BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a contestar nesta quarta-feira (28) o foco da CPI da Covid no Senado.
Ao interagir com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a distorcer o tratamento ineficaz com cloroquina e voltou a dizer que quer ser o último brasileiro a se vacinar.
“Você vê: essa CPI vai investigar o quê? Eu dei dinheiro para os caras. No total, foram mais de R$ 700 bilhões, auxílio emergencial no meio. Muitos roubaram dinheiro, desviaram”, disse Bolsonaro, fazendo menção genérica a prefeitos e governadores.
“Agora, vem uma CPI para querer investigar conduta minha? Se ele foi favorável à cloroquina ou não. Pô, se eu tiver um novo vírus aí, eu vou vou tomar de novo, eu me safei em menos de 24 horas, assim como milhões de pessoas”, prosseguiu o presidente, ignorando que não há evidência científica de que o remédio que defende seja útil no enfrentamento à doença.
A comissão parlamentar de inquérito foi instalada na terça-feira (27) no Senado, confirmando nos postos mais importantes da comissão parlamentares independentes ou de oposição ao governo.
Numa derrota para o Palácio do Planalto, Renan Calheiros (MDB-AL) foi indicado relator pelo presidente eleito do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), após seguidas tentativas de aliados de Bolsonaro de minar a CPI, que terá duração inicial de 90 dias -podendo ser prorrogada por um igual período.
Logo após assumir o posto, Renan fez forte discurso com recados ao governo, ataques ao negacionismo durante a pandemia e a defesa de que culpados existem e devem ser punidos “emblematicamente”.
Ao deixar o Alvorada, Bolsonaro participou de reunião do comitê de enfrentamento à Covid, mas não apareceu para o pronunciamento à imprensa no Palácio da Alvorada. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por sua vez, teve que responder aos jornalistas sobre a CPI.
“A CPI, isso é uma atribuição do Parlamento. Se eles me convocam, eu vou lá. E vou discutir abertamente o que eu tenho feito no Ministério da Saúde”, disse Queiroga. “Vamos contribuir com a sociedade brasileira, vamos prestar as informações que os senhores senadores desejarem. Estamos todos juntos no objetivo do enfrentamento da pandemia”, afirmou o ministro da Saúde.
Os ministros da Saúde devem ser convocados à CPI em ordem cronológica. O primeiro, que deve prestar depoimento na próxima semana, é Henrique Mandetta, que chefiou a pasta no início da pandemia, em 2020.
Ainda na porta do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro voltou a dizer que só será imunizado “quando o último brasileiro tomar vacina”.
“Eu sou chefe de Estado, tenho que dar exemplo. O meu exemplo é este: já que não tem para todo mundo ainda, o mundo todo não tem vacina ainda, tome na minha frente”, afirmou.
A declaração foi dada ao lado do ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos. No dia anterior, Ramos disse em uma reunião que tomou escondido a vacina contra a Covid-19 e que Bolsonaro está com a vida em risco. Para não perder o mandatário para o coronavírus, o auxiliar afirmou que está tentando convencê-lo a tomar a vacina.
Bolsonaro também voltou a criticar prefeitos e governadores por causa de medidas restritivas adotadas para conter a pandemia.
“Falam tanto em Constituição, né? Os que defendem a Constituição falam tanto, e está lá, estuprado o artigo 5º da Constituição. Os caras têm mais poder, um simples decreto, mais poder que um estado de sítio”, afirmou Bolsonaro.
O artigo 5º da Constituição diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.