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O OVO E O CAFÉ ESTÃO MUDANDO O MAPA DOS VOTOS
27/02/2025 / 13:30
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Na campanha eleitoral foi a picanha e a cervejinha. Agora é o preço do ovo e do café. Itens de consumo, alguns mais básicos, outros eventuais, que estão moldando o mapa político brasileiro. 

No dia 25 de fevereiro, o Presidente Lula faz um pronunciamento sobre o programa Pé de Meia e sobre a Farmácia Popular.  

No dia seguinte ao pronunciamento do presidente, os jornais noticiam a prévia da inflação do mês – subindo. 

Ontem, 26, a QUAEST publica uma nova pesquisa sobre a avaliação do governo Lula, agora medindo o sentimento popular em alguns estados brasileiros. Nesta sondagem, pode-se ver que 69% dos eleitores de São Paulo desaprovam a gestão de Lula. O mesmo se constata em Minas Gerais, com 63% de desaprovação – são dois colégios eleitorais decisivos em 2022 para a vitória de Lula.  64% dos eleitores do Rio de Janeiro desaprovam o governo Lula, 70% em Goiás, 68% no Paraná, 66% no Rio Grande do Sul. E nos estados do Nordeste, onde tradicionalmente Lula tinha bom desempenho, as coisas estão mudando:              na Bahia já são 51% que desaprovam Lula e 50% em Pernambuco.

Várias análises foram feitas, apontando diversos fatores que poderiam explicar esta derrocada da aprovação do governo Lula: a gestão não consegue oferecer um sonho, uma projeção de futuro, para a população; não apresentou nenhuma grande novidade no terceiro mandato, está vivendo de alguma maneira do recall das gestões passadas; continua a manter uma lógica polarizada, e dela está dependente, que culpa a gestão Bolsonaro pelas mazelas do presente e  que está a reconstruir o país;  que o PT e seus quadros envelheceram e não conseguem se comunicar com o novo Brasil, conectado, informal, empreendedor etc. Tudo isso faz algum sentido.

Mas no final das contas a questão central é uma só: a carestia. A turma de baixo, cujo orçamento é gasto quase que em sua totalidade com alimentação, está vendo, a cada vez que faz a feira, que vai ao supermercado, que os preços estão subindo e o mês ficando cada vez mais longo. 

E quando precisa recorrer a um empréstimo ou usar o cartão de crédito (o que a enorme maioria faz) constata que os juros estão lá nas alturas e a rolagem das dívidas estão matando as finanças domésticas.

Essa constatação da subida dos preços, da inflação corroendo o poder de compra (do aumento do preço de itens básicos e até então presentes na mesa cotidiana, como o ovo e o café), associada a uma quebra de expectativa em relação ao terceiro mandato (a promessa de campanha de picanha e cervejinha a preços baixos) vai dilacerando a liderança de Lula, que sempre foi visto como um herói popular, que entende as agruras cotidianas dos de baixo.

Na pesquisa QUAEST pode-se ver que, em todos os estados, a população percebe que, nos últimos 12 meses, a economia piorou e que mais de 90% avaliam que os preços ficaram mais caros no último mês. 

Como dizia Nelson Rodrigues: é o óbvio ululante. Não tem para onde correr, pode-se fazer mea-culpa ou se tentar apontar culpados, a questão não é retórica ou problema de comunicação. É no bolso que está doendo!  

E estas vivências no supermercado estão produzindo efeitos em termos perceptivos. A pesquisa da QUAEST mostra que o mapa dos votos está mudando. Nas últimas eleições ficou clara a existência de uma divisão do Brasil, os estados do Sul e do Centro-Oeste votando maciçamente em Bolsonaro, o Nordeste e boa parte do Norte votando em peso na esquerda (seja em Lula ou Haddad) e o Sudeste sendo o fiel da balança da federação. 

A paciência está acabando. E ao que tudo indica será bastante difícil o governo recuperar essa credibilidade. Agora é aguardar os próximos meses para ver onde vão parar as curvas de aprovação x desaprovação do governo. Contudo, o prognóstico não é bom para a gestão petista. A se ver…

sobre
Rodrigo Mendes
Rodrigo Mendes

RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.

Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.