O recado das urnas nas eleições municipais de 2024 foi claro: o eleitor brasileiro, em grande parte, optou pela continuidade, favorecendo prefeitos que já ocupavam o cargo. A taxa de reeleição neste ano atingiu um recorde histórico de 82%, um fenômeno que pode ser atribuído a uma combinação de fatores políticos e econômicos que moldaram o cenário eleitoral.
Um dos elementos mais importantes por trás desse resultado foi a percepção do eleitorado de que prefeitos medianos, que entregaram o “feijão com arroz” de maneira eficiente, mereciam ser mantidos no poder. Em vez de arriscar em novos candidatos que prometiam grandes mudanças, a maioria dos eleitores optou por uma gestão estável, ainda que sem inovações significativas. Essa escolha revela uma preferência por uma administração que, mesmo sem grandes saltos, oferece segurança e continuidade para os serviços públicos essenciais.
Além disso, a estratosférica distribuição de emendas nos últimos quatro anos parece ter desempenhado um papel crucial nesse processo. Prefeitos em busca de reeleição tiveram acesso a recursos que permitiram a realização de obras e investimentos em infraestrutura, o que fortaleceu sua imagem junto aos eleitores. Esses recursos garantiram a entrega de resultados visíveis, algo que é sempre bem recebido nas urnas. O eleitorado, de certa forma, recompensou a capacidade dos prefeitos de trazer melhorias concretas para suas cidades.
Outro fator relevante é a compreensão — ou, em alguns casos, a condescendência — dos eleitores com prefeitos que buscaram um novo mandato. A reeleição é vista como uma extensão natural de mandatos executivos, funcionando como uma espécie de recall a meio caminho dos oito anos de administração. Essa lógica se consolidou no imaginário político brasileiro, onde o governante que pelo menos não cometeu grandes erros tem a chance de ser mantido no cargo.
Portanto, o resultado das eleições de 2024 não pode ser explicado apenas por campanhas bem estruturadas ou promessas de inovação. A realidade é que a combinação de uma gestão eficiente e a utilização estratégica de emendas contribuíram significativamente para o sucesso de prefeitos que buscaram a reeleição. O eleitorado, ao fim, optou por confiar naqueles que já conheciam e que, apesar de não “inventarem a roda”, garantiram o funcionamento da máquina pública.
Ruy Dantas é jornalista e publicitário, fundador do Ilha Tech, um hub de inovação que abriga três startups. Atualmente, atua como CEO da RD Innovation, uma consultoria especializada em inovação, e como presidente do Sim Group, uma holding de empresas que oferece soluções customizadas de publicidade e comunicação para diversos segmentos. Possui especialização em gestão, negócios e marketing, além de formação em conselhos pela Fundação Dom Cabral. Nos finais de semana, escreve neste espaço sobre comunicação e marketing político.