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Profissionais de saúde possibilitam contato afetivo e virtual entre pacientes de Covid-19 e seus familiares
12/05/2021 / 08:03
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O isolamento social é uma das medidas necessárias neste período de pandemia para evitar a disseminação do coronavírus, em especial no caso dos pacientes de Covid-19, que estão internos para o tratamento da doença e não podem ter contato presencial com seus familiares. Na Rede Municipal de Saúde de João Pessoa, os hospitais de referência possibilitam o contato afetivo e virtual entre os pacientes e as famílias, fortalecendo o vínculo durante a internação.

De acordo com a diretora multiprofissional do Prontovida, Ana Carolina Acioly, os pacientes são constantemente observados e, estando bem clinicamente e emocionalmente, recebem uma chamada de vídeo para conversar com os parentes, junto à equipe de psicologia. “Com isso, buscamos minimizar a ansiedade, os medos e a saudade de seus familiares. Assim, o processo de internação se torna mais leve e humanizado, diante da realidade que estamos vivendo”, afirmou.

A servidora pública Rosângela Cristina de Lima, 59 anos, passou 23 dias internada no Hospital Prontovida após ter perdido o irmão para a Covid-19. Na unidade hospitalar, ela passou pela enfermaria e UTI e revela que os momentos mais difíceis na batalha contra a doença foram minimizados pelo contato com a família, proporcionado pelos profissionais de saúde.

“Poder ver minha família pelas vídeochamadas e a atenção recebida pela equipe me ajudaram muito, porque ficamos sem receber visita, e tudo isso faz com que a gente não se sinta tão sozinho. Os profissionais se empenham em cuidar da gente e acabam criando um vínculo conosco e com nossa família, contribuindo muito para nossa melhora”, lembrou Rosângela, que recebeu alta no dia 14 de abril, foi vacinada contra a doença no dia 1º de maio.

A filha de Rosângela, Nathália de Lima, recorda dos momentos de ansiedade enquanto a mãe estava internada e do apoio que recebeu dos profissionais. “Várias vezes cheguei chorando no hospital e a equipe de psicologia me acolhia. Por isso, agradeço a todos que possibilitaram as videochamadas, que passavam o boletim médico e tiravam nossas dúvidas. Enfim, agradeço a todos que cuidaram da minha mãe”, disse.

Vínculos fortalecidos – As videochamadas são utilizadas como recurso terapêutico para lidar com o isolamento imposto pela Covid, funcionando como uma forma de aproximação entre paciente, família e equipe profissional. A coordenadora de psicologia do Prontovida, Ludmila Ayres, explica que manter o vínculo afetivo do paciente, mesmo que de forma digital, é muito importante para a recuperação. “Saber que tem uma pessoa especial do outro lado da tela fortalece e motiva o paciente a enfrentar a doença”, afirmou.

“É uma ferramenta que compõe a escuta terapêutica do psicólogo e permite acessar informações sobre a história de vida do paciente, vínculos familiares, como ele se porta diante dos familiares e como a família está lidando com o processo de adoecimento”, complementou Larissa Rodrigues, psicóloga do Prontovida.

Outro paciente que também se comunicava com a família enquanto esteve internado no Prontovida foi o comerciante autônomo, Robson Borges, de 66 anos. “Era o meu momento de alegria, porque era uma satisfação muito grande poder vê-los pelo menos um pouco, já que não podiam estar perto de mim. As chamadas me ajudaram muito a melhorar”, contou.

A funcionária pública Janaína Sousa permaneceu 16 dias no Hospital Santa Isabel, paciente de Covid-19, sendo nove dias na UTI, e o contato virtual amenizou a angústia diária. “O primeiro contato com a minha família foi emocionante. E, mesmo quando não era dia de visita online, a equipe mantinha contato com meus familiares. Quero dizer o quanto fui tratada com humanidade e carinho”, ressaltou.

