
A recente polêmica sobre a chamada “lei do gabarito” e a suspensão da urbanização da praia de Camboinha vai muito além de uma disputa estética ou ambiental. O que está em jogo é o modelo de cidade que queremos construir. De um lado, há quem defenda a manutenção de um cenário intocado, sob o argumento de proteger a paisagem e o conforto térmico. De outro, cresce o entendimento de que o adensamento urbano responsável é a única forma de democratizar o acesso aos espaços mais valorizados e garantir desenvolvimento sustentável.
O fenômeno não é local. Nos Estados Unidos, há até um termo para isso: Not In My Backyard (NIMBY), ou “não mexa no meu quintal”. É o comportamento de quem se opõe a novas construções próximas apenas para preservar seus privilégios. Sob o discurso de defesa ambiental ou estética, muitas vezes se esconde o interesse em manter o valor dos imóveis e a exclusividade de certas regiões.
Em João Pessoa e nas cidades vizinhas, o gabarito baixo e as restrições ao adensamento acabam favorecendo uma minoria que já vive em áreas nobres como Cabo Branco, Tambaú e Camboinha. Preservar a paisagem, nesse caso, é preservar o privilégio. Para quem enxerga a cidade como um projeto coletivo, adensar é democratizar. Quanto mais moradores uma região comporta, mais os preços se equilibram, o que permite que profissionais liberais, servidores, trabalhadores do comércio e prestadores de serviço também possam viver onde hoje apenas transitam.
Impulsionar o adensamento é reduzir desigualdades e aproximar pessoas. É permitir que a cidade seja vivida, não apenas admirada à distância. Impedi-lo, ao contrário, condena milhares a longas horas de deslocamento diário e a uma segregação urbana disfarçada de “proteção ambiental”.
Defender a verticalização responsável não significa apoiar o crescimento desordenado. É, sim, reconhecer que o equilíbrio entre densidade, mobilidade, áreas verdes e infraestrutura é possível — e urgente. Até porque a construção civil, motor da economia paraibana, é o setor que mais emprega trabalhadores com baixa escolaridade, reduzindo o êxodo para outros estados e sustentando também o turismo, segunda maior força econômica local.
O dilema, portanto, não é entre natureza e concreto, mas entre estagnação e inclusão. Uma cidade justa é a que cresce com planejamento, integrando diferentes classes sociais ao mesmo território. Continuar impedindo o adensamento é perpetuar o privilégio de poucos.
A Paraíba precisa escolher se quer ser uma cidade-museu ou uma cidade viva. Porque urbanizar não é destruir. É permitir que mais pessoas façam parte da paisagem que hoje apenas observam de longe.