Os brokers, dentre eles gerentes e gerentes select que atuam como tal, da Braiscompany, empresa de aluguel de criptomoedas sediada em Campina Grande alvo da Operação Halving da Polícia Federal, estão tentando apagar vestígios digitais das relações e ligações profissionais com a empresa de Antônio Neto Ais e Fabrícia Farias.
Entretanto, esses profissionais já integram o escopo da investigação do Ministério Público da Paraíba e são apontados como “indispensáveis” para os negócios sob suspeita da Braiscompany.
As ações para encobrir as relações com a empresa investigada por esquema de pirâmide são variadas: mudança de usuários, apagam citações na biografia, fotos e destaques estão sendo suprimidos, principalmente no Instagram. Além disso, perfis estão sendo privados (fechados, como é popularmente conhecido) e os comentários bloqueados.
De acordo com o MP, o broker é um “intermediário”, uma espécie de “corretor, para realização das operações de compra e venda que os investidores pretendem realizar”. Além disso, os brokers são apontados na investigação como captadores de clientes, quem arregimentam os investidores.
Para investimentos de grande porte, com cifras altas, o MP destaca que “a intermediação de um broker é indispensável”.
“Os clientes são arregimentados pelos brokers da BRAISCOMPANY, que são espécies de corretores/intermediários, cujo papel é o de ser intermediário na realização das operações de compra e venda que os investidores pretendem realizar. Em situações em que o valor e o volume das transações é alto, a intermediação de um broker é indispensável, visto que esta é a pessoa a quem o cliente acredita ter a expertise necessária para lidar com as criptomoedas investidas, sendo bastante persuasivos em convencer os pretensos investidores”, versa o MP na investigação.
As contas dos brokers que operam em exchanges, como a Binance, para a Braiscompany foram alvos de pedidos de bloqueios por parte do Ministério Público. Indicando assim a participação efetiva da classe nos negócios da empresa.
“Dessa forma, se faz urgente e necessário o bloqueio das contas existentes nas exchanges em nome de todos os brokers da BRAISCOMPANY. Em razão da obstaculização das informações por parte da empresa ré, se faz necessário igualmente a adoção de medidas cabíveis de urgência, para preservação de toda a coletividade. Não é possível, sem decisão judicial, mensurar todos os brokers que atuam na empresa BRAISCOMPANY, sendo de imperiosa relevância que seja determinado que tal informação seja prestada a fim de melhor elucidar os fatos”, diz o MP.
As investigações também apontam que os brokers são utilizados como subterfúgio da Braiscompany, num possível intuito de operar às margens da legislação sobre o mercado financeiro no país.
“No entanto, os atos da empresa ré são de tamanha relevância que, ainda que desnecessário, pois já configurada a circunstância ensejadora à aplicação da Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica, este Parquet demonstra ao longo desta exordial, o efetivo abuso da personalidade jurídica da empresa, operando, por diversas vezes, através de pessoas físicas, utilizando-se dos ‘brokers’ para realizar as operações”.
Justiça entende que brokers tinham responsabilidades na empresa
Denotando de forma direta que os brokers também são alvos de investigação, o MP solicitou à Braiscompany a “relação de brokers, contendo nome completo, CPF, telefone e endereço residencial, bem como o vínculo jurídico (contratual ou CLT)”.
Fotos em carros de luxo, uso de jatinhos, presença em imóveis de grande valia, usando relógios caros, viagens nacionais e internacionais, finais de semana em destinos paradisíacos, confraternizações pomposas.
Essa é uma pequena lista do que os brokers e gerentes compartilhavam em suas redes sociais, tudo de forma pública – até pouco tempo atrás.
Esse “estilo de vida de luxo dos brokers” foi destacado, e assim tachado, na investigação do Ministério Público.
Conforme a investigação, essas ações faziam “parte da estratégia de marketing e captação de clientes da empresa”, do qual os brokers também faziam parte, junto com os donos da BraisCompany, Antônio Neto Ais e Fabrícia Farias.
“Faz parte da estratégia de marketing e captação de clientes da empresa a divulgação de um estilo de vida de luxo dos brokers e dos sócios-administradores da BRAISCOMPANY, o casal Antônio Neto e Fabrícia, os quais comumente compartilham com os seus seguidores as viagens que fazem a destinos paradisíacos, a utilização de jatinhos, carros, marcas de luxo, imóveis de grande valia, tudo isso informado pela mensagem subliminar de que toda aquela riqueza foi alcançada a partir da utilização desse modelo de negócios que eles estão comercializando. Uma ação orquestrada para ludibriar o consumidor que, na maioria das vezes, não tem acesso a nenhum desses itens”, relata trecho da investigação.
Investidores lesados pela Braiscompany criaram um perfil intitulado “Brokers Braiscompany” no Instagram, para divulgar quem atuava fechando contratos para a corretora de criptoativos em todo país. O perfil está sendo divulgado em vários grupos de vítimas da empresa, e foi criado na quinta-feira (23). Até a tarde de sexta-feira (24) o @brokersbrais possuía 47 publicações e 21 seguidores.
Alguns nomes que desempenhavam essa função na Braiscompany já estão pedindo demissão em meio à crise que a empresa atravessa.
Uma broker que chegou a ser Top 3 nacional – uma das que mais fechou contratos – já se desligou há duas semanas. Outro broker de Fortaleza, onde a empresa tem subsidiária, anunciou seu desligamento, juntamente com a esposa, nesta sexta-feira (24).
Decisões recentes vêm no esteio da indicação do escritório de advocacia Orlando Virgínio Penha & Associados que representa a corretora, comunicada na quinta-feira (23), para que os funcionários busquem assessoria jurídica no intuito de encerrar suas relações profissionais com a Braiscompany.
Entretanto, ainda há brokers, gerentes e traders que seguem com ligações profissionais com a corretora de criptoativos, ou ao menos sem comunicar publicamente sua saída do negócio.