João Pessoa 31.13ºC
Campina Grande 29.9ºC
Patos 35.96ºC
IBOVESPA 122102.15
Euro 6.3412
Dólar 6.085
Peso 0.006
Yuan 0.8344
ANTÓNIO COSTA: Quem é o socialista pragmático que vai governar Portugal sozinho
31/01/2022 / 23:00
Compartilhe:

Quando partidos da esquerda portuguesa decidiram tirar o apoio ao Partido Socialista (PS) e acabar com a “Geringonça”, a improvável aliança política que sustentava o primeiro-ministro António Costa no poder, poucos acreditariam que aconteceria exatamente o oposto e a decisão o fortaleceria.

Três meses depois, contrariando todas as pesquisas, o PS foi o grande vencedor da eleição de domingo (30), conquistando maioria absoluta no Parlamento de Portugual, e agora António Costa poderá governar sem a necessidade de alianças.

Os socialistas superaram todas as previsões e conquistaram 117 das 230 cadeiras do Parlamento (veja no vídeo abaixo), uma maioria absoluta que permitirá a Costa não só aprovar o Orçamento rejeitado em outubro como cumprir o sonho de governar sozinho.

Mas não foi assim que o advogado de 60 anos, origem indiana, cabelos brancos e óculos de aro fino chegou a poder. Pragmático, Costa virou primeiro-ministro de Portugal graças à esquerda radical.

“Foi graças ao pacto inédito entre socialistas, esquerda radical e comunistas, que ficou conhecido como “Geringonça”, que o ex-vereador e ex-prefeito de Lisboa chegou ao poder em 2015, após eleições que tinha perdido”.

Amante da cozinha, do cinema e do fado, Costa conquistou enorme popularidade. Ele aproveitou a recuperação econômica do país em seu primeiro mandato de quatro anos para eliminar as medidas de austeridade implementadas pela direita em troca do resgate concedido pelo bloco europeu em 2011.

Mas o socialista, que é torcedor do Benfica, casado com uma professora e pai de dois filhos, continuou saneando as contas públicas de Portugal, para ajustá-las às normas orçamentárias europeias, e venceu a eleição legislativa de 2019.

Sem maioria absoluta, Costa manteve a “Geringonça” em pé até outubro de 2021, quando a rejeição do Orçamento desencadeou as eleições (que só ocorreriam em 2023), e o primeiro-ministro português mais longevo desde a Revolução dos Cravos teve de colocar o seu mandato à prova.

Seus antigos aliados não escondem sua desconfiança com o político, e alguns veem nele “um obstáculo” para uma nova aliança com a esquerda. embora ele já tenha dito que “todo mundo sabe que sou um homem de diálogo e compromisso”.

O presidente de Portugal, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, que foi professor de Costa na faculdade de Direito em Lisboa, debochou certa vez de seu ex-aluno e seu “otimismo crônico e um pouco incômodo”. Costa respondeu dizendo ter um “otimismo militante”.

Origem indiana

 

Perseverante, António Costa construiu uma carreira com a mesma paciência que demonstra ao montar quebra-cabeças, seu passatempo favorito.

Nascido em 17 de julho de 1961, em Lisboa, o político é descendente de uma grande família de Goa, antiga área de influência de Portugal na Índia.

Ele cresceu nos círculos intelectuais frequentados por seus pais, a jornalista socialista Maria Antonia Palla e o escritor comunista Orlando da Costa. Seu meio-irmão, Ricardo Costa, é sete anos mais novo e um jornalista influente em Portugal.

Aos 14 anos, “Babush” (que significa “menino” em konkani, o idioma de Goa) se engajou na Juventude Socialista e diz na época ter sofrido mais com o divórcio dos pais do que com a cor da sua pele.

Costa se formou em Direito e Ciência Política e tornou-se advogado em 1988. Em 1995, foi nomeado aos 34 anos secretário de Estado para Assuntos Parlamentares, um cargo-chave no governo minoritário de António Guterres. Em 1999, se tornou ministro da Justiça do país.

António Guterres é, atualmente, o secretário-geral das Nações Unidas (cargo máximo da ONU).

Depois de um breve período no Parlamento Europeu, Costa voltou ao seu país em 2005 como ministro do Interior, mas deixou o governo dois anos depois para disputar a prefeitura de Lisboa, onde deu seus primeiros passos à frente de uma união da esquerda e consolidou sua popularidade.

O cargo de prefeito da capital portuguesa também lhe permitiu se distanciar do ex-primeiro-ministro José Sócrates, afastado do poder em 2011 e depois processado por corrupção em novembro de 2014, ano em que Costa chegou ao topo do Partido Socialista — cargo que ocupa até hoje.

G1