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Psiquiatra explica como são as crises e o tratamento da síndrome do pânico
18/04/2022 / 09:31
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Taquicardia, sensação de falta de ar e medo de perder o controle são alguns dos sintomas do transtorno do pânico, popularmente conhecido como síndrome do pânico.

As crises costumam surgir no final da adolescência ou início da vida adulta e são mais frequentes em mulheres do que em homens, explica Álvaro Cabral Araújo, psiquiatra e pesquisador do Ambulatório de Ansiedade (AMBAN) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq/HC-FMUSP).

Muitas vezes, sem saber que estão enfrentando uma crise de pânico, os pacientes procuram um pronto-socorro achando que estão tendo um ataque cardíaco.

O diagnóstico de pânico é feito por um profissional da saúde mental —psiquiatra ou psicólogo— após descartar outras condições médicas, como hipertireoidismo e doenças cardiopulmonares.

“Cabe destacar que ataques de pânico, isoladamente, não caracterizam um transtorno de pânico e podem ocorrer em outros transtornos de ansiedade, além de outros transtornos mentais como, por exemplo, transtornos depressivos, transtorno de estresse pós-traumático e transtornos causados por uso de substâncias químicas”, ressalta Araújo.

O transtorno do pânico é definido quando, após uma crise, a pessoa passa a sentir medo constante de ter um novo ataque e muda sua rotina, deixando de sair de casa sozinha ou evitando situações que antes eram comuns, como dirigir, usar transporte público, ir à escola ou ao trabalho, por exemplo.

O tratamento é feito com psicoterapia e pode envolver o uso de medicamentos como antidepressivos e ansiolíticos.

“O tratamento auxilia no controle dos ataques de pânico e demais sintomas, permitindo que o indivíduo retorne à sua funcionalidade. O transtorno de pânico pode ter um curso crônico, requerendo um tratamento de longo prazo. Ainda assim, é possível conviver com o transtorno com raríssimas crises, preservando-se a qualidade de vida”, afirma Araújo.

Leia a seguir a entrevista com o psiquiatra.

O que é a síndrome do pânico?
A síndrome do pânico ou transtorno de pânico, nomenclatura usada pelos manuais diagnósticos, é um transtorno mental caracterizado por ataques de pânico recorrentes e inesperados que acabam por resultar em preocupações persistentes sobre a ocorrência e consequências de novos ataques ou mudanças desadaptativas do comportamento, que visam prevenir novos ataques.

Cabe destacar que ataques de pânico, isoladamente, não caracterizam um transtorno de pânico e podem ocorrer em outros transtornos de ansiedade, além de outros transtornos mentais como, por exemplo, transtornos depressivos, transtorno de estresse pós-traumático e transtornos causados por uso de substâncias químicas.

O que caracteriza um ataque de pânico? Quanto tempo costuma durar uma crise e o que acontece no cérebro da pessoa enquanto ela está tendo uma crise?
O ataque de pânico é caracterizado por um surto abrupto de medo ou desconforto intenso definido por sintomas físicos como palpitações, coração acelerado, transpiração, tremores, sensação de falta de ar, dor no peito, náuseas, tontura, calafrios e formigamentos.

Os sintomas são frequentemente acompanhados de medo de perder o controle, de enlouquecer ou de morrer. Em alguns casos, o indivíduo pode experimentar uma sensação de irrealidade, como se estivesse desconectado do próprio corpo ou do ambiente que o cerca.

Os ataques alcançam um pico em poucos minutos e têm duração limitada, habitualmente menos de 20 minutos. Embora os sintomas sejam extremamente desconfortáveis, não implicam em um risco de morte.

Do ponto de vista neurobiológico, os ataques de pânico envolvem a ativação de estruturas cerebrais envolvidas em reações de defesa e detecção de ameaças, como é o caso das amígdalas cerebrais. A disfunção dos circuitos do medo pode deflagrar reações físicas que nos preparam para enfrentar o perigo, como uma reação de luta ou de fuga.

Qual é a diferença entre o transtorno do pânico e o transtorno de ansiedade generalizada (TAG)?
O transtorno de pânico é caracterizado por manifestações súbitas de ansiedade, enquanto o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) tem características mais crônicas.

Indivíduos com TAG experimentam ansiedade e preocupação excessivas, persistentes e de difícil controle sobre diversas áreas da vida. A ansiedade costuma ser acompanhada por sintomas como inquietação, fadiga, dificuldade de concentração, tensão muscular e insônia.

É comum uma pessoa jovem, que nunca tenha tido um diagnóstico de TAG, depressão ou outro transtorno psicológico, sofrer uma crise de pânico sem nem saber direito do que se trata?
Sim. O transtorno de pânico costuma ter início entre o final da adolescência e o início da vida adulta. Os ataques de pânico costumam surgir de forma inesperada, sem a necessidade de um gatilho ou evento estressor específico.

Quais são os sintomas do TAG que o difere do pânico?
No TAG, a ansiedade e preocupação excessivas costumam ocorrer na maioria dos dias por pelo menos seis meses.

