O Fla-Flu chegou aos tribunais. O clássico entre Flamengo e Fluminense aconteceu em 6 de fevereiro, mas seus reflexos estão presentes até este momento — tanto que a entrega da Taça Guanabara em caso de título tricolor neste sábado esteve ameaçada. No Tribunal de Justiça Desportiva do Rio (TJD-RJ), duas denúncias são apuradas: o suposto caso de homofobia da torcida rubro-negra e o de racismo contra Gabigol, sendo que este ganhou maior atenção devido às suas possíveis consequências.
Ao órgão, o Flamengo entregou um laudo assinado pelo perito Ricardo Molina, que afirma que o atacante teria sido chamado de “macaco” — o tricolor foi enquadrado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Já o contratado pelo Fluminense, assinado pela perita Valeria Leal, garante que as palavras são inconclusivas.
O GLOBO teve acesso aos laudos e, para entender as divergências entre eles, convidou um terceiro perito que, em sua conclusão, deixou claro que ambos têm embasamento técnico, embora apresente diferenças. Além disso, vale ressaltar que, mesmo que tenham chegado a conclusões distintas, ambos os documentos têm o mesmo valor e estão sendo analisados pelo TJD-RJ, que ainda não anunciou se vai julgar o caso.
Equipe precisa corrigir erros até dia 20, quando pega o Atlético-MG na Supercopa Foto: MARCELO THEOBALD / Agência O Globo
Flamengo saiu de campo derrotado. Equipe precisa corrigir erros até dia 20, quando pega o Atlético-MG na Supercopa Foto: MARCELO THEOBALD / Agência O Globo
O convidado foi Danilo Gil Figueiredo, de 35 anos, que é fonoaudiólogo, perito judicial desde 2013 e formado no Conselho Nacional dos Peritos Judiciais. Também atua como professor universitário da disciplina da Fonoaudiologia Forense em Salvador e é atuante com análise e monitoramento de áudio e voz. A pedido da reportagem, passou quatro dias analisando os documentos e concluiu algumas diferenças entre eles.
De acordo com o perito, um dos motivos que pode ter causado essa diferença nas conclusões é o tempo para apresentação do arquivo aos clubes — e posteriormente ao TJD-RJ. No caso do contratado pelo Flamengo, as datas no documento mostram que o trabalho feito por Ricardo Molina foi findado em menos de 24 horas. No do requerido pelo Fluminense, de Valeria Leal, houve mais tempo para produção.
— O laudo apresentado pelo Flamengo exibe uma informação preliminar importante. O arquivo é nomeado com “VID-20220209-WA0015” sendo possível identificar o dia, mês e ano de envio do material, e conclui-se que o envio do material ocorreu no dia 09/02/2022. O referido laudo foi assinado nesta mesma data, o que revela que o todo do trabalho foi findado em menos de 24 horas. Ao verificar o laudo apresentado pelo Fluminense, observa-se a assinatura na data 22/2/2022, ou seja, 13 dias à frente — afirma Danilo.
Metodologias e ruídos
O perito também aponta metodologias diferentes utilizadas na produção dos laudos. No assinado pelo Flamengo, a análise base se atém exclusivamente ao áudio extraído. Na do Fluminense, adota outros métodos para chegar a uma conclusão. Isso explicaria o fato de o documento pericial do tricolor ter mais páginas do que o do rubro-negro.
— O laudo do Flamengo se atém exclusivamente no áudio extraído do vídeo, já o do Fluminense leva em consideração outros aspectos, como posição de gravação, distância, integridade do material, condição ambiental por exemplo e por este motivo chegaram a conclusões diferentes — completa.
Informações: O Globo