A prática do marketing eleitoral brasileiro exige que se conheça a fundo o perfil, o comportamento do eleitor, especialmente os hábitos de mídia das classes mais baixas. Diferente do que pensam e tentam afirmar alguns “marketeiros digitais”, a realidade do Brasil profundo e os fatos ocorridos nas eleições 2024 servem de alerta para aqueles que acham que o mundo se reduz ao digital.
Quando se analisa a eleição nas 27 capitais brasileiras, pode-se concluir que os prefeitos que foram reeleitos no primeiro turno – em 11 cidades a eleição terminou no primeiro turno e 15 tiveram segundo turno – a enorme maioria dos candidatos – ou que se reelegeram ou foram para o segundo turno – tinham o maior tempo de TV e Rádio para fazer sua propaganda eleitoral.
Reeleitos no primeiro turno: Arthur Henrique (MDB), em Boa Vista; Topázio Neto (PSD), em Florianópolis; Dr. Furlan (MDB), em Macapá; João Henrique Caldas (PL), em Maceió; João Campos (PSB), em Recife; Tião Bocalom (PL), em Rio Branco; Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro; Bruno Reis (União), em Salvador; Eduardo Braide (PSD), em São Luís; Sílvio Mendes (União), em Teresina; e Lorenzo Pazolini (Republicanos), em Vitória.
A lógica se repetiu em Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Natal, Porto Alegre e São Paulo, cidades em que ocorreram segundo turno. Há apenas poucas exceções cujos candidatos que passaram para o turno final não tinham o maior tempo de TV e rádio: Manaus, Palmas e Porto Velho (salvo melhor juízo).
A verdade é que a propaganda na TV e no Rádio, tanto no horário eleitoral corrido e sobretudo nas inserções que são veiculadas ao longo do dia na programação normal das emissoras, tiveram um enorme efeito no resultado do pleito e interferiram na performance dos candidatos nas urnas.
Apenas a partir do início da propaganda eleitoral na TV e Rádio, em meados de agosto, a grande parte dos eleitores começou a perceber que haveria eleição e a conhecer melhor os candidatos. Antes disso, quando havia apenas a comunicação via internet, os eleitores, em sua grande maioria, mantinham-se indiferentes ao pleito.
As pesquisas que estudam o consumo de mídia e as pesquisas eleitorais feitas ao longo de 2024 confirmam: a TV continua a ser a forma através da qual a maior parte da população se informa sobre política e acompanha o desenrolar das eleições.
A conclusão é uma só – é ainda imprescindível a utilização da TV, do rádio (assim como das outras mídias como os jornais, os impressos – santinhos, panfletos, folders-, do carro de som e também das pessoas (militância, redes de amigos e profissionais contratados) como canais de distribuição das informações em uma campanha.
A comunicação integrada, que faz crossmidia entre todos os veículos disponíveis, um completando e reforçando o outro, permanece como a forma mais eficiente de se fazer campanha eleitoral.
O Brasil conectado ainda é um mito. Predominam os subconectados, com limitações de acessos a redes sociais e aos pacotes de dados e existem severas dificuldades de se distribuir comunicação para quase 90% da população brasileira através da internet.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.