por João Henrique Faria
Os anos de 2023 e 2024 têm sido referência no surgimento de novos profissionais no campo do Marketing Político, em especial no Eleitoral. Até aí, algo muito saudável e que traz um frescor nas práticas antigas, ao movimentar ou sugerir novas tendências, o que, repito, pode ser muito saudável.
O inexplicável é quando, para justificar uma forma própria de se fazer o Marketing Político, os novos gurus buscam minimizar e, muitas vezes, até ridicularizar práticas já consagradas de desenvolvimento de candidaturas, a começar pelo Planejamento Estratégico Eleitoral.
Uma das críticas ao Planejamento Estratégico Eleitoral está justamente no intertítulo acima. Eu considero a coisa mais maravilhosa do mundo quando alguém, para tentar reduzir o trabalho ou expertise de outro, começa pela crítica aos valores cobrados e ainda lança sobre o profissional a certeza de que “não haverá acompanhamento”.
Pra começar, preço cada um tem o seu e isso depende da experiência, da rodagem, da capacidade de resolver problemas e apontar soluções, do número de campanhas que o profissional já conduziu etc. Então, preço não se discute. Melhor: discute-se sim, quando alguém quer colocar preço no seu serviço ou quando alguém subvaloriza a tal ponto a sua função e a sua capacidade profissional, que age numa quase prostituição do mercado, trabalhando com valores irrisórios.
Não existe Planejamento Estratégico engessado. Não existe Planejamento Estratégico rígido. Não existe Planejamento Estratégico sem acompanhamento e sem alterações, acréscimos, cortes. Então, meus amigos, dizer que Planejamento exige acompanhamento é chover no molhado, porque o Planejamento, em si, já é um processo dinâmico. Negar isso é não saber o que é Planejar.
Diminuir o papel do Diagnóstico, diminuir o papel do Planejamento Estratégico é levar a pré-candidatura a uma condição capenga. Da mesma forma que negar a Pesquisa, também essencial, e que se soma aos dois primeiros para que o profissional estrategista ou consultor de Marketing Político, como queiram chamar, possa fazer uma análise e dar um direcionamento inicial, repito, inicial, à pré-campanha. Cada passo deve ser acompanhando. Aqui, não apenas o quadro político-eleitoral muda, mas a dinâmica social também. Portanto, que se diga o óbvio: não há Planejamento sem acompanhamento.
Não sei você, que está lendo este artigo, mas eu nunca vi tanto evento espalhado por todo o país, como de 2023 para cá. Isso tem, com certeza, um lado muito positivo. Já participei de alguns. Mas estamos diante, muitas vezes, de um sem número de teorias e formas de tocar o processo, que, para o público que assiste, muitas vezes pode ser confuso.
Mas qual é o motivo de isso acontecer? Muito provavelmente, e aqui lanço apenas uma hipótese, o problema vem da necessidade de muitos profissionais de Marketing, em especial de produção de conteúdo, terem se alçado no caminho da estratégia, sem ainda terem passado por experiências significativas em campanhas eleitorais.
“Mas isso é um problema de cada um”, você dirá, e eu, cá do meu cantinho, com minhas mais de 100 campanhas para os Legislativos e os Executivos da vida, terei que concordar. Mas não em silêncio, claro.
O intertítulo acima mostra uma realidade que o jornalismo viveu durante muito tempo. Falo de cadeira, porque sou jornalista e atuei em alguns veículos aqui em Minas Gerais. O que ocorria com o Jornalismo, hoje ocorre com o Marketing Político. O repórter, excelente, não tinha mais como crescer. Aí, a mente brilhante do chefe de redação solucionava o caso: “Passa o cara pra editor adjunto”.
Maravilha. Para não remunerar adequadamente um bom repórter, vamos torna-lo um editor adjunto, provavelmente ruim, mas recebendo um salário melhor. Tudo resolvido. NÃO! Os problemas crescem, pois perdi um bom repórter e agora tenho um editor adjunto pouco confiável. Resultado: perdi qualidade no meu jornalismo.
No Marketing Político a mesma coisa. Mas aqui a coisa veio pelo Produtor de Conteúdo. Muita gente fazendo a mesma coisa, traz uma disputa desleal do ponto de vista da remuneração: “Ah! O meu sobrinho faz isso!”. Sim, faz, mas sem qualidade, sem profissionalismo, sem entender do que se trata. Aí o sobrinho vira Produtor de Conteúdo e o bom Produtor de Conteúdo vira… estrategista. Meu Deus!
Caso não tratassem os bons produtores de conteúdo como mão de obra barata, na linha do “tem muito por aí”, as pessoas continuariam suas carreiras, sendo bem remuneradas e fazendo aquilo que sabem fazer bem feito.
Assim, como hoje está, caímos no paraíso do preço baixo e do serviço menos qualificado. Não pensem que é fácil falar sobre isso. Não é. Sempre que me pedem uma indicação, procuro lembrar daqueles que são bons naquela função específica e que, por isso, são bem remunerados para fazê-la.
As eleições 2024 estão aí. Depois delas, veremos o que muda neste cenário maluco que vivenciamos hoje.