Antes de dar início a uma pré-campanha eleitoral e ao processo de comunicação é fundamental conhecer, de maneira mais profunda possível, a pessoa com quem vamos trabalhar. Neste primeiro momento lidamos com as informações internas. Precisamos conhecer a história, a trajetória pessoal, profissional e política do candidato. Conhecer suas ideias, ideologia, propostas e sonhos. É essencial entender o porquê da candidatura. Da mesma forma, estudar o cenário da disputa – as bases sociais e eleitorais do candidato, seus adversários, potenciais aliados, partidos, as lideranças que interferem no processo, forças políticas e econômicas, a estruturação da mídia local, etc. E, a partir daí, desvendar seus pontos fortes, suas fragilidades, e identificar ameaças e oportunidades.
Com este mapa montado com informações internas, parte-se para uma investigação baseada nas pesquisas de opinião pública, quantitativas e qualitativas, para coletar as informações externas. O detalhamento desta fase fica para um próximo artigo.
Uma campanha eleitoral é uma maratona, não é uma corrida de 100 metros. Por isso, deve englobar três aspectos: o físico, o mental e o emocional. Em uma campanha de governador que coordenei, o candidato, que era já uma pessoa de certa idade e não era nenhum atleta, contra todas as nossas recomendações, desgastou-se enormemente do ponto de vista físico na pré-campanha. Ele fazia diversas agendas de dia e de noite, não se alimentava direito e dormia muito pouco. O que aconteceu? Quando chegou na campanha propriamente dita, quando precisava estar com seu vigor máximo, estava estafado. É essencial fazer uma preparação física adequada para a maratona eleitoral.
Precisamos compreender os principais traços de personalidade e o estilo de comunicação do candidato. É, também, fundamental identificar questões emocionais e aspectos técnicos da comunicação que eventualmente possam ser amenizados com a intervenção de profissionais especializados como psicólogos, fonoaudiólogos e profissionais em treinamentos e preparação de atores.
Mentalmente o candidato precisa estar forte. Uma campanha é uma guerra, um processo muito duro. O candidato será atacado, criticado, suas ideias e valores questionados, sua vida será virada de ponta cabeça, muitas vezes a vida de seus amigos e familiares, também, será exposta. Se ele não estiver muito seguro dos seus desejos e propósitos e souber exatamente onde está entrando, cada revés que a disputa impuser vai se transformar em baque emocional muito intenso.
Tudo começa com uma longa conversa aberta e franca do estrategista com o candidato. É este papo (que na verdade é uma entrevista em profundidade semiestruturada) que vai se transformar no briefing da campanha. Na sequência, podemos fazer uma gravação de umas 3 a 4 horas abordando diversos temas que foram identificados no briefing. A esta gravação damos o nome de “diamante”. A edição de alguns trechos deste material já pode ser útil para apresentar o candidato.
Contudo, o emprego de algumas metodologias, baseadas em teorias psicológicas, são muito úteis para conhecer melhor o candidato com quem vamos trabalhar. Neste artigo serão abordados os Estilos de Comunicação.
O americano Paul Mock, psicólogo americano da Cornell University, sustenta que cada pessoa tem um estilo predominante de comunicação. Mesmo assim, eventualmente, uma pessoa pode ter traços de um ou outro estilo, que podem se mesclar, mas, segundo Mock, um deles é mais acentuado. Para formular os estilos de comunicação, Mock se baseou na teoria dos tipos psicológicos de Carl Gustav Jung. Ele identificou quatro estilos de comunicação: Reflexivo, Racional, Afetivo e Pragmático.
– Reflexivo: este estilo é caracterizado pela grande ênfase nas ideias, inovações, conceitos, teorias e pensamentos a longo prazo. As pessoas que têm este estilo conseguem suas maiores satisfações através do mundo das possibilidades. Frequentemente suas forças criativas são catalisadoras dos pensamentos daqueles que a rodeiam. Elas gostam de desafio, porque aprenderam o valor da investigação e do reexame contínuos. Essencialmente, a pessoa do estilo Reflexivo é mais estimulada e está mais motivada no sentido de resolver problemas do que de implementar soluções.
– Racional: as pessoas deste estilo caracterizam-se por uma grande ênfase na lógica, nos questionamentos sistemáticos. Isto é, ele encontra satisfação em identificar problemas, desenvolver uma variedade de possíveis soluções, organizá-las de forma metódica e planejada, pesando cuidadosamente e testando-as para mostrar que a abordagem mais lógica e sistemática está sendo seguida. São em geral estáveis, persistentes e normalmente céticos. Valorizam a comunicação organizada e sistemática. Dão importância a falas e conclusões documentadas e detalhadas. Omitem, ao máximo, sentimentos se não forem essenciais aos fatos; as pessoas que empregam demasiadamente o estilo Racional dão muita importância à precisão, à qualidade e ao controle. Como resultado, é frequente agirem de modo cauteloso e conservador.
