A Quaest divulgou uma pesquisa que avalia o quadro para a eleição presidencial de 2026, que vai acontecer daqui há aproximadamente dois anos. Quem trabalha profissionalmente com campanhas eleitorais sabe muito bem que uma pesquisa a essa distância do pleito mede muita coisa, menos intenção de voto de verdade. Poder-se-ia falar de uma espécie de “vaga intenção” ou uma remota possibilidade de votar.
Esta pesquisa avalia com mais precisão outras dimensões como, por exemplo, o nível de conhecimento dos candidatos, o chamado recall. Quando o entrevistador está na frente do cidadão e lhe mostra um disco com alguns possíveis candidatos, o sujeito olha para aquilo e separa quem ele conhece daqueles que não conhece. Não há como avaliar a possibilidade de votar em um candidato de quem nem se ouviu falar.
Desta lista de pré-candidatos, como a própria pesquisa da Quaest revela, existe uma grande assimetria nos níveis de conhecimento dos candidatos. Lula (96%) e Bolsonaro (94%) são conhecidos por quase todas as pessoas. Gusttavo Lima ou Michele Bolsonaro quase 80% conhecem. É muito diferente, por exemplo, do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que apenas 32% conhecem ou do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, conhecido por 38% dos brasileiros.
É obvio que esse desnível no conhecimento tem impacto na intenção de voto. Com essa grande distância do pleito, a intenção de voto reflete apena o recall, nada mais que isso.
Também é preciso afirmar que conhecimento não é voto. É apenas uma condição para que o candidato seja um alternativa de escolha. Até porque, na medida que a eleição se aproxima e os candidatos são apresentados através da comunicação das campanhas (e comparados uns com os outros), esse desconhecimento pode se dissipar e a intenção de voto ir se concretizando e se tornado algo mais real. O mais comum é o resultado das urnas ser muito diferente de pesquisas divulgadas com tamanha antecedência.
Outra variável que a pesquisa mede, e apresenta uma dose maior de precisão, é a rejeição. Mas mesmo ela pode flutuar ao longo do tempo. Por exemplo, o cidadão que hoje rejeita o candidato Lula pode estar avaliando negativamente o governo. Mas se a avaliação que ele tem da gestão do petista melhorar, essa rejeição pode também diminuir.
Contudo, em tese, rejeição seria uma dimensão menos volátil que a intenção de voto. Dizer que “não vota no candidato de jeito nenhum” é mais forte e mais estável do que dizer que vota. Na verdade, a essa distância do pleito, representa, muito mais um “poderia votar”.
Na pesquisa da Quaest é medida a rejeição dos candidatos associada ao conhecimento. Neste ponto o PT precisa acender uma luz de alerta: hoje existem 49% de eleitores que, ao mesmo tempo conhecem Lula e não votam nele. Note que essa medida é mais complexa do que a intensão de voto e, mais uma vez em tese, apresenta maior estabilidade. Em um eventual segundo turno, ter uma rejeição de quase 50% limita o espaço de crescimento do candidato, restringe o seu mercado de votos, transformando-se em um problema importante.
Lembremo-nos que na semana passada o mesmo instituto de pesquisas divulgou uma sondagem que apontava uma queda na avaliação do governo do presidente Lula. Os dados mostraram uma queda sobretudo junto aos eleitores do Nordeste, do Sul e entre as famílias com menor renda.
É bastante razoável supor que a pesquisa eleitoral está refletindo a mudança de humor em relação à percepção da administração petista. Em outras palavras, da pesquisa anterior para a atual o desempenho eleitoral do presidente Lula teve uma queda significativa e os candidatos adversários, independente de quem seja, melhoraram a sua performance, refletindo, em boa medida, o aumento do descontentamento com o governo.
Como estamos longe da eleição, não existe precisão alguma sobre medição de voto em 2026. Contudo, a pesquisa mostra que o quadro eleitoral ganhou uma dose maior de imprevisibilidade e o favoritismo de Lula, aos poucos, vai se diluindo.
Portanto, toda e qualquer conclusão a que se queira chegar agora é precipitada. É como se diz em Minas Gerais, ainda há muita água para rolar debaixo da ponte. E é natural que ocorram movimentos, tanto do governo para tentar reverter este quadro (como já fez na sua comunicação), como da oposição, que hoje está fragmentada e precisa conseguir afunilar suas alternativas, reforçando as suas chances eleitorais. Mas que as nuvens estão ficando mais turvas para o PT, sobre isso não há dúvidas.
A se conferir o desenrolar da trama…
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.