SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Três brasileiras levaram o país ao lugar mais alto do pódio paralímpico de forma inédita neste domingo (29), quinto dia de competições das Paralimpíadas de Tóquio e o segundo mais produtivo para a delegação nacional, com quatro ouros e sete medalhas no total.
Mariana D’Andrea conquistou a primeira medalha de ouro do halterofilismo brasileiro na história, Alana Maldonado tornou-se a primeira mulher campeã paralímpica de judô pelo país e a nadadora Carol Santiago levou a sua primeira medalha dourada, nos 50 m livre classe S13, quebrando jejum de 17 anos da natação feminina.
Das piscinas saiu ainda um quarto ouro, da revelação Gabriel Araújo nos 200 m livre classe S2.
A nadadora Beatriz Carneiro ficou com a medalha de bronze nos 100 m peito classe S14, assim como Meg Emmerich no judô. Outro bronze foi com Renê Pereira, no remo.
O Brasil soma 30 medalhas em Tóquio: 10 ouros, 5 pratas e 15 bronzes, na sexta posição do quadro geral.
Maria Carolina Gomes Santiago conquistou a medalha de ouro nos 50 m livre da classe S13 (deficiência visual). A pernambucana de 36 anos fez o tempo de 26s82 e quebrou o recorde paralímpico da classe S12, à qual pertence (há junções de classes funcionais em algumas provas, e por isso Carol enxergava menos que as suas principais rivais).
Foi a primeira medalha dourada da natação feminina do Brasil desde os Jogos de Atenas-2004.
Carol, que também é recordista mundial, com 26s72, participa pela primeira vez dos Jogos e já tinha sido medalhista de bronze nos 100 m costas.
“Estou emocionada. Tenho recebido muito carinho. Quando terminei a prova, soube que tinha ganhado porque ouvi o pessoal gritando o meu nome. Agradeço a todos pela torcida e pelos brasileiros que têm chorado e dado risadas com a gente”, disse a nadadora.
Outro estreante, Gabriel Geraldo Araújo, 19, também chegou ao topo do pódio, com o ouro na prova dos 200 m livre classe S2 (deficiências físicas severas).
Com o tempo de 4min6s52, ele chegou bem à frente do segundo colocado, o chileno Alberto Abarza (4min14s17). O também brasileiro Bruno Becker terminou em quarto.
O mineiro de Santa Luzia que treina no clube Bom Pastor, de Juiz de Fora, já havia levado a prata nos 100 m costas.
O momento da vitória agora para vocês apreciarem junto comigo! Vai, Gabriel 💚💛 pic.twitter.com/qb7n3GWqbW
— Comitê Paralímpico Brasileiro (@BraParalimpico) August 29, 2021
Na ocasião, dedicou a conquista ao avô, que havia morrido na semana anterior, e anunciou que sua história paralímpica estava só começando. “Vou buscar a tão sonhada medalha de ouro”, projetou.
Neste domingo, cumpriu. “Espero que esse seja o primeiro de muitos outros. Era isso que eu queria. Foi para isso que eu vim. Consegui baixar o meu tempo, fiz o novo recorde das Américas. Treinamos forte, estava tudo controlado, eu sabia o que fazer e o resultado veio. Não existe emoção maior”, comemorou.
Entre os 234 atletas com deficiência que disputarão os Jogos Paralímpicos de Tóquio pelo Brasil, 68 são das chamadas “classes baixas”, com deficiência mais severas. Gabriel tem focomelia, doença congênita que afeta a formação de braços e pernas.
O mineiro não possui os braços, por isso larga com assistência de uma pessoa posicionada fora da piscina e conta com sua grande capacidade nas pernas e de ondulação para superar os rivais.
A paranaense Beatriz Borges Carneiro, 23, conquistou o bronze para o Brasil nos 100 m peito, classe SB14. Ela terminou a final com o tempo de 1min17s61. Débora Borges Carneiro, gêmea de Beatriz, ficou com a quarta colocação, a apenas 0s02 da irmã.
Gêmeas que nascem juntas, nadam juntas! ❤️
Beatriz Carneiro ficou na 3ª colocação, enquanto Debora, na 4ª, apenas 2 centésimos atrás da irmã. Isso que é estar alinhadas!
Parabéns, meninas! #ParalimpicoEmToquio pic.twitter.com/LUotLFqPPH
— Comitê Paralímpico Brasileiro (@BraParalimpico) August 29, 2021
Judô tem primeiro ouro feminino e fecha com 3 medalhas
O grito de comemoração de Alana Maldonado ecoou pelo mítico Nippon Budokan, templo do judô em Tóquio, quando a decisão da medalha de ouro da categoria até 70 kg chegou ao fim.
A brasileira de 26 anos venceu Ina Kaldani, da Geórgia, por wazari e conquistou sua segunda medalha paralímpica, após a prata no Rio de Janeiro em 2016.
Campeã mundial em 2018 e líder do ranking, Alana confirma o favoritismo e se consolida como um dos grandes nomes da modalidade. Foi a primeira medalha de ouro do Brasil no judô paralímpico conquistada por alguém além de Antônio Tenório, tetracampeão dos Jogos.
“Não caiu a ficha ainda. Queria fazer história, conquistar o primeiro ouro do judô feminino, assim como foi no Mundial”, disse Alana ao SporTV.
