Como foi dito no debate da TV Manaíra, esse tipo de formato ainda mais no primeiro turno e com tantos participantes, costuma ser mais importante por eventuais deslizes ou destemperos dos candidatos do que pela discussão de propostas ou desempenhos brilhantes.
Como a campanha está só começando, a audiência é baixa, e o horário é ingrato. Pouca gente de fato vê, muitos eleitores recebem as informações pela repercussão dos portais, blogs e redes sociais.
Todavia, não se pode deixar de registrar o nível do debate da TV Arapuan, muito bem conduzido pelo jornalista Luis Torres. Eventuais desavenças são naturais e ocorrem aqui e em qualquer debate desse nível.
Aqueles que não dormiram e conseguiram assistir até o final viram momentos em que justificava estar acordado, embora quem deu alguns cochilos quando os nanicos falavam não perdeu muita coisa.
Os candidatos estão tateando e procurando seus caminhos. O governador nitidamente ainda não se encontrou. Não consegue se defender nem atacar. Tem dificuldades de se livrar dos questionamentos e pegadinhas a todo instante. Foi apelidado de Dr. Gerúndio pelo candidato Veneziano Vital.
Veneziano Vital, registre-se, conseguiu se posicionar melhor que no debate passado e Pedro Cunha Lima repetiu sua performance do debate da TV Maneira ao ser o mais regular entre os postulantes na maioria dos blocos.
Nilvan Ferreira até aqui joga para a plateia e cria expectativa de propostas que ficam no ar sem muita consistência.
Os nanicos, apesar de todo o esforço e mérito, ainda precisam evoluir muito. Desde a postura no púlpito, até o ordenamento de pensamento e ideias.
Três aspectos precisam ser observados: a nítida dobradinha entre os candidato do PL e do PSDB, as primeiras cutucadas entre Veneziano e Pedro e o esforço hercúleo do governador para tirar o carimbo de que não tem obras na gestão.
A seguir, uma análise do desempenho, sob o ponto de vista estratégico, de cada um dos participantes deste segundo debate campanha eleitoral de 2022.
Ao contrário do primeiro debate na TV Manaíra, o candidato Nilvan Ferreira começou de forma mais serena, apresentando-se de forma humilde e prometendo apresentar propostas reais. No primeiro bloco fez uma boa dobradinha sobre segurança pública com o candidato Pedro Cunha Lima destacando que presenciou em Patos comerciantes deixando um dinheiro no caixa reservado para os bandidos, realçando a falta de política nesse aspecto por parte do governo estadual. No segundo bloco, teve a oportunidade de enfrentar o governador João Azevedo e perguntou se este tendo sido auxiliar de Ricardo em todos os anos havia presenciado desvio de recursos públicos, obrigando João a ficar em cima do muro e tergiversar sobre a operação calvário. No mesmo tema, fez Azevedo aumentar o tom da voz ao acusá-lo de ser alvo de escutas ambientais comprometedoras. Na maioria das vezes, buscou associar-se ao bolsonarismo enfatizando ser contra o aborto e ao fechamento do comércio e das escolas. Ainda tem muitas dificuldades para se aprofundar nas propostas e nos números do Estado.
O candidato João Azevedo (PSB), começou o debate já se defendendo. Disse que sabia que era alvo de todos os concorrentes e apelou para que estes tentassem elevar o nível das discussões. Voltou a repetir os erros do debate da TV Manaíra, perdendo sucessivamente várias falas por desrespeitar o tempo estabelecido em cada bloco de perguntas. Desperdiçou chances de enfrentrar Veneziano, Pedro e Nilvan, em algumas ocasiões preferiu bater bater bola com os nanicos como ocorreu com o candidato Antonio Nascimento, abordando seu legado na cultura e, curiosamente foi talvez o momento em que ele ficou mais à vontade para mostrar os feitos do governo. Somente no embate com Pedro Cunha Lima, atentou para citar obras como as adutoras do Curimataú, Cariri e Brejo. No seu estilo de tom professoral tem encontrado visíveis dificuldades de defender seu legado como governador e mais uma vez não conseguiu sair das cordas durante o debate inteiro. Faltou-lhe firmeza, por exemplo, ao responder ao candidato Nilvan Ferreira sobre o envolvimento de Ricardo Coutinho na Calvário. Enrolou-se e não respondeu, preferindo devolver o petardo relembrando o famoso caso das lojas de Nilvan que foram fechadas por suposta falsidade na comercialização de marcas famosas. Chegou a subir o tom para responder que nunca em momento algum teve gravação citando seu nome na operação Calvário. No segundo bloco, ao ser questionado sobre a educação por Veneziano Veneziano disse que a Paraíba havia melhorado no Enem e no Sisu, mas não conseguiu detalhar em que aspecto e não trouxe números. Nem de longe, parece o engenheiro João Azevedo falante e com números na ponta da língua.
