O município de Alagoa Grande, no Agreste da Paraíba, admitiu ter realizado a aplicação de 72 doses vencidas de vacina AstraZeneca na população local. De acordo com a prefeitura, assim que percebeu o erro, há cerca de dois meses, o município entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde (SES) para relatar o problema e solicitar reforço na imunização.
A confirmação da Secretaria de Saúde de Alagoa Grande acontece após uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, veiculada nesta sexta-feira (2), mostrar que cerca de 26 mil doses de AstraZeneca fora da validade foram aplicadas em 1.532 municípios brasileiros. Na Paraíba, 253 pessoas teriam recebido as doses vencidas.
A apuração da Folha é baseada em dados oficiais do Ministério da Saúde, obtidos a partir de trabalho dos pesquisadores Sabine Righetti, da Unicamp, e Estêvão Gamba, da Unifesp. O levantamento mostra que o problema aconteceu com oito lotes diferentes de vacina. De acordo com os dados, Alagoa Grande é o município paraibano com o maior total de doses vencidas aplicadas (72).
Segundo o secretário de Saúde do município, André Fernandes, uma terceira dose está sendo aplicada nas pessoas que receberam imunizantes irregulares. ”Foi nos dado a informação, na semana passada, de que deveríamos refazer uma terceira dose. Nós começamos segunda-feira a refazer essas 72 doses e acreditamos que até o final da próxima semana, todas as 72 pessoas estarão vacinadas”, afirmou.
Secretaria de Estado da Saúde
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que todas as doses recebidas do Ministério da Saúde são entregues em até 24h aos municípios, “que são integralmente responsáveis pelo armazenamento, aplicação e informação aos sistemas de notificação do Ministério da Saúde”, diz o comunicado, acrescentando que orientações técnicas às equipes de vacinação ocorrem frequentemente.
A SES afirma que os municípios devem avaliar se o que aconteceu foi um erro de registro ou se as doses não foram aplicadas no tempo correto. A recomendação é que as pessoas que tenham recebido doses de AstraZeneca vencidas tomem a segunda parte da imunização, de acordo com a data marcada no cartão de vacinação.
Geraldo Medeiros, secretário estadual de Saúde, explica que o entendimento da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) é de que haja a aplicação da vacina novamente. Porém, ainda segundo ele, o Plano Nacional de Imunização (PNI) contra a covid-19 não tem um posicionamento definitivo sobre o assunto.
Ministério da Saúde
Por nota, o Ministério da Saúde disse que acompanha “rigorosamente todos os prazos de validade das vacinas Covid-19 recebidas e distribuídas” e que “as doses entregues para as centrais estaduais devem ser imediatamente enviadas aos municípios pelas gestões estaduais”.
De acordo com a pasta, cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto, acompanhamento da validade dos frascos e aplicação das doses, seguindo à risca as orientações do ministério.
João Pessoa e Campina Grande
Segundo a pesquisa, cinco pessoas tomaram doses vencidas em João Pessoa e 23 em Campina Grande. Através de notas, as prefeituras das duas cidades negaram as informações apresentadas pelo veículo de imprensa e afirmaram que em suas gestões nunca aconteceu aplicação de doses irregulares.
Para o chefe da Seção de Imunização na capital, Fernando Virgolino, o que ocorreu foi um erro de digitação no sistema Si-PNI.
“Há um rígido controle de verificação da validade dos lotes dos imunizantes. Nós recebemos, distribuímos e imediatamente são aplicadas as doses na população. Isto é um processo muito rápido”, diz.
De acordo com a Coordenação de Imunização do município de Campina Grande, houve uma “divergência entre o dia efetivo de aplicação e a data do cadastro no sistema, o Si-PNI, do Ministério da Saúde, sendo possível que o prazo de validade tenha expirado nesse intervalo. Contudo, o fato já foi notificado aos órgãos competentes”, afirma a nota, alegando que o município executa a aplicação “imediatamente após o recebimento das remessas de vacinas, sem abrir margem para o vencimento”.