Para a coordenadora de psicologia do Hospital Santa Isabel, Emília de Araújo, a comunicação entre a ‘tríade paciente-equipe-família’ é o componente principal do cuidado em saúde. “Os recursos tecnológicos como as chamadas de vídeo em contexto Covid se tornaram fundamentais para mantermos uma comunicação segura e eficaz, minimizando a sensação de solidão do paciente e a ansiedade e saudades dos familiares. Para pacientes que estão mais graves e precisam ser sedados e intubados, e consequentemente não conseguem se comunicar, mediamos reprodução de áudios enviados pela família ao paciente. As mensagens são permeadas de afeto e fé”, afirmou.

“Mediar a comunicação entre pacientes e familiares é uma responsabilidade que eu assumo com muita satisfação, zelo e respeito. É no momento da ligação por videochamadas que o paciente me apresenta sua família e me deixa participar da sua intimidade familiar. Faço parte dos segredos, presencio promessas e estou nas despedidas”, concluiu Emília.

Projeto Portas Abertas – Entre várias formas de manter a aproximação entre paciente, família e profissionais, o Prontovida iniciou, recentemente, o Projeto Portas Abertas – Fortalecendo os Vínculos na Linha de Cuidado Covid-19, voltado para familiares e pacientes internos na UTI. O objetivo é incentivar o acolhimento familiar pela equipe multiprofissional da unidade hospitalar com o repasse do boletim médico do paciente de modo presencial.

O encontro entre a equipe multiprofissional (médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo e assistente social) e os familiares acontece uma vez por semana dentro de uma sala reservada. Na ocasião, é repassado como está o quadro clínico do paciente e são tiradas as dúvidas da família.

A primeira pessoa a ser atendida pelo novo projeto foi a feirante Mayana Belmiro, filha do paciente Manoel Belmiro, que está internado na UTI do hospital. Ela conta que o contato olho no olho dos profissionais que estão cuidando de seu pai aliviou a ansiedade vivida nesses últimos dias. “Nós, da família, ficamos apreensivos para receber notícia e é muito gratificante ter esse contato com as pessoas que estão batalhando para salvar a vida dele. Fiquei muito feliz em saber que eles estão realmente se importando com nossos sentimentos e dispostos a vivenciar, através do diálogo, o que estamos passando”, disse.

Prontuário afetivo – Para aqueles pacientes internados em UTI e que não podem se comunicar, os psicólogos utilizam, ainda, outra forma de aproximação com a família – o prontuário afetivo. No suporte psicológico ofertado aos familiares são identificadas e anotadas num papel algumas singularidades do paciente e, em seguida, o prontuário afetivo é fixado junto ao leito.

“Perguntamos sobre gostos, apelidos, família, desejos e hobbies com a finalidade de afinar a escuta terapêutica e trazer para a equipe informações sobre o paciente, indo além do nome, número de leito e informações clínicas”, explicou Mariana Montenegro, psicóloga do Prontovida.

O pai de Mayana, Manoel Belmiro, já tem o seu prontuário afetivo com todas as características que foram repassadas pela filha. “É muito bom saber que, quando ele acordar, vai saber que de alguma forma, mesmo que fisicamente distante, nós estamos pertinho dele”, comentou Mayana.

O recurso também é utilizado no Hospital Santa Isabel. “Uma ação simples se tornou um importante recurso de humanização em contexto Covid. Acreditamos que o paciente não é só um paciente, ele é o amor da vida de alguém”, afirmou Emília de Araújo, coordenadora de psicologia da unidade hospitalar.

Além das chamadas de vídeo com seus familiares, os pacientes recebem apoio psicológico e emocional durante toda sua internação. Para os familiares ficarem informados sobre o estado de saúde do paciente, a equipe multiprofissional informa o boletim médico, diariamente, por meio de ligação telefônica.

Rede integrada – Além do Prontovida e do Hospital Santa Isabel, o atendimento a pacientes com Covid-19 na Rede Municipal de Saúde também acontece no Hospital do Valentina, Ortotrauma de Mangabeira e nas quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), em Cruz das Armas, Valentina Figueiredo, Bancários e Jardim Oceania. Completam a rede de prevenção ao vírus as Unidades de Saúde da Família (USFs), que atendem aos casos leves de síndromes gripais.