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As imagens de fartura nas campanhas
16/06/2024 / 16:29
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A constante utilização de imagens de fartura, onde candidatos políticos aparecem em bares e restaurantes rodeados de comida, revela uma desconexão profunda com a realidade brasileira.

No Brasil, um país onde a desnutrição e a insegurança alimentar afetam uma parte significativa da população, essas postagens parecem um contrassenso e, além de não atraírem votos, podem ser consideradas um tiro no pé em termos de marketing.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil viu um aumento preocupante na insegurança alimentar nos últimos anos. Em 2020, cerca de 19 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar grave, significando que não tinham acesso adequado a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para uma vida saudável. Além disso, dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) indicam que mais da metade da população brasileira enfrenta algum nível de insegurança alimentar, com cerca de 14% em situação grave.

A insegurança alimentar no Brasil não é apenas um problema estatístico; ela se manifesta no cotidiano de milhões de famílias. Em muitos lares, as refeições são racionadas, e as crianças vão para a escola sem café da manhã. Em regiões mais vulneráveis, a fome é uma realidade constante, com famílias dependentes de doações ou de programas governamentais para garantir a próxima refeição.

Diante desse cenário alarmante, a postura de candidatos que exibem fartura nas redes sociais é, no mínimo, insensível. Essas imagens de banquetes e celebrações em ambientes de luxo ou descontração parecem ignorar a luta diária de muitos brasileiros para colocar comida na mesa. Do ponto de vista do marketing eleitoral, essa estratégia é profundamente equivocada. A exibição de abundância em um contexto de escassez não só falha em criar uma conexão positiva com o eleitorado, mas também pode ser vista como um desprezo pela realidade de quem enfrenta dificuldades.

Do ponto de vista estratégico, essa abordagem é contraproducente. Os eleitores buscam candidatos que entendam suas dificuldades e que estejam comprometidos em promover mudanças concretas. Postagens que ostentam riqueza e fartura podem alienar o eleitorado e reforçar a imagem de uma elite política desconectada da realidade. Em vez disso, os candidatos deveriam focar em propostas e ações que demonstrem empatia e compromisso com a solução dos problemas alimentares do país.

A utilização dessas imagens não apenas um erro estratégico, mas também um ato de insensibilidade. Candidatos que realmente desejam se conectar com os eleitores devem evitar tais demonstrações e, ao invés disso, focar em iniciativas que demonstrem uma compreensão profunda e um compromisso genuíno com a solução dos problemas que afligem a população. Em um país onde milhões lutam diariamente contra a fome, a empatia e a ação concreta são as únicas estratégias que podem realmente ressoar com os eleitores.

sobre
Ruy Dantas
Ruy Dantas

Ruy Dantas é jornalista e publicitário, fundador do Ilha Tech, um hub de inovação que abriga três startups. Atualmente, atua como CEO da RD Innovation, uma consultoria especializada em inovação, e como presidente do Sim Group, uma holding de empresas que oferece soluções customizadas de publicidade e comunicação para diversos segmentos. Possui especialização em gestão, negócios e marketing, além de formação em conselhos pela Fundação Dom Cabral. Nos finais de semana, escreve neste espaço sobre comunicação e marketing político.