Para muitas pessoas, a cafeína, composto químico presente em bebidas como o café, é considerada uma substância psicoestimulante capaz de melhorar os parâmetros cognitivos. No entanto, uma pesquisa realizada na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) revelou que, nas mulheres que apresentam a síndrome pré-menstrual, conhecida como TPM, a ingestão de cafeína não altera as habilidades cognitivas de concentração e atenção.
Os resultados da pesquisa foram divulgados neste mês na revista Elsevier, em um artigo intitulado “Estudo da influência de genótipos da CYP1A2 na interação com cafeína em parâmetros cognitivos em mulheres em idade fértil portadoras de síndrome pré-menstrual – um estudo crossover”. A publicação foi baseada na dissertação da discente Renata Lira de Assis, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição (PPGCN) da UFPB, com a contribuição dos professores Darlene Persuhn, Carla Minervino e Josean Tavares.
A pesquisa foi realizada com 30 mulheres com idades entre 19 e 40 anos, usuárias crônicas de café e portadores de síndrome pré-menstrual (TPM). Elas foram divididas em dois grupos. O primeiro grupo de mulheres tomou uma cápsula com 200 miligramas (mg) de cafeína em sua composição. A outra metade recebeu placebo, ou seja, cápsulas constituídas de amido, que não produziam nenhuma ação. Em cada um deles, cerca de 50% das participantes possuíam o gene CYP1A12, que é responsável por metabolizar a cafeína no organismo. O objetivo era verificar a influência da atuação desse gene nos dois grupos de voluntárias.
Todas as participantes ficaram em abstinência de 24 horas da cafeína. Após a ingestão das pílulas, as voluntárias foram submetidas a testes de concentração e memória. Além dos testes cognitivos, foram verificadas a pressão arterial e a frequência cardíaca para controle da abstinência da cafeína. Um teste de saliva também foi realizado, a fim de comprovar a privação do uso da cafeína durante as 24 horas. Somado a isso, também houve avaliação de marcadores hepáticos e avaliação de índice de massa corporal para controlar possíveis mudanças nas mulheres.
O resultado da pesquisa concluiu que a ingestão aguda de cafeína, após o período de 24 horas de abstinência, não alterou de maneira significativa a atenção ou memória das participantes, independentemente da presença do gene CYP1A2.
De acordo com a pesquisadora Renata Lira, a hipótese dos pesquisadores é de que a ingestão de cafeína surte efeitos apenas em atividades que mesclam a habilidade de atenção com movimento, fatores medidos por meio de testes psicomotores, e não nas atividades que exigem apenas atenção, que foi um dos objetivos de estudo da pesquisa, através de testes que abordaram apenas aspectos psicológicos.
“Outro ponto que influenciou na ausência de efeitos pela cafeína na atenção e memória foi a quantidade do composto que foi ingerida. Alguns estudos mostram que, dependendo da intensidade de consumo de cafeína, podem ocorrer ou não essas alterações. Com isso, para reduzir esse efeito, nós padronizamos a quantidade mínima de cafeína ingerida pelas participantes”, explica a cientista.
No artigo, apesar do resultado concluir que a cafeína não altera as habilidades cognitivas das mulheres, os autores ressaltam a necessidade de novas investigações que precisam ser levantadas sobre o consumo da cafeína por mulheres.
Além do PPGCN, a pesquisa foi realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (PPgPNSB) e do Instituto de Pesquisa de Fármacos e Medicamentos (IpeFarM). Os estudantes de graduação Matheus Paiva, Caroline Assis, Tainá Diniz, Bruno Sousa, Vinícius Martins, Enéas Gomes, Marcelo Silva, Yuri Nascimento e Evandro Silva também contribuíram com o estudo.