– Afetivo: os afetivos são enfáticos na interação humana. Sentem-se estimulados ao fazer contato com pessoas e demonstram preocupação e compreensão por elas. Os indivíduos que seguem este estilo são caracterizados por ênfase em sentimentos, emoções e interação humana. Procuram e gostam de estimular contato com os outros e, tipicamente, perdem muito tempo tentando analisar e compreender suas próprias emoções e as alheias. Seu interesse pelas pessoas e seu poder de compreensão, normalmente, os tornam-nos capazes de perceber nas entrelinhas o que os outros querem dizer ou fazer. Os Afetivos frequentemente agem de maneira espontânea e informal, baseados em decisões subjetivas. Estas pessoas são atraídas por trabalhos e situações que envolvam intensa interação e contatos sociais. Com frequência destacam-se nos grupos ou em contatos individuais, por sua habilidade em ouvir, construírem uma interação empática e por sua paciência ao ajudar os outros nas crises e dificuldades.
– Pragmático: este estilo é caracterizado por forte ênfase na ação. Atuando neste estilo, o indivíduo desenvolve-se fazendo as coisas rapidamente, sem ponderações desnecessárias e consumidoras de tempo. Não querem ouvir detalhes adicionais de coisas já entendidas e, por vezes, mostram-se impacientes e ansiosos. Deseja implementar o que acredita que deveria ser feito e muitas vezes olha para as ações específicas dos outros como sendo os melhores indicadores dos seus compromissos. Acredita no significado do que ele e os outros estão fazendo e por isso, deve explorar no sentido construtivo as oportunidades de satisfação que cada dia proporciona. Deste modo, é provável que ele utilize uma abordagem direta e enérgica no trabalho e na vida.
Na entrevista inicial de briefing e, também, na gravação do diamante é possível identificar o estilo de comunicação da pessoa com quem vamos trabalhar. Contudo, ao longo de uma campanha eleitoral o candidato vai precisar utilizar aspectos de todos os estilos propostos por Mock. Ocorre muitas vezes que as habilidades de comunicação do candidato são quase inexistentes ou existe uma predominância excessiva de um único estilo de comunicação.
Seria desejável (em uma situação ideal) que o candidato mesclasse um conjunto de habilidades característicos de cada um dos estilos de comunicação.
O candidato precisa ser reflexivo para pensar em soluções para os problemas que afligem a comunidade, vislumbrar as tendências e o futuro; ser criativo para buscar conceitos inovadores que o diferenciem dos seus concorrentes.
Precisa ser racional, para conseguir demonstrar que as soluções propostas são viáveis e para isso é necessário organizá-las de forma metódica e lógica. Em um debate, por exemplo, o candidato precisa ser capaz de organizar um raciocínio com começo, meio e fim, em um tempo pequeno e controlado.
Contudo, em uma campanha, o estilo que, em tese, deveria predominar (para qualquer candidato) deveria ser o afetivo, ou seja, que o pretendente consiga demonstrar através da comunicação seus sentimentos e emoções e, também, seu interesse pelas pessoas, seu poder de compreensão, sua empatia em relação aos problemas e dores do outro e, com isso, conseguir gerar identificação e proximidade. Nem todos têm está habilidade, mas, de alguma forma, ela precisa ser construída.
E, por fim, o candidato precisa ser pragmático. Demonstrar na sua comunicação que suas ideias e soluções podem se transformar em ação e que vão, realmente, serem implementadas; que a sua ação será transformadora e vai melhorar a vida das pessoas.
A apresentação e a discussão sobre os estilos de comunicação deixam claro a complexidade que representa o trabalho de formação de uma liderança política. O fato de uma pessoa ser líder em algum segmento não faz com que, automaticamente, ela tenha habilidade para se comunicar, especialmente através da mídia. A comunicação é comportamento que pode e deve ser treinado e, para isso, exige a realização de trabalho contínuo e que precisa levar em consideração os traços de personalidade e o estilo de cada um.
Conclusão: a preparação para uma campanha eleitoral demanda tempo e maturação. Definitivamente não é algo que se faz nos poucos meses que antecedem a eleição. Está mais que na hora de você, candidato, começar a se preparar!
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.