CAROLINA LINHARES E JOELMIR TAVARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) evolui de forma satisfatória, mas não tem previsão de alta, segundo boletim médico divulgado nesta quinta-feira (15), por volta das 12h, pelo hospital Vila Nova Star, onde ele está internado em São Paulo.
Bolsonaro apresenta uma obstrução no intestino, o que gerou acúmulo de líquido no estômago e dores abdominais. A complicação se soma a outros momentos de internação do presidente após a facada sofrida em 2018.
O boletim afirma que Bolsonaro está “evoluindo de forma satisfatória clínico e laboratorialmente”. O hospital informou ainda que o tratamento permanece o mesmo, ou seja, não há ainda a previsão de uma cirurgia -a ideia é tentar resolver a obstrução com procedimentos menos invasivos.
“Permanece o planejamento terapêutico previamente estabelecido”, diz a nota assinada pelo médico Antônio Luiz Macedo, responsável pelo tratamento intestinal de Bolsonaro, e outros quatro médicos da equipe.
Na manhã desta quinta, antes do boletim, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgou em seu canal no Telegram um vídeo em que comenta o estado de saúde do pai e diz torcer para que uma cirurgia não seja necessária.
Segundo Eduardo, Bolsonaro tem no hospital a companhia do filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro pelo Republicanos, e da mulher, Michelle Bolsonaro.
O deputado afirmou haver uma dobra ou aderência no intestino de Bolsonaro que impede a passagem de alimentos. Ele explicou que o entupimento causou acúmulo de líquido no estômago, o que gerou dores abdominais ao presidente. “Foi retirado um litro de líquido do estômago”, disse.
Durante a manhã, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho mais velho de Bolsonaro, publicou que o presidente “evoluiu para melhor, acordou bem disposto e, a continuar assim, não precisará fazer cirurgia!”.
Seguindo a linha de politizar a situação de saúde de Bolsonaro a partir do atentado sofrido em 2018, Flávio tuitou a hashtag “quem mandou matar Bolsonaro”.
Também no fim da manhã, três mulheres vestidas de verde e amarelo deixaram uma carta para Bolsonaro na recepção do hospital.
Por volta das 14h40, o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, deixou o hospital e não deu declarações. Ele chegou por volta das 11h30 para despachar com Bolsonaro.
Pouco depois, Heleno escreveu em uma rede social que a situação do presidente é boa e tem evoluído positivamente. “Ele passa bem, mas continuará a fazer alguns exames e avaliações. Sua recuperação tem sido acima do esperado, graças a Deus e às orações dos amigos e amigas”, afirmou.
Na madrugada de quarta, Bolsonaro foi ao Hospital das Forças Armadas, em Brasília, de onde foi transferido por orientação do médico Macedo.
Eduardo afirmou haver esperança de que o bloqueio se desfaça naturalmente, sem a necessidade de nova cirurgia. Desde o atentado na campanha presidencial, Bolsonaro já foi submetido a algumas cirurgias.
O deputado informou ainda que Bolsonaro não poderá comparecer à motociata marcada para sexta (16), em Manaus. O filho do presidente disse que ele estava “baqueado” na quarta, mas que Bolsonaro “não para de trabalhar, é workaholic, mas vai ter que dar um tempinho”.
Na quarta à tarde, Bolsonaro falou nas redes sociais sobre seu estado de saúde. No momento em que acena com uma trégua no discurso radical e nos ataques aos Poderes, ele aproveitou para criticar o PT e o PSOL, seus adversários políticos.
“Mais um desafio, consequência da tentativa de assassinato promovida por antigo filiado ao PSOL, braço esquerdo do PT, para impedir a vitória de milhões de brasileiros que queriam mudanças para o Brasil. Um atentado cruel não só contra mim, mas contra a nossa democracia”, escreveu.
“Peço a cada um que está lendo essa mensagem que jamais desista das nossas cores, dos nossos valores! Temos riquezas e um povo maravilhoso que nenhum país no mundo tem. Com honestidade, com honra e com Deus no coração é possível mudar a realidade do nosso Brasil. Assim seguirei!”
No texto, com forte conotação política, Bolsonaro afirmou que pretende seguir atuando para “tirar o país de vez das garras da corrupção, da inversão de valores, do crime organizado, e para garantir e proteger a liberdade”.
A internação ocorre após o presidente escalar a retórica golpista. Nos últimos dias, ele questionou a lisura das eleições, criticou as urnas eletrônicas e disse que, sem voto auditável, não haverá pleito em 2022.
Na última segunda-feira (12), ele ensaiou uma trégua e moderou suas declarações golpistas. Também aceitou participar de um encontro com os chefes dos demais Poderes nesta quarta, mas a reunião foi cancelada diante da internação hospitalar.
O presidente também se vê cercado pelo avanço da CPI da Covid no Senado, que apura ações e omissões do governo federal na pandemia. Soma-se ainda a queda de popularidade. Pesquisa Datafolha realizada no início deste mês apontou que a reprovação a Bolsonaro chegou a 51%, um novo recorde para ele.