Depois de definir o planejamento da campanha – objetivos, mensagem-chave, estratégia, públicos-alvo e segmentos, meios de comunicação – é hora de pensar na operação da campanha.
Uma campanha é uma empresa que se abre e se fecha em poucos meses e precisa dar lucro. Este lucro é medido em votos e a meta é a vitória nas urnas.
Como o tempo é curto, a campanha em si tem 45 dias, é preciso que seja estruturada uma organização eficiente,com uma clara cadeia de comandos e de controles. Estaestrutura precisa estar visível na forma de um organograma. O ORGANOGRAMA É UMA REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS CARGOS E DAS FUNÇÕES e contém uma lógica que contempla: quem decide o quê? Quem é responsável e pode ser cobrado? Quem manda em quem? Por consequência, quem está subordinado a quem?
Uma campanha é um ambiente extremamente pressionado por performance e resultados e tendente ao caos. Quando o resultado não vem ou acontecem flutuações que mexem com os ânimos dos participantes, a campanha passa por crises. Aí vale lembrar de uma frase de Mário Rosa: “campanha política é uma crise de comunicação, com dia e hora para acabar, que é o dia da eleição”. Se não há planejamento e organização, a probabilidade de ocorrerem crises e o caos se estabelecer é sempre maior.
Neste contexto de stress e pressão, é absolutamente determinante saber de quem é a palavra final nas decisões principais. Não há tempo para muita democracia, debates e participação. As decisões precisam ser rápidas e certeiras. É muito correta a frase: ¨ganha a eleição quem erra menos¨.
É preciso definir um núcleo pequeno, o menor possível, que seja responsável por tomar as decisões estratégicas da campanha. Até porque sigilo e não vazamento de informações é algo essencial. E neste núcleo, é necessário que se defina quem tem a palavra final sobre algumas questões. Exemplo, comunicação, geralmente é o marqueteiro, jurídico, o advogado, questões mais pessoais, políticas ou mais arriscadas, o próprio candidato. Destaca-se a importância de se ter neste seleto grupo o coordenador geral. O coordenador geral é o CEO da campanha. Quando está função falha, geralmente o barco afunda.
Neste ambiente hostil, precisa ter gente que conheça muito bem do riscado, que saiba o que está fazendo e o que precisa ser feito em cada momento. Na coordenação não há lugar para quem ainda vai aprender fazer; simplesmente não há tempo hábil para este aprendizado. Os erros custam muito caro.
Na outra ponta da organização é fundamental construir um fluxograma. O FLUXOGRAMA É A REPRESENTAÇÃO VISUAL E ESQUEMÁTICA DOS PROCESSOS DESENVOLVIDOS NA CAMPANHA. Define-se o que será feito, por quem e em que ordem. Importa saber quem é o responsável pela aprovação de cada etapa dos processos. Por exemplo, quem aprova as peças publicitárias criadas? Quem aprova os comerciais que vão para o ar? As matérias jornalísticas que serão distribuídas? Os conteúdos que vão para as redes sociais? Em que etapa entra o jurídico para avaliar a legalidade e os riscos das ações? Etc… Geralmente existe um encadeamento de aprovações sucessivas para haver redundância e os eventuais erros serem descobertos antes das publicações.Na comunicação os erros são muito visíveis – a busca pela excelência é uma necessidade impositiva.
O fluxograma é, portanto, o instrumento disponível para se visualizar a organização da campanha e se buscar a máxima eficiência, com menos gasto de tempo e recursos possíveis.
Na sequência, é preciso construir um cronograma e um orçamento de campanha. O CRONOGRAMA É A DISTRIBUIÇÃO DAS AÇÕES NO TEMPO. Não há nada mais valioso que o tempo do candidato em uma campanha. O tempo e a energia também. Campanha é uma maratona, não é corrida de 100 ou 200 metros. Portanto, é preciso saber dosar a energia, economizar para a reta final, momento em que a atenção dos eleitores estará mais desperta.
Por fim, não existe campanha sem dinheiro. O ORÇAMENTO É O PLANEJAMENTO FINANCEIRO DA CAMPANHA. É preciso saber claramente quando será necessário investir para se alcançar os objetivos traçados e como os recursos serão alocados em cada momento. E saber de onde vão vir os recursos – identificar as fontes de financiamento, incluindo doações, eventos de angariação de fundos, etc. Vale reforçar o alerta – não podem faltar recursos na reta final, quando os votantes estarão decidindo e a campanha precisa demonstrar que está crescendo e contagiando os eleitores com uma onda da vitória.
Conclusão. O resultado nas urnas – para além de uma conjuntura favorável, de um candidato com uma imagem bem construída e uma boa estratégia de comunicação – é também fruto de uma boa organização de campanha. Nunca convém desprezar este aspecto. Afinal, uma operação ruim pode matar uma boa estratégia.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.