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Lula é o favorito em 2026? 
08/10/2025 / 15:12
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A pergunta que este artigo pretende responder é a seguinte: quais são as forças e as fraquezas do presidente Lula? E, colocando esses ativos na balança, quais as chances eleitorais de Lula na eleição de 2026? 

Não se trata de um exercício de futurologia — longe disso. Pretende-se fazer um inventário de fatos e utilizar uma série de dados de pesquisas de opinião pública disponíveis, a fim de apontar tendências sobre as próximas eleições e analisar as chances de reeleição do incumbente. 

O sociólogo Antônio Lavareda, no livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, escreve: “O estado da economia e a situação de incumbência são apontados recorrentemente como os dois principais elementos contextuais que exercem forte influência nas eleições.” 

O que os dados e as mais recentes pesquisas de opinião pública dizem sobre esses dois fatores? 

A economia brasileira apresentou crescimento e a taxa de desemprego é a menor já registrada em muitos anos. Mesmo assim, a percepção majoritária da população em relação ao desempenho da economia é negativa. 

A pesquisa AtlasIntel mais recente (divulgada em setembro) mostrou que, para 47% dos entrevistados, a situação atual da economia é ruim, contra 33% que a consideram boa. Outros 21% acham que a situação econômica está “normal”. Resultado semelhante foi obtido pela Genial Quaest, em julho, que apontou que 36% dos entrevistados acreditam que a economia do Brasil piorou nos últimos 12 meses, ante 28% que avaliam que melhorou e 32% que dizem que ficou igual. A Ipsos revelou que 62% dos brasileiros afirmam que o país segue na direção errada e que 67% afirmaram que a situação econômica é “má”, enquanto 33% disseram que é “boa”. 

Ou seja, se considerado o critério de percepção sobre a economia, a situação do incumbente para o próximo pleito não é nada confortável. 

A partir de estudo baseado em diversos casos, Alberto Almeida escreve no livro            A Cabeça do Eleitor
“Quando a soma de ‘ótimo’ e ‘bom’ de um governo fica acima de 45-50%, o cenário é de eleição governista, e o favorito é sempre o candidato do governo. Quando a soma de ‘ótimo’ e ‘bom’ fica abaixo de 40%, a situação é favorável à oposição (…). Quanto mais abaixo de 40%, pior é a situação do governo.”

A variável tempo é importante nessa análise. A proximidade da eleição é um fator relevante para avaliar as chances do mandatário se reeleger ou fazer seu sucessor. 

Pesquisa Ipsos/Ipec divulgada em setembro aponta que 38% dos brasileiros avaliam o governo Lula (PT) como ruim ou péssimo e 30% como ótimo ou bom. Outros 31% consideram o governo regular, e 1% não souberam ou não responderam. 

Na pesquisa do Datafolha, a avaliação positiva do governo Lula cresceu de 29% no final de julho para 33% no início de setembro, atingindo seu melhor resultado desde dezembro do ano passado, quando 35% consideravam a gestão do petista ótima ou boa. Ou seja, há uma tendência de melhora, mas ainda falta muito para o incumbente entrar na eleição em uma situação confortável. 

A última pesquisa da Quaest, divulgada em outubro, mostra que 37% avaliam o governo Lula negativamente (ruim e péssimo) e 33% positivamente (ótimo e bom), enquanto 27% o consideram regular. 

Lula havia perdido apoio em segmentos que tradicionalmente votam na esquerda — como eleitores de renda mais baixa, mulheres e moradores do Nordeste. Gradativamente, a avaliação do governo nesses segmentos vem sendo recuperada, e Lula está voltando aos patamares anteriores. Na verdade, não ganhou novos simpatizantes; apenas vem reconquistando aqueles que passaram a rejeitar o governo quando o preço do café e do ovo se tornou proibitivo. 

Pesquisa Quaest divulgada em outubro mostra que 63% da população afirma que o preço dos alimentos subiu no último mês (mesmo que, de janeiro a maio de 2025, esse número estivesse em um patamar médio de 80%). 

Por outro lado, os dados mostram que Lula tem dificuldade de chegar em segmentos importantes do eleitorado: evangélicos, pequenos empreendedores e, também, não conseguiu apresentar um discurso consistente em uma pauta que atinge transversalmente todos os estratos sociais e será importante em 2026 – a segurança pública.   

A conclusão, com base nas métricas utilizadas por Alberto Almeida em A Cabeça do Eleitor, é que, mesmo que todas as pesquisas confirmem um viés de melhora na avaliação do governo, os números ainda apontam para um cenário favorável a um candidato de oposição em 2026. 

A análise segue… 

Pesquisas qualitativas mostram que existe uma quebra de expectativa entre eleitores que votaram em Lula e esperavam algo semelhante ao seu primeiro mandato. Confirmam uma frustração dos eleitores que avaliam que o terceiro mandato está muito aquém das duas primeiras gestões.  

Na última pesquisa da Quaest, 45% da população disse que o governo Lula está pior do que esperavam, contra 28% que o consideram igual e 25% que o veem como melhor. 