O candidato Pedro Cunha Lima (PSDB), abriu o debate assumindo publicamente que é questionador, talvez mandando um recado para quem quer impor uma caricatura no seu jeito de ser na política. Cirurgicamente citou seu companheiro de chapa Efraim Morais logo no primeiro bloco, mas omitiu o nome do vice, o ex-deputado Domiciano Cabral. Repetindo o ritmo do primeiro debate, partiu para cima do governador João Azevedo com números e sem alterar a voz. Atropelou o governador em várias ocasiões, uma delas na questão da obra da Transparaiba que se arrasta desde 2019, por falta de pagamento ao consórcio que ganhou a licitação e concluiu o raciocínio prometendo dar velocidade no aproveitamento das águas do Rio São Francisco no ritmo que as pessoas esperam. Relembrou que João Azevedo foi secretário de Recursos Hídricos por oito e governador por quase quatro anos e nesse período não foi capaz de aproveitar as águas do São Francisco que chegaram ao Estado pelos eixos Norte e Leste e ações que poderiam ocorrer de imediato como o ramal Piancó, como é o caso de Mauriti a Conceição, ainda estão em fase de promessas. Emparedou o governador ainda mais ao dizer que não faz sentido uma região como o Brejo não ter açude para manter o abastecimento em períodos de estiagem. Deixou o candidato do PSB ofegante ao dizer que não é admissível que ele esteja há doze anos e ainda chega ao debate dizendo o que vai fazer. Só mudou o tom quando foi cutucado duas vezes por Veneziano Vital.
O candidato Veneziano Vital do Rêgo (MDB), começou o debate nitidamente mais para cima e esboçando até um leve sorriso no rosto. Fez questão de reafirmar seu compromisso em combater a fome e estava mais solto no púlpito. Seu ponto alto foi quando manobrou seu vocabulário em direção ao governador João Azevedo perguntando quantos Centros de Formação Olímpica ele havia inaugurado em sua gestão, obrigando-o a emudecer e se virar, falando de pandemia e velocidade na gestão. No contraponto, lembrou que João não fez nenhum ginásio dos nove anunciados, e destacou que ele está sendo conhecido como o governador do gerúndio. Bem mais concentrado em relação ao debate da TV Manaíra, resgatou a informação de que Azevedo teve as contas rejeitadas, entre outros motivos, por não ter investido no setor de educação. Lembrou que a Paraíba ocupa um vergonhoso décimo sétimo lugar no Ideb, o que não foi contestado. Também jogou João nas cordas ao acusar que este acabou as parcerias com os times profissionais e amadores da Paraíba. Surpreendentemente, fustigou em duas oportunidades o candidato Pedro Cunha Lima, em uma delas lembrando que o candidato tucano votou contra o pacote de bondades do presidente Jair Bolsonaro. No final, fez questão de mencionar sua companheira de chapa Maísa Cartaxo e Ricardo Coutinho, postulante ao senado.
A candidata do PSOL Adjany Simplicio manteve sua postura de gentileza com todos os concorrentes sem deixar de apresentar suas propostas e ideias. Defendeu a autonomia financeiro do Estado, mas preservando de forma gradual as pessoas que ganham menos e buscando diminuir a desigualdade social. Lembrou da importância da participaçao das mulheres na disputa e teve uma desenvoltura mais firme que os demais candidatos nanicos. Até ela fustigou o governador João Azevedo, insinuando que seu palanque está recheado de bolsonaristas.
Com um óculos cujas lentes reluziam nas luzes do estúdio, iniciou o debate mais uma vez prometendo criar um comitê de segurança diretamente ligado ao governador, para fiscalizar todos os investimentos do Estado. Em muitas ocasiões sua fala lembrava mais um posicionamento para o parlamento do que para o executivo. E, não perdeu a oportunidade de bater forte em praticamente todos os concorrentes. Lembrou sua trajetória militar, talvez por isso se pareça mais com um delegado do que um candidato ao governo.
Bem no estilo alternativo do PSTU, criticou a segurança pública, o feminicídio e a morte de negros. Lembrou que o ICMS é um absurdo e tem aumentado desde 2019 no atual governo de João Azevedo. Lamentou a falta de políticas públicas nas áreas de educação, saúde e moradia e alfinetou as oligarquias paraibanas que se revezam no poder de pai para filho.