Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), as vendas mundiais de carros elétricos puros (bateria e plug-in) tiveram aumento de 140% no primeiro quadrimestre deste ano em países que utilizam carvão para geração elétrica e energia nuclear. Só na China, foi registrado um crescimento de 300% nas vendas. Os dados mostram um aceno para se chegar a uma realidade desejável: a descarbonização das economias e a transição da indústria automotiva para a mobilidade elétrica, sem emissões poluentes.
Entretanto, o carro elétrico convencional enfrenta dificuldades para ser implementado em todas as partes do mundo e ser considerado uma solução de baixo carbono.
Durante o Simpósio de Eficiência Energética, Emissões e Combustíveis, realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), a problemática foi abordada durante a exposição do presidente do ECB Group, Erasmo Batistella. “Ainda bem que não temos tanto carro elétrico no Brasil, senão teríamos que escolher ligar entre o liquidificador, o chuveiro ou o carro elétrico, pois, atualmente, por questões climáticas, corremos o risco de entrar em um racionamento de energia, mas espero que isso não aconteça”, apontou o dirigente.
Ainda segundo Erasmo, no Brasil terá espaço para os elétricos, mas a indústria automobilística tem feito indicações de que o carro elétrico não seja a melhor solução para todos os lugares do mundo.
Além dos problemas que afetam o fornecimento e distribuição de energia elétrica no país, pela realidade social, os veículos elétricos (plug-in e bateria) seriam extremamente caros para a renda do brasileiro.
“Eu participei de um evento internacional no qual havia produtores de metais e minerais e um dos produtores de cobre falou muito claro que, pela demanda de metais que aconteceria nos próximos anos, haveria um aumento muito significativo nos custos de metais nobres para a fabricação de baterias. São desafios que certamente os veículos elétricos têm a enfrentar, assim como a reutilização de sua bateria”, disse Batistettla.
As soluções para o futuro são resoluções que levam a sociedade para uma situação de baixo carbono. Apesar de não poluir com emissões de dióxido de carbono (CO2), os especialistas apontam que a produção das baterias dos carros elétricos, assim como sua recarga, podem gerar emissões. Na China e na Alemanha, por exemplo, a maior parte da geração de energia vem de usinas de carvão, uma das fontes mais poluidoras de energia.
O consultor associado da Bright Consulting Ricardo Abreu, que também participou do simpósio virtual promovido pela AEA, destacou a importância de priorizar o conceito “poço-à roda”, que leva em conta todo o ciclo de CO2 emitido por um determinado combustível – desde a sua produção, passando pela distribuição, até chegar no uso do veículo.
“A eletrificação é inexorável. É fato que isso acontecerá através de motores elétricos. No entanto, isso não significa que isso seja tão eficiente do ponto de vista ambiental. Isso depende muito da pegada de carbono, do combustível, do energético que estamos utilizando. Estou me referindo principalmente à questão ambiental global, aos gases de efeito estufa. Se o veículo for movido a hidrogênio, mas se o hidrogênio não vier de uma fonte sustentável, não é vantajoso. Da mesma forma, um veículo movido a bateria, no qual a bateria não vem de baixo carbono, também não será vantajoso. O mesmo acontece com um motor a combustão, se o combustível a ser utilizado não tiver baixa intensidade de carbono. É importante que o baixo carbono esteja presente em todo o ciclo de vida, tem que ser sustentável”, argumentou Abreu.
Brasil pode ganhar protagonismo mundial com biocombustíveis
No ano passado, o Brasil chegou a produzir cerca de 40 bilhões de litros de biocombustíveis (biodiesel, etanol anidro e hidratado). Além de oferecer combustíveis com baixa pegada de carbono para a mobilidade veicular, a produção dos biocombustíveis gera energia elétrica através da biomassa. Segundo o consultor Ricardo Abreu, o Brasil pode ganhar protagonismo mundial através dos biocombustíveis.
“O mundo começa a se voltar para o poço-à-roda. No Brasil, temos uma situação favorável, pois temos uma matriz energética limpa, portanto, produzir veículos no Brasil é muito interessante. É uma vantagem competitiva que temos que explorar. Hoje, nós utilizamos o etanol, que gera biomassa, e que tem um potencial enorme de energia para geração de baixo carbono. Estamos fazendo um grande esforço para oferecer biocombustíveis, então eles têm que ser a bola da vez quando se fizer um plano de eficiência energética ou para a redução de poluentes”, disse Abreu.
“Já temos a primazia de ter essas reservas no mundo, cabe a nós fazer esse desenvolvimento. Mas, o futuro será plural, todas as alternativas terão o caminho e uma função. O que mais interessa nesse momento, é a sustentabilidade, garantir a permanência do ser humano na Terra e também um bem-estar social”, finalizou Ricardo.
Nissan anuncia renovação de parceria para desenvolvimento de célula de combustível movida a etanol
No dia 14 de junho, a Nissan anunciou a renovação da parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para a continuidade do projeto de veículo elétrico movido a célula de combustível abastecida com etanol, uma solução doméstica endossada pelo setor sucroenergético brasileiro.
A tecnologia da Célula de Combustível de Óxido Sólido (SOFC), que também está sendo estudada por outras montadoras, produz energia elétrica por meio de reação química utilizando etanol e elimina a necessidade de recarga das baterias do carro por fonte externa. A autonomia fica em torno de 600 quilômetros e, além do etanol, o sistema também poderá ser usado gás natural e biogás. Segundo previsão da Nissan, o desenvolvimento da tecnologia deverá estar concluído por volta de 2025.
O presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado da Paraíba (Sindalcool-PB), Edmundo Barbosa, ressalta que a indústria automotiva brasileira deverá ganhar espaço com o etanol, um biocombustível rico em hidrogênio, que garantirá mais autonomia aos veículos sem gerar emissões.
“A indústria automotiva brasileira deve ganhar muito mais espaço nos mercados internacionais por produzir tecnologia para veículos abastecidos com etanol. A experiência de 18 anos da tecnologia Flex reduziu os custos de garantia, ou seja, o desembolso das montadoras por defeitos em motores e componentes. No Brasil, se pode evitar a energia fóssil que vem do carvão e do petróleo usando o etanol para completar o tanque. O etanol contém hidrogênio, o super combustível três vezes mais potente em energia. Todos reconhecem que nunca foi tão urgente evitar a poluição. O hidrogênio verde é a solução. Nos próximos anos, os veículos populares mais avançados deverão usar etanol para produzir hidrogênio verde e assim acionar o motor elétrico sem precisar sobrecarregar a conta de energia elétrica. A Mobilidade Sustentável é a nossa causa, a sua, a minha, a causa do etanol”, argumentou Barbosa.