Não há dúvida de que a inflação, persistente e refletida no preço dos alimentos, afeta negativamente a percepção das pessoas. Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 34% dos brasileiros precisam recorrer a “bicos” para pagar dívidas. As pessoas estão trabalhando mais para comprar o mesmo — ou até menos — do que antes. Consequentemente, a qualidade de vida piora: há menos tempo para a família, o descanso e o lazer. 

Os juros altos afetam diretamente a população. A inadimplência bateu recorde em setembro e atingiu 30,5% das famílias brasileiras, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC). 

Politicamente, o governo Lula se saiu muito bem no enfrentamento das tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. Trump acabou dando um grande presente a Lula, e a condução feita por Eduardo Bolsonaro em relação a este episódio foi desastrosa. O presidente surfou na onda da defesa da soberania nacional — e a comunicação do governo soube aproveitar bem essa oportunidade. Mesmo assim, esse movimento tende a perder força com o tempo. 

Este mesmo “tarifaço” imposto por Trump, que deu uma narrativa nacionalista a Lula,  é uma das razões que explicam a recuperação da economia: o dólar enfraqueceu, o que fez a inflação ceder um pouco. Contudo, as taxas de juros continuam altíssimas e não há sinalização de que o governo pretenda fazer algum tipo de ajuste fiscal. No ano eleitoral, certamente não haverá. A dívida pública, no entanto, cresce de forma insustentável — o que indica uma possível piora no cenário econômico em 2026. 

O incumbente tem a vantagem de dispor da máquina estatal e está criando programas de grande alcance social, como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e o subsídio do gás. Pesquisas mostram a aceitação dessas medidas, que têm potencial para gerar impacto eleitoral. Contudo, não existe “almoço grátis”: o quadro é de inflação, juros altos e descontrole fiscal, que tende a se ampliar com o aumento dos gastos públicos. 

Na eleição, a pergunta é: Lula merece continuar? Para ajudar o votante a responder, o governo precisará oferecer uma narrativa que convença a população de que o país está no rumo certo — explicando por que vale a pena continuar, quais projetos de futuro estão sendo construídos e qual sonho está sendo oferecido.  

Pesquisa Quaest divulgada em outubro mostra que 56% da população considera que o país está indo na direção errada (contra 36% que acham que vai na direção certa). 

É sempre bom lembrar que a campanha eleitoral, com a carga informacional que ela gera, tende a ajudar o governo a melhorar sua imagem. Contudo, hoje ainda não se vislumbra essa narrativa projetiva. O que representará para o eleitor um quarto mandato de Lula? Em que sonho se pode acreditar? 

Depois de arrolar esse conjunto de argumentos, volta-se à pergunta do título do artigo: Lula é o favorito em 2026? 

Não é possível cravar nenhuma certeza. É fato que as chances de Lula, se comparadas ao início do ano, melhoraram bastante. E isso se reflete também nas intenções de voto. Entretanto, isso não significa que a eleição de 2026 terá o signo da continuidade. 

Pesquisas qualitativas mostram um certo cansaço dos eleitores com Lula — uma “fadiga de material” — e um desejo de renovação. A balança ainda parece pender pelo desejo de mudança. Contudo, há um detalhe: a oposição ainda não tem candidato. E vale lembrar a máxima de Sun Tzu, em A Arte da Guerra: “Exército dividido, vitória alheia.” 

A direita vem errando muito. A condução do “tarifaço de Trump” foi calamitosa, um tiro no pé. Bolsonaro foi condenado e sua rejeição aumentou. Esses erros abriram espaço para a esquerda avançar sobre o eleitorado despolarizado, mais ao centro — justamente aquele que vai decidir a eleição. A direita precisa se recompor rapidamente, construir uma candidatura com capacidade de unir minimamente o campo e em tempo hábil para se viabilizar nacionalmente e se articular nos estados. 

A única certeza para 2026 é que a eleição será extremamente disputada e decidida por uma faixa muito estreita de eleitores que não se localizam nos extremos ideológicos. Nesse contexto, a campanha eleitoral terá muito peso. 

Como dizia o ex-governador mineiro Magalhães Pinto: “Política é como nuvem: cada hora está de um jeito.”Seguimos observando as mudanças no tempo. 

Rodrigo Mendes – Publicitário, sociólogo e cientista político, especialista em marketing, e mestre em Ciência Política pela UFMG. Foi professor da pós-graduação em Marketing Político – UFMG. Foi assessor de marketing da Prefeitura de Belo Horizonte e Secretário de Comunicação do Mato Grosso do Sul. Consultor dos Governos de Alagoas e Sergipe e das Assembleias Legislativas de MG e PB. Foi consultor do Tribunal Superior Eleitoral/TSE, de 2004 a 2010, sendo responsável pela Campanha Vota Brasil. Atuou em mais de 62 campanhas eleitorais em todo Brasil. Autor dos livros MARKETING POLÍTICO – O PODER DA ESTRATÉGIA NAS CAMPANHAS ELEITORAIS e coautor de MARKETING ELEITORAL: APRENDENDO COM CAMPANHAS MUNICIPAIS VITORIOSAS e do e-books NOVAS ESTRATÉGIAS ELEITORAIS PARA UM NOVO AMBIENTE POLÍTICO.

sobre
Rodrigo Mendes
Rodrigo Mendes

RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.

Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.