Para prefeitos que querem se reeleger ou fazer sucessor não há como se pensar em pré-campanha separada da comunicação ou marketing governamental.
No entanto, via de regra, a comunicação dos governos está desalinhada com a pré-campanha. Não se vê um link conceitual com o marketing eleitoral.
Começando pelos diagnósticos (quando são feitos com base em pesquisas) o que se constata?
1. As pesquisas em geral são superficiais e não revelam elementos essenciais para o planejamento e a estratégia.
Quantitativa – muitas não medem recall de ações de governo, pontos fortes e fracos da gestão, algumas não fazem a avaliação considerando os valores ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo e consideram apenas aprovação ou desaprovação, o que é insuficiente. Muitas não avaliam audiência e os hábitos de mídias… Outras focam excessivamente no voto e não aprofundam na análise da gestão.
As pesquisas qualitativas tendem a ser superficiais e, também, focam em voto, não mergulham no estado de ânimo, no signo da eleição, nos desejos e necessidadespopulares e nas imagens (conceitos e preconceitos).
2. Não há um esforço para organizar, sistematizar e resumir as informações do governo, base para o trabalho de comunicação.
3. Informações do governo tendem a não serem checadas, habitualmente costumam ser desencontradas e desatualizadas. Não há uma organização dos dados de modo a se ter uma visão evolutiva ou comparativa do mandato.
Um outro aspecto interessante de se observar é a utilização dos indicadores de desempenho.
4. Em geral, governos não são guiados pela estratégia, por indicadores de desempenho, a não ser aprovação ou intenção de voto.
Não há KPIS (Key Performance Indicators, são os Indicadores-Chave de Desempenho) na comunicação. A comunicação em geral tem grande dificuldade de lidar com métricas quantitativas. Ao mesmo tempo, não há KPIS na gestão – por exemplo, se as promessas estão sendo cumpridas, se os programas estão sendo bem avaliados, se melhorou a vida das pessoas, se as obras estão no seu prazo, etc.
5. Existe muito pouco conhecimento sobre as mídias locais e os hábitos das pessoas;
6. São utilizadas táticas ultrapassadas de comunicação através de veículos que não performam (não dá mais para viver de release para jornais, rádios, sites e blogs sem expressão);
7. Muitos planos de mídia são excessivamente políticos epouco técnicos;
8. Ao mesmo tempo – o digital não é suficiente (boa parte do eleitorado é desconectado ou subconectado);
9. Os principais meios de comunicação da população são subutilizados – um exemplo é o WhatsApp;
10. Não se usa a mídia programática e muitas vezes o tráfego pago é feito por amadores;
11. Não há medição de desempenho na distribuição.
12. Predomina o overposting (postagens em excesso) e não há gestão estratégica da comunicação; é um grande ruído;
13. Existe um descompasso cognitivo entre emissor e receptor; muitos não entendem o que o governo quer dizer;
14. Não há preocupação com o a explicitação do protagonismo das ações; a maioria não sabe qual órgão faz o que;
15. A comunicação agrega muito pouco valor à imagem do gestor, exatamente por não haver alinhamento estratégico com base no conceito;
16. Em geral, a comunicação é burocrática, baseada em campanhas institucionais rotineiras (vacina, outubro rosa,combate à dengue, etc…).
chegando no emissor e medir desempenho.
Tão importante como gerar conteúdo é distribuir.
Muitos gestores não percebem, mas a eleição aproxima e o governo afasta. É preciso cuidar da agenda.
17. Gestores tendem a ficar muito tempo nos gabinetes;
18. A agenda não é orientada pelo marketing com foco em demandas e percepções da população e na maximização do contato com os públicos-alvo estratégicos.
19. Há uma assimetria entre a agenda do gestor e do candidato.
20. No governo é secundário o contato com o povo, já na campanha isso é central (e as pessoas percebem).
Conclusões:
A) Existem muitas falhas na comunicação. Uma das razões é que muitos gestores desta área têm um entendimento superficial da comunicação e não sabem quase nada de marketing.
B) A comunicação não é tratada como um fator estratégico para muitos governos.E assessores de comunicação, via de regra, têm pouca força política.Quando chega a campanha o jogo vira, mas pode ser tarde.
C) Via de regra, a comunicação do governo está desalinhada com a pré-campanha. Não se vê um link conceitual com o marketing eleitoral. Ou seja, a comunicação do governo não ajuda o candidato.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública com 30 anos de experiência, já tendo coordenado 60 campanhas eleitorais e prestado consultoria para diversos governos, instituições e lideranças.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.