Bianca Andrade tem muitos lados. Em um momento ela pode estar protestando no telefone se algo sai do seu controle e no outro com um largo sorriso falando sobre sua marca, a Boca Rosa. Essa dualidade a inspirou a mudar completamente a estética de seus produtos de maquiagem e, segundo ela, é o que caracteriza sua nova fase de mulher empreendedora e à frente de seus negócios.
“A partir do momento que tomei conta da minha marca, tudo mudou. Desde o lançamento até o desenvolvimento de novos produtos, tudo só aconteceu porque eu era dona do negócio”, diz a empresária e influenciadora de beleza de 29 anos.
Antes de voar solo, a empresária ficou por cinco anos em uma parceria com a Payot, empresa do ramo da beleza. Agora ela diz estar em busca de novos desafios e problemas, além de provar que suas decisões fazem sentido.
Para 2025, a nova empreitada de Bianca projeta um faturamento de R$ 300 milhões, com um crescimento esperado de 30% em relação a 2024. Em 2024, já investiu R$ 17 milhões dos R$ 30 milhões planejados, e prevê injetar R$ 60 milhões no próximo ano.
O ecommerce deve representar 30% das vendas. A maior meta de vendas para o varejo (B2B), de R$ 15 milhões, foi atingida antes mesmo do lançamento da nova marca, com a pré-venda. Com a Payot em 2023, o faturamento foi de R$ 180 milhões.
A projeção da Boca Rosa reflete o crescimento mundial do setor de cosméticos. De acordo com a Euromonitor International, a indústria que abarca itens que vão de maquiagem a cuidados faciais acumulou uma receita de US$ 617,2 bilhões em 2023. Para 2024, a projeção é de alta de 9%, e o setor deve chegar aos US$ 670,8 bilhões em receita no fim deste ano.
Bianca está à frente de todos os processos de lançamento da sua nova linha, que traz 50 tons de base para o seu catálogo, a primeira marca brasileira a fazer isso. Tal feito surge de uma vontade de Bianca de trazer diversidade e mostrar consciência social. Atrelado a isso, Bianca vira a bola da vez na internet, área em que ela conquistou sua fama.
Pipocaram vídeos nas redes sociais de consumidores que receberam a maquiagem da pré-venda reportando problemas na embalagem e no produto. Com tanta reclamação, a marca Boca Rosa e a própria Bianca vieram à público pedir desculpas e adiaram o lançamento oficial da nova linha, que aconteceria no dia 10 de julho.
Para seus lançamentos, Bianca pensou em produtos multifuncionais que focam praticidade, como o formato stick. Ela diz acreditar que a inovação dentro do setor da beleza vem de fazer o que ninguém mais está fazendo —não necessariamente algo novo, mas que deixou de ser feito. Como o pó compacto, item que também gerou crítica e discussão nas redes sociais, mas que Bianca defende como sendo mais prático do que o pó solto.
Ela diz que a Boca Rosa é a marca do básico e essencial e prefere investir nesse tipo de maquiagem, que, segundo ela, foi esquecido em meio a tanta ênfase em produtos específicos. “Quando falamos de inovação e tendências em um mercado saturado, principalmente por causa do digital, é importante estudar o comportamento das pessoas”, completa a CEO.
Essa praticidade vem do entendimento de que as mulheres, no dia a dia, aprendem a se maquiar de maneira rápida e mal têm tempo de pensar em maquiagem. “Muitas influenciadoras ensinam maquiagem dentro do seu privilégio, com câmeras e luzes maravilhosas, gavetas cheias de produtos”, afirma.
Mas a marca recebeu críticas em relação pelo preço, considerado caro para algumas pessoas, e pelas embalagens, que consumidoras acharam frágeis. Bianca diz que a produção teve um custo alto.
“Investimos em pesquisa, logística e contratação dos melhores profissionais. Queremos trazer qualidade global a preços acessíveis, sem posicionar a marca apenas pelo preço. Cada decisão é tomada com muito respeito e antecedência”, afirma.
Seu maior orgulho, diz, é lançar uma ampla gama de tons de base. Não que seja uma inovação em si, e a própria Bianca sabe disso. No mercado há brasileiros que já vêm trabalhando com bases em cores mais diversas há alguns anos, como a maquiadora Daniele Damata e a Rosangela Silva, da marca Negra Rosa.
“O que faço com a Boca Rosa não é uma coisa revolucionária”, diz. “O que eu gostaria era que já tivesse sido feito lá atrás, para a gente estar falando de novas revoluções agora, de coisas muito mais adiantadas.”
Para pensar em seu produto e garantir que as cores fossem adequadas, Bianca fez um colaboração com o consultor de beleza Tássio Santos, dono do portal Herdeira da Beleza. “Trabalhar com o Tássio foi fundamental. Ele testou as cores nas condições climáticas da Bahia e ajustamos os produtos conforme necessário”, diz ela. Fazer isso sem a expertise dele, ela afirma, não faria sentido. “Eu jamais vou colocar uma pessoa de pele branca para desenvolver produto para pessoas de pele preta sabendo da dor que é o nosso mercado, do quanto o mercado não tem essa experiência.”
Ela conta que, durante o processo de produção da base, questionou desenvolvedores se eles já tinham trabalhado com produtos para peles negras, e muitos disseram que não. O motivo? “Falta de intencionalidade, de responsabilidade social”, diz ela.
Um argumento comum na indústria é de que maquiagem para pessoas negras não vende. Bianca rebate essa ideia ao ter as tonalidades mais escuras de sua linha esgotadas.
A empresária conta que agora, após o lançamento, é preciso fazer com que os produtos cheguem até essas mulheres.
“Estou brigando muito com as lojas. Muitos querem vender só nove tons e ponto. Na hora de falar de brasilidade, todo mundo quer. Mas e como a gente está levando essa diversidade para o Brasil, como está ensinando as mulheres a escolherem os tons delas?”
Outra estratégia para tentar atingir essas pessoas foi enviar kits exclusivos para as influenciadoras de pele negra, garantindo que elas fossem as primeiras a testar e fazer resenhas dos produtos.
Com Folha