Há uma forte expectativa sobre o anúncio do governo federal, nos próximos dias, que trata da redução dos preços dos automóveis zero quilômetro no Brasil.
De acordo com a apuração do InfoMoney, em conversa reservada com autoridades que participavam do 5º Fórum Paulista de Desenvolvimento, Alckmin disse que será lançado um programa que vai incluir a redução de impostos, para baratear o custo dos carros zero quilômetro.
O vice-presidente indicou que a desoneração da carga tributária deve valer para veículos abaixo de R$ 100 mil.
O governo federal estava pensando na volta do “carro popular”. Para Besaliel Botelho, da Bright Consulting, uma consultoria especializada para o setor automotivo, é preciso entender do que se trata o conceito de “carro popular”.
“O carro popular não tem nada a ver com o motor, se ele é a etanol, se ele é a gasolina, ou se ele é flex. O carro popular é um conceito usado lá atrás, com veículos de aceleração de baixa cilindrada (1.0), no qual você deixava o carro com as funções básicas, o que colocava bastante em risco a questão da segurança porque não tinha air bag ou outras funções relacionadas à segurança”, disse Botelho.
De acordo com Besaliel, nessa época, os carros populares, que foram uma onda em países como o Brasil e a Índia, custavam cerca de R$ 7 mil dólares e tinham o objetivo de beneficiar pessoas da classe D e E.
Para o especialista, o que encarece os veículos no Brasil são aspectos como impostos e cadeia logística.
Botelho não acredita na volta do carro popular. “Eu, pessoalmente, não acredito na volta desse conceito porque você dá um pouco mais de mobilidade à população que não tem condições de ter a mobilidade”, disse o consultor.
“Por isso, sou muito mais a favor da mobilidade segura e eficiente . Nós temos que fazer com que o país se desenvolva economicamente com emprego, etc, para as pessoas terem condições de comprar veículos que tenham mobilidade, que tenham eficiência, que tenham segurança e que sejam bons para a mobilidade das pessoas”, finalizou Botelho.
A ONU tem metas de descarbonização que preveem a redução das emissões de carbono em 50% até 2050.
Para o engenheiro mecânico Ricardo Abreu, que é consultor da UNICA para assuntos de mobilidade e conselheiro da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), é imprescindível a descarbonização do setor automotivo aliada à acessibilidade.
“Nós estamos precisando de uma mobilidade sustentável, que seja descarbonizando o ambiente, mas que também seja acessível e que promova o desenvolvimento econômico do país. Qualquer solução que se encaixe nesses três parâmetros deve ser considerada de um ponto de vista de um veículo de mobilidade sustentável”, disse Abreu.
Para isso, o engenheiro considera que deve haver um esforço mútuo do governo, da indústria automobilística e da indústria bioenergética.
“Todos os artífices deveriam participar desse esforço. O governo, traçando um programa e gerando incentivos; as indústrias, desenvolvendo e produzindo veículos; a indústria bioenergética, gerando a quantidade de energético para que isso aconteça, seja ele etanol, biodiesel, bioetanol, eletricidade renovável, todos esses energéticos de baixo carbono deveriam ser considerados; e também, os distribuidores de veículos, que vão ter a responsabilidade de trabalhar com um preço mais baixo, deve apresentar uma margem absoluta mais baixa nessa cadeia de distribuição”, afirmou Ricardo.
Os produtores de etanol, biocombustível que é usado tanto no blend da gasolina no Brasil, quanto como combustível comum, estão se articulando para haja políticas públicas para a mobilidade sustentável.
“A política de redução de impostos para a indústria automobilística no segundo ciclo do Rota 2030, deve incluir no cálculo o consumo de combustível e as emissões de CO2 dos veículos. A partir deste ano, espera-se que o governo inclua no cômputo a pegada de dióxido de carbono desde a origem da produção dos combustíveis, e que os veículos com menores emissões tenham maiores reduções de impostos”, disse Edmundo Barbosa, presidente-executivo do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado da Paraíba (Sindalcool-PB).
“Com isso, ao invés de considerar só as ‘cilindradas’ do motor, defendemos que a conta inclua também a emissão de CO2 desde a produção e distribuição do combustível, ou energia elétrica, no caso dos modelos eletrificados”, comentou o executivo.
Para Barbosa, o Brasil tem potencial para se colocar na vanguarda da transição energética.
“O Brasil deverá assumir a vanguarda como o primeiro país do mundo a colocar em prática uma política pública mais abrangente da eficiência energética dos carros em sintonia com a transição energética. O carro popular poderá custar menos ao consumidor e ganhará em valor, e terá melhor competitividade no mercado internacional”, finalizou.