Quem trabalha com marketing político e comunicação pública tem com público-alvo o eleitor. Portanto, é fundamental compreender quem é este eleitor. Como se informa e se relaciona com a mídia? Quais são suas características sócio demográficas? Neste artigo reúno, de maneira ensaística e despretensiosa, alguns dados de pesquisas de várias fontes e institutos, sem me ater ao rigor metodológico ou acadêmico para juntar estas informações, tentando identificar um perfil do eleitorado brasileiro.
Há alguns anos o Brasil está vivenciando um processo que estabelece uma diferença profunda entre o comportamento dos mais jovens e os mais idosos, especialmente no que se refere a hábitos de mídia.
A última sondagem divulgada pela Genial/Quaest confirma algo que muitas pesquisas de mídia já apontaram, contudo, muitas destas descobertas ficavam restritas à técnicos especializados. Em 2015, quando eu era secretário de comunicação de Mato Grosso do Sul, encomendei uma pesquisa de mídia bem completa para servir de base para o planejamento das nossas ações. Esta investigação já começava a mostrar uma diferença importante nos hábitos de mídia de jovens e idosos.
A pesquisa da Genial/Quaest permite que se chegue a várias conclusões, confirmando e atualizando as leituras que já tínhamos em 2015. Uma delas é que os jovens se informam mais sobre política do que os mais velhos. Entre as pessoas com idade entre 16 a 34 anos, apenas 5% dizem não se informar sobre política. Já entre os com mais de 60 anos este percentual mais que dobra, chegando a 11% desta população que não se informa sobre política.
Contudo, o dado mais interessante se relaciona com o meio como as pessoas de informam sobre política. Entre aqueles com idade entre 16 e 34 anos, 45% usam as redes sociais para se informar (que podem ser somados aos 12% que utilizam Sites, Portais e Blogs), ou seja, entre os mais jovens, 57% se informam através da internet. Já entre aqueles com mais de 60 anos, 59% se informam sobre política através da TV e 14% através de “outras formas” (provavelmente aqui estão o rádio, os jornais impressos, as conversas etc.). Neste target, 12% utilizam as redes sociais para se informar e 3% sites, portais e blogs, perfazendo um total de 15% que se informam sobre política através da internet. Veja a diferença de uso da internet para informação entre jovens e idosos – 57% para 15%. São dois mundos completamente diferentes em termos de comportamento relacionado a mídia.
O estrato de idade entre 35 e 59 anos representa uma certa média, uma transição, entre os mais jovens e idosos. 41% se informam sobre política através da TV e 26% através da Redes Sociais, 15% outras formas e 9% através de sites, portais e blogs.
Esta mesma pesquisa da Genial/Quaest revela que o WhatsApp é a rede social mais utilizada pelos brasileiros com mais de 16 anos – 90% utilizam o aplicativo de mensagens. Na sequência aparecem o Youtube com 73%, Facebook (66%), Instagram (65%), TikTok (40%), Kwai (23%), Telegram (18%) e Twitter (15%).
Uma outra pesquisa, esta da Datafolha, confirma as diferenças nos hábitos de mídia quando se varia a idade e aponta outras características relacionadas a posse de conta em alguma das redes sociais ou aplicativos de mensagens: quanto maior a renda, maior a posse destes aplicativos. Entre aqueles com renda familiar mensal de mais de 2 a 5 salários mínimos (89%), 5 a 10 salários mínimos (94%) e mais de 10 salários mínimos (97%); e que os moradores das regiões metropolitanas (87%) são os que mais possuem algum aplicativo.
Estas duas pesquisas são perfeitamente compatíveis com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, Módulo de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021. Segundo o IBGE, quanto mais jovem, maior a utilização da internet. Nos grupos de idade de 20 a 29 anos, 94%, 30 a 49 – 93%, 40 a 49 anos, 90%, 50 a 59 anos, 83% e 60 anos ou mais 57,5%.
Por hipótese, pode-se intuir que o aumento do acesso e da utilização da internet tem relação com a utilização da web como fonte de informação sobre política. Ou seja, que estas diferenças nos hábitos de mídia estão associadas ao contato com a tecnologia. Mas existem outras variáveis que podem (também por hipótese) explicar as mudanças no comportamento, uma delas é a escolaridade.
Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2020, nos últimos oito anos, a escolaridade média, no Brasil, teve um ganho de quase dois anos de estudo. A escolaridade média da população brasileira de 18 a 29 anos avançou continuamente para alcançar 12 anos de estudo, o equivalente ao Ensino Fundamental e o Ensino Médio completos.
Uma análise comparativa do perfil do eleitorado brasileiro de 2012 a 2022 (ou seja, um intervalo de dez anos) confirma os dados do Anuário da Educação Básica. As estatísticas do eleitorado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram o seguinte: diminuição de 41,1% no número de analfabetos ou pessoas que só leem e escrevem. Diminuição de 25% dos eleitores com nível de escolaridade fundamental (completa ou incompleta). Aumento de 26% dos eleitores com ensino médio (completo ou incompleto) e aumento de 121% do número de eleitores com curso superior (completo ou incompleto). Ou seja, os dados do TSE são claros a comprovar um acentuado aumento da escolaridade do eleitor.
Ao mesmo tempo, as estatísticas do eleitorado do TSE revelam que o eleitorado brasileiro está envelhecendo. Em 1994, 21,46% dos eleitores aptos a votar tinha entre 16 e 24 anos. Em 2022, os jovens nessa faixa etária são apenas 13,78% do total. Na outra ponta, o número de eleitores acima dos 60 anos cresceu. Em 1994, eles eram 11,6% do eleitorado. Em 2022, são 20,26%.
Em resumo o que temos é um eleitor mais velho, com muito mais acesso à tecnologia e à informação, com maior escolaridade (mesmo que eventualmente se possa questionar a qualidade desta educação recebida) e com hábitos de mídia completamente diferentes quando se comparam os jovens e dos mais velhos e, finalmente, com mais interesse por política.
Como provocação e reflexão deixo a pergunta: que impactos que este novo perfil do eleitorado, com novos hábitos de mídia, tem no comportamento eleitoral? Será mesmo este eleitor mais crítico, atento e capaz de fazer escolhas melhores?
*Rodrigo Mendes é estrategista de marketing e comunicação pública com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições e lideranças. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.