A entrevista do ex-ministro Maílson da Nóbrega ao Poder360 revela o potencial eleitoral contido na decisão de Donald Trump de impor tarifas de 50% aos produtos brasileiros. Para ele, a medida tem caráter essencialmente político e, ao invés de enfraquecer o governo Lula, acaba fortalecendo a imagem do presidente como defensor da soberania nacional diante de uma chantagem explícita. “É uma aberração completa”, disse, ao criticar a tentativa de condicionar a relação comercial à anistia de Jair Bolsonaro.
Segundo Maílson, a carta do ex-presidente norte-americano, recheada de distorções sobre o comércio bilateral, busca interferir diretamente nas instituições brasileiras, pressionando o país a desistir do processo que investiga a tentativa de golpe de 2022. Ele afirma que a negociação com os Estados Unidos é praticamente impossível, justamente por se tratar de um ataque político travestido de medida econômica. “Você não tem o que negociar. O Brasil não pode negociar a sua soberania”, declarou.
Ao contextualizar o impacto desse gesto, Maílson destaca que, em países como Austrália e Canadá, candidatos que se opuseram às ações de Trump venceram eleições recentes. Essa lógica, segundo ele, tende a se repetir no Brasil. A ação de Trump reforça a narrativa lulista de independência em relação às potências estrangeiras, em contraste com a proximidade explícita de Bolsonaro e seus aliados com o trumpismo.
Para além do efeito externo, o ex-ministro aponta um prejuízo político significativo à direita brasileira. Ao endossar ou silenciar diante da tarifa, setores da oposição acabam sendo associados a uma agenda que prejudica diretamente o Brasil — e, sobretudo, o agronegócio, base de sustentação do bolsonarismo. Maílson afirma que a postura submissa de parte da oposição expõe uma contradição: aqueles que se dizem patriotas compactuam com uma ação que atinge a economia nacional.
A leitura de Maílson sintetiza um movimento raro na política: um ataque internacional que, na prática, gera ganhos internos para o presidente em exercício. Ao transformar Trump em antagonista e reafirmar o compromisso com a democracia e a autonomia do Brasil, Lula tem a oportunidade de ampliar seu capital político. E o gesto de Trump, ao invés de enfraquecer o governo, pode ter consolidado — ironicamente — sua narrativa mais poderosa até aqui.