Eles já estão entre nós e, de certa forma, é assustador. Não, não falo dos alienígenas. Me refiro aos robôs, toda sorte de robôs. Nos últimos dias, algumas imagens de robôs humanoides participando de um jogo da NFL causaram espanto entre os torcedores. Uma ação de divulgação do filme de ficção científica “The Creator” trouxe à tona a presença de “robôs” de inteligência artificial assistindo a um jogo de futebol americano, interagindo com as pessoas e gerando dúvidas sobre sua natureza.
O avanço da inteligência artificial (IA) tem transformado não apenas nosso entretenimento, mas também nossos relacionamentos. Aplicativos de namoro já usam IA para encontrar pares compatíveis, e chatbots oferecem a simulação de amigos ou parceiros românticos. A linha entre realidade e ficção científica está se tornando cada vez mais tênue.
A antropóloga francesa Claudiene Haroche adverte sobre os perigos dessa evolução. Ela argumenta que, à medida que nos afastamos dos relacionamentos humanos genuínos em busca da conveniência oferecida pela IA, corremos o risco de criar uma geração conformista e mais manipulável. Nossas conexões sociais estão se tornando superficiais, e a individualização extrema nos torna vulneráveis ao isolamento.
Em um exemplo intrigante, no Japão, existem escolas que ensinam as pessoas a sorrir. Isso é um reflexo da tendência de substituir as interações reais por experiências superficiais. Essas escolas podem fornecer uma aparência de conexão social, mas não substituem o calor e a autenticidade de um sorriso compartilhado com um amigo ou ente querido.
As plataformas de IA, como o Replika, oferecem interações que podem parecer reais, mas carecem da complexidade das relações humanas. A comunicação humana envolve não apenas palavras, mas também gestos, olhares e linguagem corporal, elementos que enriquecem nossa compreensão mútua e aprofundam nossos relacionamentos.
Embora a IA possa ser atrativa para os jovens, é importante que os pais estejam atentos ao seu uso excessivo e inadequado. A preocupação não deve ser apenas com a tecnologia em si, mas com como ela afeta o desenvolvimento das habilidades emocionais e sociais das gerações futuras.
A inteligência artificial pode oferecer companhia em momentos de solidão, mas não pode substituir as relações humanas reais. Ela nos fornece o que queremos ouvir, mas os relacionamentos genuínos são moldados por desafios, surpresas e contradições. A interação com a IA pode ser uma ferramenta, mas não deve se tornar o substituto para as conexões significativas com outras pessoas.
Em um mundo onde a IA está em toda parte, desde aplicativos de namoro até diagnósticos de saúde mental, é fundamental lembrar que a tecnologia deve servir como complemento e não como substituto para o contato humano genuíno. Valorizar as conexões reais, ensinar as gerações futuras a cultivá-las e proteger nossa capacidade de relacionamento é essencial para evitar uma sociedade mais isolada e conformista.
Pergunto a você: já abraçou alguém que você ama hoje? A tecnologia pode ser incrível, mas o calor de um abraço humano é insubstituível.
Ruy Dantas é jornalista e publicitário, fundador do Ilha Tech, um hub de inovação que abriga três startups. Atualmente, atua como CEO da RD Innovation, uma consultoria especializada em inovação, e como presidente do Sim Group, uma holding de empresas que oferece soluções customizadas de publicidade e comunicação para diversos segmentos. Possui especialização em gestão, negócios e marketing, além de formação em conselhos pela Fundação Dom Cabral. Nos finais de semana, escreve neste espaço sobre comunicação e marketing político.