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Ômicron: Especialistas calculam o risco da nova onda de Hong Kong e do Reino Unido chegar ao Brasil
20/03/2022 / 07:58
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Enquanto o Brasil mantém tendência de queda nos números da Covid-19, a situação em nações da Ásia e Europa que vivem uma nova onda da Ômicron acende um alerta. Embora existam chances de novas altas de casos desembarcarem por aqui, especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam como baixa a possibilidade de um período catastrófico no país, que experimenta outra condição epidemiológica. Para eles, no entanto, algumas medidas sanitárias seriam necessárias para reduzir ainda mais esses riscos.

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Analistas brasileiros veem com preocupações cenários como o do Reino Unido, que passa por um aumento dos diagnósticos desde o fim de fevereiro, ainda que as mortes permaneçam em patamares baixos. Já em Hong Kong e na Coreia do Sul, os óbitos chegaram aos níveis mais elevados de toda a pandemia.

Para que o Brasil esteja protegido de novas pressões sanitárias, o consenso é que, embora a cobertura vacinal esteja elevada em relação às duas doses, a principal estratégia deveria ser avançar na terceira e ampliar o debate sobre a oferta de uma quarta dose, autorizada hoje no país apenas para pessoas imunossuprimidas no período de quatro meses após a última aplicação.

— Está faltando uma adesão maior à terceira dose da vacina e no público infantil. E hoje não temos dúvidas de que é indicada uma quarta dose para pessoas idosas, imunossuprimidas e que têm um risco maior de evolução grave no geral — destaca o infectologista Gerson Salvador, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

A mesma orientação é apontada pelo infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, que ressalta a queda da efetividade observada cerca de seis meses após a terceira dose, especialmente em grupos mais vulneráveis.

— Se você tem uma vacinação antiga, é possível que você tenha uma perda parcial de proteção ao longo do tempo e precise de mais um reforço. Muito provavelmente essa dose extra não será necessária para a população geral, mas hoje sabemos que é importante para pessoas que já não respondem adequadamente às vacinas, como idosos e imunossuprimidos — afirma o especialista.

Vacinação e acesso a antivirais
Croda destaca que, no contexto da vacinação brasileira, esse segundo reforço é crucial por grande parte dos idosos terem completado o esquema vacinal de primeira e segunda dose com a CoronaVac. Ainda que tenha sido o primeiro imunizante a ser aplicado no Brasil, e ter salvado milhares de vidas no início da campanha, sabe-se hoje que a eficácia da vacina é menor nos idosos, inclusive para casos graves, pontua o infectologista.

Nesse caso, Croda reforça que, assim como foi recomendado com a terceira dose, a nova aplicação deve ser feita com outra plataforma vacinal, como o RNA mensageiro, no caso da Pfizer, ou o vetor viral, como é feito o imunizante da AstraZeneca.

— Antes mesmo da nova variante, o regime completo para a CoronaVac seria com um reforço. Por isso, ofertar agora uma quarta dose da mesma vacina para idosos não é recomendado. Evidências já mostram que ela gera menos proteção e, no contexto da Ômicron, não existem dados que comprovem que o público que receber o reforço com a CoronaVac estará protegido contra desfechos graves — acrescenta o especialista.

Ele discorda, por exemplo, da orientação do estado de São Paulo, que utiliza todos os imunizantes oferecidos no Plano Nacional de Imunizações (PNI) como reforço, inclusive a CoronaVac. Nesta quarta-feira, o estado se tornou o primeiro a anunciar a ampliação de uma quarta dose para idosos com mais de 80 anos, no intervalo de quatro meses da última aplicação. No Rio de Janeiro, a prefeitura da capital vai oferecer um segundo reforço para toda a população no período de um ano após o primeiro. A campanha terá início em julho com os idosos.

O Ministério da Saúde chegou a avaliar estender a quarta dose para outros grupos considerados vulneráveis, mas afirmou em fevereiro que são necessárias mais evidências e manteve a oferta restrita aos imunossuprimidos. Em outros países, o debate avança. A França anunciou na última semana a medida para idosos com mais de 80 anos. Em Israel, a aplicação é permitida para pessoas acima de 60 anos, trabalhadores de saúde, entre outros. No Chile, há um calendário que contempla toda a população adulta.

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Além da vacinação, o médico Salmo Raskin, geneticista e diretor-médico do Laboratório Genetika, em Curitiba, ressalta que o Brasil poderia se preparar melhor para eventuais futuras ondas garantindo o acesso a medicamentos antivirais orais que já foram autorizados em outros países, como o Paxlovid e o Molnupiravir.

— O Brasil não está estudando o acesso a esses remédios. Se daqui a um tempo aparecer uma nova variante que seja grave e escape às vacinas, a gente precisaria ter esses medicamentos disponíveis — defende o médico.

Ambos os antivirais já receberam o aval de agências de saúde estrangeiras, como da Food and Drugs Administration (FDA), nos Estados Unidos, e o uso no Brasil está sob análise pela Anvisa. Em estudos clínicos, os medicamentos reduziram os casos de hospitalizações e mortes pela Covid-19, e as farmacêuticas dizem que eles são eficazes contra a Ômicron.

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Lições de países com alta de casos
Apesar do aumento de casos em outros países, os especialistas ressaltam que cada lugar tem uma situação epidemiológica diferente e que não é possível confirmar se o Brasil também passará por um crescimento da Covid-19 nas próximas semanas.

— Acredito que não se prevê uma catástrofe como aconteceu um ano atrás, aquilo está um pouco fora de cogitação pela vacinação e pelo alto número de pessoas que foram infectadas aqui. Mas olhar para os outros países é importante para a gente ver que a pandemia não acabou — diz Raskin.

Em Hong Kong, que bate recordes de óbitos, a situação é diretamente ligada à cobertura vacinal. Embora tenha uma alta taxa da população total vacinada, 72,2% com as duas doses, os grupos mais vulneráveis não estão devidamente protegidos. Apenas cerca de metade dos idosos com mais de 70 anos receberam as duas aplicações e somente 23,5% a de reforço.

No Reino Unido, que vê um aumento constante de casos, os especialistas destacam que o erro é a demora em oferecer uma quarta dose aos mais vulneráveis. Apenas agora, seis meses após a última aplicação, o país começará o segundo reforço para pessoas acima de 75 anos, residentes em instituições de longa permanência e imunossuprimidos.

Na Dinamarca, onde todas as restrições impostas pela Covid-19 foram encerradas no momento em que o país batia recordes de casos, os maiores números de mortes diárias em toda a pandemia foram registrados neste mês. Para Julio Croda, esse e outros aumentos no continente europeu estão ligados ao fim precoce de algumas medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras.

Outro país que acende o alerta é a Coreia do Sul, que passa pelos maiores índices de casos e óbitos. Porém, Raskin ressalta que, assim como China e a Nova Zelândia, a Coreia do Sul buscou a estratégia de Covid zero com lockdowns rígidos e longos. A tentativa proporcionou números baixíssimos da doença em 2020 e 2021, mas, com a chegada da Ômicron, levou a uma explosão de casos pelo baixo percentual da população com anticorpos, aliado à queda da eficácia das vacinas com o tempo.

Informações: O Glob