Em todas as palestras que faço Brasil afora sempre digo que o grande desafio, seja de um governo, de um mandato legislativo ou de um candidato em uma campanha é o de conseguir fazer uma comunicação simples, que as pessoas entendam. E para se fazer entender, é necessário saber com quem estamos falando e qual a capacidade cognitiva deste público de receber e processar informação.
Essa semana foi divulgada uma nova pesquisa que traz luz sobre o perfil do público brasileiro, o INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional). O estudo foi coordenado pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, em parceria com a Fundação Itaú, a Fundação Roberto Marinho, o Instituto Unibanco, a Unesco e a Unicef. Foram realizados testes com 2.554 pessoas de 15 a 64 anos, entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025.
A conclusão é que no Brasil 29% da população é composta por analfabetos funcionais, ou seja, quase três em cada dez brasileiros entre 15 e 64 anos são incapazes de entender e utilizar de forma eficaz a leitura, a escrita e a matemática em tarefas simples do dia a dia.
Analfabetos funcionais são pessoas que conseguem identificar palavras isoladas ou ler frases muito simples, mas não são capazes de compreender, por exemplo, uma notícia de jornal. O analfabeto funcional lê textos simples, curtos, palavras isoladas. Ele entende coisas familiares, como um recibo do mercado, resultado de jogo, receita de bolo, mas não interpreta uma tabela, um gráfico ou as nuances de uma matéria jornalística.
Ocorre que as bases eleitorais da maioria dos políticos são compostas por gente humilde, com menor capacidade cognitiva de processar mensagens. Para eles, a comunicação precisa ser realmente bem simples, do contrário vira um grande ruído.
Um erro muito comum, tanto em mandatos do Legislativo (senadores, deputados federais, estaduais e vereadores) e em boa parte dos Executivos, é não ter uma compreensão profunda e radical do perfil das pessoas com quem se está falando.
É sempre bom repetir: comunicação é o que a pessoa entende, não o que você fala. O foco precisa estar no receptor. Ocorre que boa parte da comunicação está centrada no emissor (focada apenas naquilo que você está interessado em falar) e poucos são os que se importam verdadeiramente se a mensagem está ou não sendo compreendida pela audiência.
No caso da comunicação de um membro do Legislativo, não adianta falar em PL, PLC, PEC, resolução, emenda, substitutivo. Para a maioria esmagadora da população isso não diz absolutamente nada. Tem que ser bem mais didático. Você quer que sua informação chegue, seja efetiva, não é mesmo? Então, fique ligado em como a mensagem é compreendida – o segredo da comunicação está ai!
O que realmente importa para um governo ou um parlamentar é dizer para os públicos, de forma clara e simples, o que o seu trabalho (uma ação, projeto, recurso de emenda ou uma política pública) mudou ou melhorou na vida das pessoas, é falar de assuntos e temas que interessam às pessoas, que estão no debate público. Se conectar com esses debates é tão ou mais importante que falar de si mesmo.
Acredito que o ego humano tenha uma boa parcela de culpa na dificuldade das pessoas se comunicarem. Alguns parecem acreditar que a sofisticação na linguagem as torna mais importantes, que a linguagem rebuscada é um símbolo de status para impressionar os outros. Em algumas categorias profissionais isso fica muito evidente, como na área jurídica, na medicina, ou mais recentemente, nos negócios e na tecnologia, com um excesso de palavras técnicas ou em inglês. Na política isso não faz o menor sentido.
Para fechar, vamos listar algumas dicas de comunicação simples:
E antes de mandar a mensagem faça um teste, uma validação. Validar significa confirmar se a mensagem é compreendida na prática. Para fazer isso, junte pessoas com o perfil do seu público-alvo e peça para que elas avaliem e comentem o que acharam, o que elas entenderam. Se está tudo ok, distribua. Se não, ajuste até ficar compreensível.
Em resumo: simplificar a mensagem, ser didático e ter foco no que o receptor se interessa e é capaz de entender.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.