26/04/2021 17h05
BRUNO RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O anúncio da criação da Superliga europeia de clubes há uma semana colocou as semifinais da Champions League inicialmente em risco. Mas o derretimento quase instantâneo do projeto dissidente afastou o perigo de um fim traumático para esta edição do torneio europeu.
Nesta terça-feira (27), o hino da Champions vai tocar no estádio Alfredo Di Stéfano. Real Madrid (ESP) e Chelsea (ING) se enfrentam às 16h (de Brasília), no confronto de ida da semifinal. A TNT e o Facebook da TNT Sports transmitem a partida.
O duelo entre espanhóis e ingleses coloca frente a frente dois clubes signatários da Superliga.
Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, era também o mandatário do grupo de 12 agremiações que pretendia criar uma competição para competir com a Champions. Mas seu plano de concentrar a elite do continente e, consequentemente, reunir também maiores arrecadações com o novo torneio, por ora fracassou.
Além do desgaste público causado pela ameaça de romper com a pirâmide do futebol, Florentino ganhou ainda mais antipatia por parte do presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, que apresentou na semana passada, em meio ao turbilhão envolvendo a Superliga, o plano para a nova Champions a partir de 2024.
“[Florentino] Pérez é o presidente de uma Superliga que não existe, e no momento ele é o presidente de nada”, disse o esloveno.
“Está claro para mim há muito que ele não quer um presidente da Uefa como eu. Isso é apenas um incentivo maior para que eu fique. Ele quer um presidente da Uefa que o obedeça, que o escute, que faça o que ele quer”, disparou Ceferin.
O líder da Uefa já afirmou que os 12 participantes da malfadada Superliga sofrerão algum tipo de punição por parte da entidade que comanda o futebol europeu. As medidas ainda não foram definidas.
Zinedine Zidane, técnico do Real Madrid, preferiu não entrar detalhadamente no tema às vésperas do jogo decisivo pela Champions League.
“O presidente [Florentino] sabe o que se passa no meu coração e o que eu penso, e estamos aqui para nos prepararmos para o jogo de amanhã. Vamos jogar uma semifinal de Champions, e é só nisso que temos de pensar”, disse o treinador francês, tricampeão europeu como técnico, nesta terça.
Seu adversário, o alemão Thomas Tuchel também se manteve à margem da discussão sobre a Superliga, mas aproveitou sua entrevista para criticar o novo formato da Champions League, que em 2024 terá mais times e jogos do que na configuração atual.
“Quando você é dono do clube, toma decisões e nem todo mundo vai aceitá-las. Os torcedores podem estar incomodados com a decisão [de criar a Superliga] e não tenho problemas com isso, mas não duvidem do amor que temos pelo futebol”, afirmou o comandante do Chelsea, finalista da última edição com o Paris Saint-Germain.
“Só vejo mais partidas, e no calendário que temos é complicado que possa me entusiasmar. Não terá mais qualidade, apenas mais jogos.”
O clube de Tuchel foi um dos mais pressionados pelos próprios torcedores com relação à Superliga, descontentes com a participação do Chelsea no grupo separatista.
Na última terça-feira (20), horas antes de duelo contra o Brighton (ING) pela Premier League, centenas de fãs do time londrino se reuniram em frente ao estádio Stamford Bridge para protestar contra a diretoria.
Ídolo do clube e atualmente dirigente, o ex-goleiro Petr Cech precisou descer do ônibus no qual estava a delegação da equipe para pedir aos torcedores que abrissem passagem para o veículo. A manifestação, que retardou a entrada do Chelsea no estádio, fez com que o início do jogo atrasasse em alguns minutos.
O desgaste só não foi maior pois, na própria terça, todos os seis clubes ingleses participantes da Superliga (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham) anunciaram sua desistência do projeto.
A debandada foi puxada pelo City, que na quarta-feira (28) encara o Paris Saint-Germain (FRA) na outra semifinal da Champions League. A partida, que acontece na capital francesa a partir das 16h (de Brasília), também terá transmissão da TNT e da TNT Sports no Facebook.
Alguns jogadores importantes do clube de Manchester tomaram posições públicas com relação à tentativa fracassada de criação da nova competição.
Entretanto, assim como Thomas Tuchel, o meio-campista Ilkay Gündogan, do City, também aproveitou a discussão para criticar a reformulação da Champions aprovada pela Uefa. São opiniões que mostram discordância com os caminhos seguidos pelo futebol europeu, independentemente da direção.
“Com toda essa história de Superliga acontecendo… Podemos, por favor, também falar sobre o formato da nova Champions League? Mais e mais jogos, ninguém está pensando em nós jogadores. Esse novo formato é apenas o menor dos males em comparação com a Superliga.”
Único semifinalista não participante da dissidência -apesar de desejado pelos 12 fundadores-, o Paris Saint-Germain se manteve do lado da Uefa.
Seu dono, o qatari Nasser Al-Khelaifi, faz parte do comitê executivo da entidade e assumiu na semana passada a presidência da Associação Europeia de Clubes. O cargo pertencia a Andrea Agnelli, presidente da Juventus e um dos maiores entusiastas da Superliga, que se desligou da associação após o fracasso da iniciativa.
Al-Khelaifi também é dono da beIN Sports, grupo de mídia que é parceiro da Uefa e detentor dos direitos de transmissão da Champions League. O dirigente qatari, que já era poderoso antes mesmo do irrompimento da Superliga, aproveitou a degradação da imagem pública de alguns dos principais clubes europeus para se aproximar ainda mais da Uefa, ampliando sua influência no futebol global.
O PSG, finalista da edição passada da competição, busca seu primeiro título da Champions. Já o Manchester City nunca foi à decisão do torneio e sonha com sua primeira final europeia.