisória

Com investimento previsto de R$ 140 milhões, ela atenderá inicialmente somente seis municípios, todos no Nordeste, e exigirá que o estudante tenha aparelho celular, já que o acesso será pela distribuição de chips.

O leilão da internet 5G, realizado no ano passado, também tem como contrapartida o investimento na conexão das escolas. Foram garantidos R$ 3,1 bilhões para esse fim junto das operadoras que vão explorar o serviço: menos da metade do esperado, que era R$ 7,6 bilhões.

G1