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O papel estratégico da comunicação no governo
25/04/2023 / 08:53
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O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, Paulo Pimenta, a semana passada, chamou a atenção dos assessores dos ministérios em função de divulgação precipitada de medidas a serem tomadas pelo governo acerca do fim da isenção para a importação de encomendas no valor de até US$ 50.

A medida foi tornada pública em entrevista do secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas e, posteriormente, comentada pela primeira-dama, Rosângela da Silva, Janja, em rede social.

O vazamento da informação gerou repercussão negativa para o governo. Segundo o ministro Pimenta, a Secom teve que atuar para “apagar incêndios que poderiam ser evitados”.

O ministro disse, ainda, que existe uma diretriz interna no governo, afirmada pelo próprio presidente Lula, de que anúncios com potencial para gerar repercussão pública devem ser anteriormente debatidos na Secom e na Casa Civil. Caberia à Secom filtrar, codificar mensagens e concentrar a divulgação das matérias com maior potencial midiático.

Este episódio merece ser analisado com mais profundidade, a partir de um olhar técnico e revela uma oportunidade para se comentar o papel estratégico da comunicação nos governos.

Para que o processo de comunicação aconteça é necessário que se tenha um emissor que envia uma mensagem; que esta mensagem seja codificada (na forma de um texto, imagem, áudio, etc.) divulgada por meio de uma mídia, e que a mensagem seja decodificada (compreendida) por um receptor. Este por sua vez dará um feedback quanto ao conteúdo recebido. A comunicação acontece somente quando a mensagem é compreendida e interpretada corretamente pelo receptor.

Quando a comunicação falha ocorre um ruído, causando prejuízo na decodificação da mensagem e, consequentemente, uma deficiência na sua compreensão e no feedback.

O ruído pode acontecer por várias razões. Uma das principais interferências no processo de comunicação é desagregação ou dispersão na emissão da mensagem, como aconteceu no caso envolvendo o atual governo. Se várias fontes emitem mensagens conflitantes, incompletas, ou que não contenham a angulação desejada pelo governo, existe uma grande probabilidade de gerar ruídos e dissonâncias. No governo é essencial que haja unidade na comunicação.

No caso da divulgação precipitada de medidas sobre o fim da isenção para a importação de encomendas de até US$ 50, como não havia uma mensagem clara e completa, surgiram várias decodificações ou interpretações, a maioria delas equivocadas. Chegou-se a falar, inclusive, que o governo iria aumentar impostos. Ou seja, a repercussão foi amplamente desfavorável e gerou um feedback negativo para o emissor (governo). Esta retroalimentação negativa causou, inclusive, conflitos internos no governo. As redes sociais, com sua grande força, só potencializaram as múltiplas possibilidades de ruídos e decodificações distorcidas, quando não se tornam munição para Fake News e ataques oposicionistas ou de haters.

Todas as relações humanas são mediadas pela comunicação. Por isso, comunicar é tão essencial na sociedade, especialmente a democrática. Se governos não “tornar comum” suas ações, (aqui está-se remetendo a origem etimológica da palavra comunicação), é como se nada fizessem. Comunicar é informar ao eleitor-cidadão-contribuinte como o seu representante está utilizando o mandato que lhe foi conferido. Comunicar é, portanto, uma obrigação dos governos de prestar contas aos cidadãos, mostrando como está sendo investido o dinheiro dos impostos. E isto só vai acontecer se o governo for efetivo em sua comunicação, ou seja, se a mensagem for clara, sem ambiguidades, possibilitando a correta decodificação por parte da mídia e do receptor final, o cidadão.

Conclusão, a comunicação é um elemento central em qualquer governo e, em hipótese alguma, pode ser secundarizada. É preciso que a comunicação exerça sua função de coordenação e faça de maneira centralizada a divulgação das mensagens-chaves. O episódio recente envolvendo o Governo Federal mostra, de forma inequívoca, as consequências geradas quando isto não ocorre. E confirma a necessidade imperiosa da comunicação exercer o seu papel estratégico.

O governo Lula precisa fazer este ajuste essencial, do contrário, continuará a sofrer com eventuais repercussões negativas e ficar a “apagar incêndios”. Ao fim, terá dificuldades para se posicionar estrategicamente e formar uma imagem positiva (coesa e una) junto a maioria da população brasileira.

*Rodrigo Mendes é publicitário e sociólogo, estrategista de marketing e comunicação pública com 25 anos de experiência, já tendo coordenado 60 campanhas eleitorais e prestado consultoria para diversos governos e lideranças. Autor do livro Marketing Político: o poder da estratégia nas companhas eleitorais.       

sobre
Rodrigo Mendes
Rodrigo Mendes

RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.

Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.