Dívidas em queda, mas crédito caro ainda é problema entre brasileiros
A inadimplência entre os brasileiros segue em alta, de acordo com dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Quatro em cada dez brasileiros estavam com as contas em atraso e não tinham dinheiro sequer para conseguir um desconto no IPVA pagando à vista.
Para completar, a inadimplência atingiu mais de 66 milhões de pessoas em março deste ano – um triste recorde. O valor é quase 10% maior do que o registrado em 2018, quando a inadimplência atingiu 61 milhões de pessoas. E o cartão de crédito segue como o maior vilão, representando a maior parte das contas em atraso dos brasileiros.
Mas o que significam esses dados e quão responsável é o cartão de crédito no descontrole financeiro das pessoas?
A princípio, os dados da pesquisa do SPC mostram algumas melhoras em termos de endividamento. Entre os brasileiros que se consideram “um pouco endividados”, por exemplo, o percentual chegou a 46% em 2023, contra 47% em 2022 e 54% em 2021. Portanto, uma grande redução no curto prazo.
No entanto, os demais índices registraram uma piora significativa de 2021 para cá, como o percentual de brasileiros “muito endividados”, que aumentou de 18% em 2021 para 22% em 2023, e chegou a 23% em 2022. Cerca de 35% dos entrevistados revelaram possuir pelo menos uma conta atrasada.
Por fim, há o percentual de brasileiros que se consideram “nada endividados”, ou seja, que estão com as contas organizadas. E de acordo com a pesquisa, o percentual era de 27% em 2021 e chegou a 30% em 2022, mas subiu para 32% este ano. O percentual de pessoas que não têm dívidas também subiu, atingindo 29% este ano contra 18% em 2021.
Isso significa que houve algum avanço, visto que grande parte dos brasileiros conseguiu pagar suas contas e equilibrar o orçamento. Nesse sentido, a quantidade de brasileiros que possuem dívidas, mas não estão em atraso também caiu, atingindo 36% este ano contra 46% em 2021.
Como era de se esperar, os maiores “vilões” do endividamento dos brasileiros são justamente as dívidas mais caras do mercado. Ou seja, o cartão de crédito e o cheque especial, cujos juros facilmente ultrapassam os 300% ao ano. Quando mal utilizados, estes métodos podem causar enormes prejuízos financeiros.
Nesse sentido, a pesquisa do SPC aponta que 72% dos brasileiros colocam o cartão de crédito como o principal responsável pelas contas em atraso. Apesar de liderar o ranking, houve uma queda em relação a 2021, quando 81% das pessoas colocaram a culpa dos atrasos no cartão.
Em segundo lugar ficou o desemprego, já que sem trabalho as pessoas não conseguem arcar com os compromissos mensais. Para 44% dos brasileiros, o desemprego é o maior responsável pelo endividamento, percentual que caiu de 65% em 2021.
Por fim, o cheque especial ficou em terceiro lugar apontado por 37% dos brasileiros como o maior vilão. No entanto, ele teve o maior aumento percentual, já que apenas 17% apontaram o cheque especial em 2021. Esse aumento indica que a modalidade – a mais cara do mercado – voltou a despontar como uma alternativa de financiamento para muitas pessoas.
No entanto, a conta que os brasileiros mais atrasaram em 2023 foi a do cartão de crédito, com 41% dos entrevistados afirmando que pagaram a fatura fora da data de vencimento. Em seguida veio a conta de Internet, que 32% dos brasileiros pagaram em atraso.
Para se ter uma ideia, a taxa de juros do cartão de crédito rotativo subiu seis pontos percentuais em fevereiro, atingindo 417,4% ao ano. O cheque especial atingiu valores ainda mais altos, o que faz de ambas as dívidas mais caras do mercado.
Por isso, uma dívida no cartão ou no cheque especial rapidamente se transforma em um problema, pois os juros criam um efeito destrutivo. Para se ter uma ideia, uma dívida de R$ 1.000 a essa taxa de juros pode virar mais de R$ 5.000 em apenas um ano.
Por isso, quem não consegue controlar seus gastos no cartão deve repensar e parar de utilizar a ferramenta, pelo menos por um tempo. Dessa forma, a dívida pelo menos deixa de crescer e permite que o cliente possa negociar algum tipo de parcelamento com a empresa.