A vice-presidente Kamala Harris nunca se encontrou ou falou com o ex-presidente Donald Trump, mas a mulher responsável por suas preparações para debates passou muito tempo pensando em como responder ao que os candidatos republicanos dizem durante um confronto no palco.
Essa conselheira externa de Kamala, Karen L. Dunn, uma advogada influente de Washington, treinou candidatos presidenciais e vice-presidenciais democratas para debates em todas as eleições desde 2008.
Dunn é descrita por postulantes que treinou e por outras pessoas que trabalharam com ela como uma habilidosa manipuladora de políticos com ego inflado. Segundo relatos, tem a rara capacidade de dizer a eles o que estão fazendo de errado e como corrigir —e como injetar humor e humanidade para se vender aos eleitores que assistem ao debate.
“É uma combinação de amor duro”, disse Hillary Clinton, a quem Dunn ajudou a se preparar para debates presidenciais em 2008 e 2016, em entrevista na quinta-feira (5). “Ela não tem medo de dizer, ‘Isso não vai funcionar’, ou, ‘Isso não faz sentido’, ou, ‘Você pode fazer melhor’. Mas ela também oferece encorajamento, como, ‘Olha, acho que você está no caminho certo aqui’, e, ‘Você só precisa fazer mais disso’.”
A ascensão de Dunn como líder da equipe de debates de Kamala ocorre em um momento crítico tanto na corrida presidencial quanto na vida profissional.
Quando não está preparando os principais democratas para debates, Dunn é uma advogada de destaque para algumas das principais empresas de tecnologia dos Estados Unidos.
Nesta segunda-feira (9), Dunn comparecerá a um tribunal federal no estado da Virgínia, onde fará a argumentação inicial a favor do Google no segundo caso antitruste movido pelo governo federal contra o gigante do setor de tecnologia, que pode levar ao desmembramento da companhia. Na noite seguinte, na Filadélfia, Kamala enfrentará Trump no maior debate da carreira política da vice-presidente.
Os dois papéis refletem a ascensão de Dunn aos escalões mais altos das comunidades política e jurídica de Washington —e mostram o quanto os interesses comerciais e governamentais do país podem estar entrelaçados.
Dunn, 48, começou sua carreira na política trabalhando como assessora legislativa no Capitólio para uma deputada de Nova York. Em 1999, foi contratada como a segunda funcionária na campanha ao Senado de Hillary, em 2000. Ela se tornou diretora de comunicações e permaneceu no escritório da senadora, trabalhando ao lado dela durante e após os ataques terroristas de 11 de Setembro.
Ela deixou brevemente a política para estudar direito em Yale e trabalhou como assistente jurídica. Em 2008, preparou Barack Obama para os debates.
“Dunn é alguém que, como advogada, se preocupa com os detalhes, mas tem a capacidade em seu trabalho de comunicação de enxergar o quadro geral, e isso é realmente uma qualidade rara”, disse Hillary. “Se você está preparando um cliente para o tribunal, você tem que ser capaz de obter o melhor desempenho do seu cliente, e é a mesma coisa para um debate.”
Dunn voltou para ajudar Obama nos debates em 2012 e depois trabalhou com Hillary novamente antes dos debates durante as primárias e a eleição de 2016 —preparando-a para os três confrontos com Trump. Em seguida, liderou as sessões de treinamento de Kamala para o debate de 2020 com o vice-presidente Mike Pence.
A advogada, que não atendeu à reportagem, descreveu suas teorias de um debate político bem-sucedido em uma entrevista ao The New York Times em julho de 2019.
“Para ter vantagem em um debate, você realmente tem que interagir com a outra pessoa no palco de uma maneira que seja, de certa forma, um desafio para essa outra pessoa”, disse ela. “Se alguém vier para cima de você e você contra-atacar efetivamente, pode ganhar a disputa. Se você é considerado favorito e alguém te ataca, você contra-ataca e vence a troca, então você dominou aquele momento.”
Pessoas que participaram da preparação para debates com Dunn a descreveram como meticulosa não apenas sobre os materiais de briefing apresentados ao candidato e aos assessores da campanha, mas também obsessiva em evitar vazamentos das sessões.
Ela não circula materiais de debate eletronicamente, insistindo em que sejam impressos apenas para cada sessão de preparação. Em seguida, exige que cada participante destrua ou devolva os livros de briefing no final.
*The New York Times via Folha de São Paulo