As tensões que se espraiam a partir da guerra na Ucrânia foram sentidas de forma aguda na Suécia nesta quarta (2): quatro aviões de combate russos violaram o espaço aéreo do país nórdico por alguns momentos, gerando protestos em Estocolmo.
O incidente ocorreu quando dois caças Su-27 e dois caças-bombardeiros Su-24 entraram sobre a região da ilha de Gotland, um ponto estratégico e militarizado pelos suecos no mar Báltico.
Segundo o Ministério da Defesa, caças Gripen foram enviados para a área, mas os invasores já haviam saído. Ou foi um teste da rapidez sueca ou um erro. “À luz da situação corrente, nós vemos o evento muito seriamente”, disseram as Forças Armadas em nota. “É claro que é completamente inaceitável”, disse à agência TT o ministro Peter Hultqvist, que irá fazer uma queixa formal a Moscou.
Casos como esse são relativamente comuns, mas raramente com a invasão do espaço aéreo. Aviões de lado a lado testam a rapidez de reação do adversário —isso na Europa, no Pacífico, no polo Norte. Só que o conflito que se vê na Ucrânia é algo sem paralelo desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
A situação tem levado a diversas especulações acerca da ampliação do embate entre Moscou e Washington e seus aliados da Otan, a aliança militar ocidental. A Suécia não faz parte do clube largamente para não antagonizar a Rússia, assim como a vizinha Finlândia, mas opera em consonância com suas diretrizes operacionais.
Nesta quarta (2), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou em uma entrevista coletiva que “ninguém ganha uma guerra nuclear, todos perdem”. É uma obviedade, tanto que os países detentores da bomba no Conselho da Segurança das Nações Unidas assinaram documento se comprometendo a não iniciar um conflito atômico, mas mostra o ponto da crise.
Em Moscou, o seu colega Serguei Lavrov concedeu uma entrevista à rede árabe Al Jazeera e ressaltou que “uma Terceira Guerra Mundial seria muito destrutiva e nuclear”. Novamente, um preocupante truísmo por quem está no meio de uma invasão militar de um vizinho.
No domingo (27), Vladimir Putin havia puxado essa carta atômica do baralho, colocando em alerta máximo suas forças estratégicas. Na prática, isso significa que os caminhos burocráticos entre a ordem de lançar uma ogiva nuclear e os militares na ponta estão encurtados, e o sistema, online, por assim dizer.
Segundo Putin, foi uma resposta à reação de autoridades da Otan em relação à guerra que iniciara na quinta (24). Naquele dia, ele já havia advertido os ocidentais para ficar fora do conflito, sob pena de sofrer consequências inéditas —uma nada sutil forma de dizer que poderia usar a bomba.
Rússia e EUA concentram 90% das ogivas nucleares do mundo, uma herança da primeira Guerra Fria, mais do que suficientes para pôr um fim à humanidade. Até aqui, americanos e aliados têm insistido em que não cruzarão as fronteiras ucranianas, justamente para evitar um confronto com os russos.
A intimidação nuclear de Putin pode ser só o que parece, mas o fato é que o tema de uma Terceira Guerra Mundial agora frequenta o noticiário como não ocorria desde os anos da União Soviética.
Folha