A política brasileira tem um talento especial para transformar debates sérios em disputas de vaidade. A novela do PL Antifação é apenas o capítulo mais recente. O centrão, sempre atento ao vento que sopra, atribuiu os tropeços do projeto à postura de Guilherme Derrite. Para líderes do grupo, o secretário licenciado errou ao acreditar que poderia avançar sozinho num tema que mexe com a espinha dorsal da segurança pública. Parlamentares gostam de ser cortejados. Derrite preferiu o caminho solitário. Pagou o preço.
O episódio expôs um movimento silencioso, porém decisivo. O governo Lula, que vinha acuado no debate sobre segurança, recuperou o fôlego quando viu a oportunidade de associar o texto de Derrite à chamada PEC da Blindagem. Foi o suficiente para reposicionar a narrativa. Brasília funciona assim. Quando um lado comete um deslize, o outro avança sem pedir licença.
No meio disso tudo, Tarcísio de Freitas também sentiu o impacto. A articulação que cercava o projeto ruiu quando governadores de direita se reuniram com o presidente da Câmara, Hugo Motta, e pediram o adiamento da votação. Derrite, acostumado ao discurso direto, descobriu que em Brasília a força não está no volume da voz. Está na capacidade de construir convergências com quem não aparece nos holofotes.
O adiamento até o fim do mês não é apenas uma manobra regimental. É um sinal claro de que parte da direita prefere evitar um embate mal calculado às vésperas de um ciclo político delicado. Ninguém quer entregar munição de graça ao governo, muito menos correr o risco de patinar num tema que exige precisão estratégica.
A lição é simples. No jogo do poder, quem se move por impulso vira personagem secundário. Quem entende o tempo certo de avançar e recuar costuma chegar mais longe. Derrite teve a chance de liderar um debate sério, mas tropeçou na etapa mais elementar da política: combinar antes com quem, de fato, decide.