As recentes enchentes, que ainda estão devastando diversas cidades do Rio Grande do Sul, não deixam apenas um rastro de destruição e desolação, mas também abriram as comportas para uma inundação de oportunismos e espetacularização da dor alheia. A forma como algumas figuras públicas e políticas, a mídia e grupos de interesse têm abordado esta tragédia revela uma face preocupante de nossa cultura política e midiática.
Primeiramente, é importantíssimo reconhecer os esforços genuínos de inúmeras pessoas “comuns”, políticos, empresas e entidades que estão fazendo a diferença para as pessoas e áreas afetadas. Voluntários que, de perto ou de longe, dedicam seu tempo para coletar, organizar e enviar doações, resgatar pessoas, coordenar abrigos temporários e fornecer segurança, suporte emocional e prático às vítimas. Também reconhecer os políticos e influenciadores que continuam trabalhando após as câmeras se desligarem e que realmente querem auxiliar este povo que perdeu tudo. Diversas formas de ajuda têm surgido, demonstrando que a solidariedade pode se manifestar de várias maneiras. A todas estas pessoas, cabe apenas, aplaudir, agradecer e enaltecer.
Entender que, o impacto humano e material dessas enchentes, famílias desalojadas, perdas irreparáveis e uma sensação de vulnerabilidade dominam o cenário das comunidades afetadas. Neste contexto, esperava-se que a resposta do poder público fosse rápida, eficiente e, acima de tudo, empática.
O que se tem observado são alguns (ou muitos) políticos, mais preocupados em realizar sua promoção pessoal do que contribuir de fato com as pessoas afetadas, e neste ponto não estou me direcionando a políticos das cidades afetadas, apesar de que alguns parecem também se encaixar no perfil. O sofrimento torna-se um pano de fundo para discursos bonitos e ensaiados, promessas que raramente são cumpridas e uma série de aparições cuidadosamente orquestradas, mais voltadas para as câmeras do que para a realidade dura das regiões devastadas.
A mídia também não está isenta de críticas. A espetacularização da tragédia desvia o foco das discussões necessárias sobre resgate, acolhimento, recuperação e reconstrução, tanto material quanto emocional. Em vez de apresentar uma cobertura que poderia mobilizar apoio e recursos de maneira eficaz, muitas vezes opta-se por uma narrativa que privilegia o lado A ou o lado B.
Este cenário de oportunismo político não é apenas um desrespeito às vítimas, como também interfere no processo de resgate, acolhimento e posteriormente a recuperação e reconstrução. Afinal, quando a atenção se volta apenas para a exploração política e midiática, perde-se a oportunidade de realizar ações que realmente façam a diferença na vida das pessoas.
É urgente que os políticos, veículos de comunicação e a sociedade como um todo repensem suas ações e o impacto delas. A solidariedade não deve ser apenas uma ferramenta de campanha, mas uma prática sincera e efetiva.
A comunicação por parte dos políticos durante crises como as enchentes no Rio Grande do Sul é sim crucial, mas deve ser conduzida com foco na transparência, na orientação, no auxílio às pessoas afetadas. É essencial que os líderes utilizem suas plataformas para disseminar informações úteis, coordenar esforços de ajuda e facilitar a distribuição de recursos, ao invés de se concentrarem unicamente em cultivar uma imagem pública favorável.
Hoje as pessoas estão cada vez mais atentas, identificando conteúdos superficiais, destinados apenas para as “redes sociais”. Percebe-se que com o aumento do acesso à informação e a descentralização da comunicação, os cidadãos estão aprendendo a distinguir entre ações genuínas e meras manobras de auto-promoção. Claro que as fake news também podem ser inseridas neste contexto, mas isto é assunto para outro artigo.
Esta nova era de pessoas mais informadas e críticas, exige que políticos e instituições demonstrem integridade e comprometimento com as questões que afetam diretamente suas comunidades, que sejam autênticos e verdadeiros.
As enchentes no Rio Grande do Sul são mais um triste lembrete de nossa vulnerabilidade frente às forças da natureza. Mas a maneira como escolhemos responder a essas adversidades define quem somos enquanto sociedade. Que escolhamos o caminho da empatia, da ação efetiva e do compromisso com o futuro, ao invés do oportunismo e da espetacularização que infelizmente também têm aparecido.