Nascida em Tupã (SP), ela descobriu a doença de Stargardt, que leva à perda de visão progressiva, aos 14 anos. Alana, que já praticava judô, iniciou sua trajetória no esporte adaptado em 2014, quando entrou na faculdade.
A paulistana Meg Emmerich, 34, levou a medalha de bronze na categoria acima de 70 kg do judô após vencer Altantsetseg Nyamaa, da Mongólia.
“Estou muito feliz que a equipe feminina mandou bem na competição, trazendo três medalhas para o Brasil”, afirmou ao SporTV.
Lúcia Araújo, bronze no sábado (28), fechou o trio de medalhistas do judô brasileiro em Tóquio.
Após vencer Covid, Antônio Tenório luta, mas fica sem medalha
Antônio Tenório, 50, tetracampeão paralímpico e dono de seis medalhas nos Jogos, perdeu a disputa pela medalha de bronze da categoria até 100 kg para o uzbeque Sharif Khalilov.
Ele havia aplicado um wazari logo com oito segundos de luta e vencia o combate até cinco segundos do seu fim, mas levou um wazari do adversário, que foi para o tudo ou nada. No tempo extra, o brasileiro, 19 anos mais velho que o rival, pareceu sentir mais o cansaço e acabou levando um segundo wazari, que encerrou a luta.
Tenório conseguiu ir ao Japão após passar por um quadro grave de Covid-19 em abril. Ele ficou internado por duas semanas na UTI, com mais de 80% dos pulmões comprometidos.
“A sensação é a de ter nascido novamente, a de ter ganhado vários Jogos Paralímpicos contra a Covid-19”, afirmou ao receber alta.
É a primeira vez que ele fica sem medalha numa edição de Jogos Paralímpicos, após subir no pódio desde Atlanta-1996. Antes mesmo da participação em Tóquio, Tenório já afirmava que pretendia lutar em Paris-2024, quando terá 53 anos.
“A história ninguém apaga. Depois de ter contraído Covid, 85% do pulmão comprometido, é uma grande vitória. Foi erro meu nas duas lutas [que perdeu], assumo isso. [Mas] só de Deus me trazer aqui, para mim está ótimo. Agora é focar, voltar para o Brasil, fazer um check-up e me preparar para o próximo ciclo. Vou tentar recuperar o pódio”, disse.
Força de Mariana resulta em ouro inédito no halterofilismo
A brasileira Mariana D’Andrea conquistou a medalha de ouro no halterofilismo, categoria até 73 kg. Ela levantou 137 kg na terceira tentativa e garantiu o título.
“Esperava muito por este momento. Não tem gratidão maior do que ganhar esta medalha após cinco anos de treinamento. Agradeço a todos pela torcida e pela oração. Quero deixar registrado aqui que, se você tem sonho, corra atrás dos seus objetivos e os conquiste”, disse Mariana, responsável pelo primeiro ouro do Brasil no esporte e segunda medalha em geral. Evânio Rodrigues da Silva foi prata em 2016.
Mariana, que tem nanismo, começou a praticar halterofilismo em 2015. Natural de Itu (SP), ela foi ouro nos Jogos Parapan-americanos de Lima, em 2019, e atualmente lidera o ranking mundial.
No halterofilismo paralímpico, competem pessoas que possuem deficiência nos membros inferiores.
Renê rema para sua primeira medalha
Renê Pereira conquistou a medalha de bronze no remo dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. O baiano de 41 anos ficou em terceiro no single sculls, em que o remador utiliza dois remos curtos.
Na categoria PR1, remadores com função mínima ou nenhuma função de tronco impulsionam o barco principalmente por meio de braço e ombro. Eles são amarrados ao assento.
Renê, que é médico e jogou futebol em categorias de base na Bahia, teve diagnóstico de abcesso epidural (o que levou à perda do movimento nas pernas) em 2006 e começou a praticar remo em 2012.
Brasil vence China no futebol de 5 e inicia campanha pelo penta
A seleção brasileira iniciou a sua caminhada em busca do penta paralímpico no futebol de 5 (para cegos) com uma vitória sobre a China por 3 a 0. O resultado colocou o Brasil na segunda posição do Grupo A, atrás do Japão, que fizeram 4 a 0 na França. Os gols do Brasil foram marcados por Nonato (2) e Cássio, de pênalti.
O futebol de 5 estreou nos Jogos Paralímpicos em Atenas-2004 e, desde então, o Brasil conquistou todas as medalhas de ouro.
A seleção brasileira volta a jogar contra o Japão em uma briga pela liderança do grupo. O duelo está marcado para as 23h30 deste domingo.
Brasil goleia Japão no goalball masculino e termina fase de grupos em 2º
A seleção brasileira masculina goleou o Japão por 8 a 3 na última partida da fase de grupos no goalball, resultado que firmou a equipe na segunda posição do Grupo A, atrás apenas dos japoneses.
Tanto Brasil quanto Japão terminaram com três vitórias e uma derrota, e nove pontos conquistados. O critério de desempate foi o saldo de gols, de 22 para os japoneses contra 18 dos brasileiros.
A seleção brasileira volta a jogar nas quartas de final na terça-feira (31) com horário e adversário a definir.