O marketing político atravessa uma fase de dissonância cognitiva. Enquanto algumas prefeituras seguem investindo pesado em tráfego pago, transformando prefeito em influenciadores e pós-produção caprichada, o eleitor está cada vez mais pragmático. E isso é bom. Não existe storytelling que convença um morador a ignorar um buraco na porta de casa.
Não há post viral que compense um banheiro de escola pública em ruínas. E definitivamente, não se camufla a ausência de medicamentos com um bom filtro do Instagram.
O eleitor brasileiro passou a valorizar, cada vez mais, a gestão concreta. A prova está nos dados: em 2016, apenas 46% dos prefeitos se reelegeram. Em 2020, esse número subiu para 63%. E agora, em 2024, chegamos a 83%.
O recado das urnas é cristalino: administra bem, volta. Faz obra, resolve problema, organiza a cidade — e o povo reconhece. O voto está mais racional do que muitas estratégias de campanha conseguem captar.
Mas aqui vai o alerta: não adianta fazer e não mostrar. Política é feita também de percepção. E percepção se constrói com comunicação, não com propaganda.
Há uma diferença essencial entre vender uma imagem e narrar uma gestão. Prefeito que trabalha precisa aparecer, sim, mas com a dignidade de quem mostra resultado, não com a ansiedade de quem disputa curtida.
O povo quer gestão. E quer saber da gestão. A equação é simples: resultado sem comunicação é invisível. Comunicação sem resultado é fraude.
Ruy Dantas é jornalista e publicitário, fundador do Ilha Tech, um hub de inovação que abriga três startups. Atualmente, atua como CEO da RD Innovation, uma consultoria especializada em inovação, e como presidente do Sim Group, uma holding de empresas que oferece soluções customizadas de publicidade e comunicação para diversos segmentos. Possui especialização em gestão, negócios e marketing, além de formação em conselhos pela Fundação Dom Cabral. Nos finais de semana, escreve neste espaço sobre comunicação e marketing político.