Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, liderou uma comitiva a Nova Délhi, na Índia, na qual participaram integrantes do Ministério das Relações Exteriores, da Economia, da Empresa de Pesquisa Energética, além de empresários brasileiros dos setores de biocombustíveis, automotivo, petróleo e gás.
Durante a semana, a comitiva brasileira participou de encontros e reuniões com altas autoridades do governo indiano. A missão faz parte de um trabalho de relações amigáveis e construtivas entre os dois países, que visam a colaboração para o impulsionamento do setor sucroenergético, dos veículos flex, da bioenergia e da redução das emissões poluentes. Os brasileiros também aproveitaram a oportunidade para trocar experiências nos negócios e se aprofundar na cultura indiana.
Como resultado dos encontros, firmou-se a continuidade da cooperação de interesses público-privados de ambos os lados para avançar na questão dos biocombustíveis e motores flex de última geração.
Segundo o governo brasileiro, a EPE, o MME e o NITI Aayog, instituição governamental indiana de referência em planejamento e estudos de apoio às políticas públicas, irão estabelecer um programa de trabalho conjunto para aproximar os respectivos planejamentos energéticos, bem como fomentar intercâmbio de conhecimento em políticas na área de biocombustíveis.
Missão dá novo patamar à aliança Brasil-Índia
A Índia é o quinto parceiro comercial do Brasil. Nesta missão, os dois países trocaram impressões sobre os mercados internacionais de energia e discutiram também o aumento da demanda energética e a necessidade de diversificação de fontes.
A declaração ministerial conjunta aprovada na ocasião lançou as bases para uma “Aliança Brasil-Índia em Bioenergia e Biocombustíveis”, que irá fortalecer a cooperação entre os setores privados sucroenergético e automotivo dos dois países.
De acordo com o Jornal Valor Econômico, dirigentes empresariais do setor sucroenergético (Unica, Copersucar, Bunge/BP, entre outros) e automotivo (Volkswagen, Toyota, Stellantis e Abraciclo/Yamaha), além da Petrobras, fizeram parte da delegação liderada pelo ministro.
Para o presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool na Paraíba (Sindalcool-PB), Edmundo Barbosa, ficou registrada mais uma vitória na abertura de mercados com as ações articuladas entre os produtores de etanol, representados pelo Fórum Nacional Sucroenergético e a Unica, junto com as indústrias automobilísticas brasileiras.
“O etanol e a tecnologia brasileira dos motores flex deverão reduzir a poluição em cidades da Índia. Agora, com a Aliança Brasil-Índia em Bioenergia e Biocombustíveis, o intercâmbio possibilitará maior desenvolvimento da produção de etanol na Índia e relações ainda melhores entre a indústria automobilística e o setor sucroenergético brasileiro, juntos pela mobilidade sustentável”, disse Barbosa.
Contexto indiano
A Índia, que tem cerca de 1,38 bilhão de habitantes (2020), abriga 22 das 30 cidades mais poluídas do mundo. O ar poluído é responsável pelas mortes de cerca de 1 milhão de pessoas a cada ano no país asiático. Os indianos anteciparam para 2025 o aumento do blend do etanol na gasolina de 10% para 20%.
Cerca de 70% da população indiana vive no campo e uma parte importante ainda não possui eletricidade. Na Índia, há 40 milhões de veículos de quatro rodas que são movidos à gasolina e 220 milhões de veículos de duas e três rodas. Cerca de dois terços do consumo de gasolina são desses veículos de duas e três rodas e um terço é dos demais de quatro rodas.
A ampla experiência do Brasil com o setor sucroenergético e uso de bicombustíveis irá ajudar no desenvolvimento da cultura da cana na Índia, assim como a redução da poluição do ar.
“Todas as montadoras internacionais de veículos disputam o mercado da Índia, há duas grandes empresas nacionais, uma delas é a Tata Motors. Há muita oportunidade com o uso do etanol. Porém, ainda há muitos mitos que precisam ser vencidos. Um deles é o do motor dos veículos leves e seu funcionamento com 20% de etanol anidro e o outro é sobre irrigação. Cerca de 70% das culturas irrigadas na Índia são de cana, eles utilizam métodos de irrigação arcaicos, por inundação, ou seja, gastam muita água. Por isso, a parceria com o Brasil vai ajudar na troca de experiências e em procedimentos mais eficazes e sustentáveis”, ressaltou Edmundo Barbosa.
Segundo relatório recente da Agência Internacional de Energia (AIE), o país asiático deverá se tornar o terceiro mercado mundial de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil até 2026.
A crescente adoção do etanol na Índia cria um leque de oportunidade de negócios para o Brasil com o país asiático.