Uma pergunta frequente em rodas de conversa é se o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, será ou não candidato à Presidência da República.
A resposta precisa ser ainda um pouco vaga. Não há como cravar com certeza.
Recorrendo à sabedoria popular, a dúvida do governador paulista deve passar por “trocar um pássaro na mão por dois voando”, ou seja, abrir mão de uma reeleição relativamente fácil em São Paulo para disputar uma eleição nacional muito mais acirrada. Mas, no mesmo anedotário, também se diz que “cavalo arreado só passa uma vez”. Em outras palavras: quando a oportunidade aparece, é preciso agarrá-la, do contrário, pode não se repetir.
Contudo, os últimos movimentos de Tarcísio no jogo político-eleitoral mostram que o quadro pode ter evoluído.
Primeiro, o governador paulista empreendeu uma forte agenda, especialmente em Brasília, para tentar pautar a anistia no Congresso Nacional. Neste ponto, é difícil saber a abrangência de um eventual projeto a ser votado e se alcançaria ou não Bolsonaro. Tarcísio desce do muro, vai para o front e se posiciona de forma clara e inequívoca a favor da anistia (uma vez que já disse que, se eleito, a anistia de Bolsonaro seria sua primeira medida).
Segundo, Tarcísio participou da manifestação realizada na Avenida Paulista no dia 7 de setembro e fez o discurso mais radical de sua trajetória até aqui. Destacou a liderança de Bolsonaro, criticou o STF, pressionou o presidente da Câmara, Hugo Motta, a pautar a anistia e chamou o ministro Alexandre de Moraes de tirano. De um governador moderado, Tarcísio sobe o tom e faz um aceno ao bolsonarismo mais radical.
Certamente, nenhum desses movimentos foi feito de forma impensada ou desinformada. Ao que tudo indica, Tarcísio está realizando todos os gestos necessários para ser ungido pela família Bolsonaro. Até porque a alternativa representada pelo filho Eduardo tornou-se eleitoralmente inviável. A presença emocionada de Michele Bolsonaro no mesmo palanque da Paulista reforça esses indícios.
Terceiro, a oposição, percebendo tais movimentos, já direciona suas baterias contra as investidas de Tarcísio. Sobe o tom das críticas e mobiliza parte de sua base para tentar minar a posição do governador de São Paulo. Nada mais esclarecedor!
E se Tarcísio for mesmo candidato a presidente, quais forças ele é capaz de mobilizar?
Para qualquer político, nunca é fácil tomar decisões como essa que está na mesa de Tarcísio de Freitas: abrir mão de algo certo, especialmente em um estado com o peso de São Paulo, para enfrentar um adversário fortíssimo, conhecido em todo o país e sentado na cadeira presidencial.
Contudo, muitas vezes, as circunstâncias acabam se impondo. A resposta à pergunta se Tarcísio será ou não candidato parece estar ganhando contornos cada vez mais claros.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.