O indivíduo com TAG considera difícil controlar a ansiedade e a preocupação, que estão associadas a três ou mais dos seguintes seis sintomas, sendo que pelo menos alguns deles estão presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses: inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele, fatigabilidade, dificuldade para se concentrar ou sensações de “branco” na mente, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do sono.

A agorafobia é um dos sintomas típicos no pânico?
A agorafobia é um transtorno mental caracterizado por medo ou ansiedade marcantes acerca de situações das quais possa ser difícil escapar ou obter auxílio no caso de apresentar sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores.

As situações mais temidas costumam incluir o uso de transportes públicos, a permanência em espaços abertos ou fechados, a permanência em filas e sair de casa desacompanhado. Os indivíduos tendem a evitar essas situações ou as enfrenta com bastante sofrimento.

É muito comum que indivíduos com transtorno de pânico também apresentem agorafobia, mas esses quadros podem ser diagnosticados distintamente, havendo casos de agorafobia sem o transtorno de pânico.

Com o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, você tem percebido no IPq ou no atendimento clínico aumento de casos de agorafobia e crises de pânico, especialmente quando as pessoas começam a sair de casa e voltar às suas rotinas normais?
Estudos epidemiológicos em andamento procuram identificar se houve um aumento real dos casos de transtornos mentais com a pandemia da Covid-19.

A impressão que compartilho com alguns especialistas é de que a procura de atendimento devido a sintomas ansiosos e depressivos aumentou.

No momento em que a pessoa está passando por um ataque de pânico, o que ela pode fazer para ter mais segurança para enfrentar a crise?
Alguns exercícios de relaxamento, como a respiração diafragmática, podem ser usados durante a crise. É importante que o indivíduo evite a hiperventilação [respiração acelerada], pois ela pode agravar alguns sintomas físicos como a sensação de desmaio e formigamentos no corpo.

É sempre bom recordar que o ataque de pânico passará após alguns minutos e que não terá consequências mais graves —o indivíduo não morrerá, não perderá o controle ou chegará à loucura, que costumam ser os medos frequentes durante uma crise.

O uso de ansiolíticos, sempre sob prescrição médica, pode ser um recurso útil no controle das crises.

Como é feito o tratamento para o transtorno do pânico?
O tratamento do pânico inclui a psicoeducação acerca do transtorno, medicamentos, psicoterapia e atividades físicas aeróbicas.

Os medicamentos mais utilizados são os antidepressivos que, apesar do nome, são frequentemente empregados no tratamento dos transtornos de ansiedade e não promovem dependência.

Os ansiolíticos podem ser empregados na fase aguda do tratamento ou como medicação de urgência, mas o uso contínuo dessa classe de medicamentos é evitado devido ao risco de abuso e dependência.

Dentre as diversas abordagens de psicoterapia, as terapias cognitivo-comportamentais se destacam por produzirem maior número de estudos científicos que demonstram sua efetividade.

É possível se curar completamente do pânico ou é algo que a pessoa vai aprendendo a administrar e lidar ao longo da vida?
O tratamento auxilia no controle dos ataques de pânico e demais sintomas, permitindo que o indivíduo retorne à sua funcionalidade. O transtorno de pânico pode ter um curso crônico, requerendo um tratamento de longo prazo. Ainda assim, é possível conviver com o transtorno com raríssimas crises, preservando-se a qualidade de vida.

Há alimentos ou hábitos, como fumar e dormir pouco, que pioram o quadro do pânico?
Sedentarismo, sono insuficiente, uso de substâncias estimulantes como cafeína, nicotina e algumas drogas de abuso podem causar aumento da ansiedade e deflagrar o transtorno em pacientes que possuem predisposição para o quadro.

Por outro lado, existe algum tipo de alimentação e hábitos que podem melhorar o transtorno?
Hábitos saudáveis de vida, cuidados com o sono e alimentação, além da prática de atividades físicas aeróbicas são fortes aliados no enfrentamento da maioria das enfermidades, incluindo o transtorno de pânico.

Meditações e práticas de relaxamento também têm sido empregadas com bons resultados no tratamento de quadros ansiosos.

É verdade que o pânico é mais comum em mulheres do que em homens? Por quê?
Sim, mulheres são afetadas mais frequentemente do que os homens, em uma razão em torno de 2:1. Os motivos dessa diferença marcante entre as prevalências não são claros, podendo incluir fatores biológicos e socioculturais.

O pânico ocorre por um fator genético ou tem mais relação com o ambiente em que a pessoa vive? Por exemplo, um adolescente que enfrenta muitas cobranças da família ou que vive em uma família em que há muitas brigas em casa?
A causa dos transtornos mentais costuma ser multifatorial, envolvendo uma predisposição genética e fatores ambientais desencadeantes.

O pânico segue a mesma regra, é mais prevalente em indivíduos que possuem parentes de primeiro grau com o transtorno e pode ser desencadeado por períodos de maior exposição ao estresse.

Da Folha de S. Paulo