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Por que eu quero ser prefeito da minha cidade?
28/06/2024 / 19:11
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Uma vez  li um livro que estava fazendo muito sucesso – ¨Comece pelo porquê¨ de Simon Sinek. Achei bem interessante e passei a usar uma parte da abordagem proposta pelo autor nas minhas consultorias nas campanhas eleitorais.

A ideia central do autor é que as empresas precisam ter clareza sobre qual o seu propósito, a sua razão de existir e a sua motivação principal para fabricar produtos ou oferecer serviços. A argumentação do autor é de que, se a empresa não sabe qual o seu propósito, a sua motivação, não será capaz de influenciar, motivar, engajar e atrair clientes. Tanto mais difícil será fidelizar consumidores e, de preferência, transformá-los em fãs ou ¨embaixadores¨ da marca/empresa.

Este porquê, de uma certa forma, representa a essência, a alma da empresa e deve estar presente na mensagem-chave e na comunicação.  

Quando inicio meu trabalho em um processo eleitoral, por exemplo em uma campanha para prefeito, a primeira pergunta que faço ao candidato é, invariavelmente: por que você quer ser prefeito ou prefeita da sua cidade? 

A primeira resposta, na enorme maioria dos casos, é precária e insatisfatória. Já ouvi de tudo um pouco, ¨porque meu partido me indicou¨, ¨porque acho que tenho chance de ganhar¨, ¨porque perdi a última e agora chegou a minha vez¨, ¨porque tem muitos potenciais eleitores que me pediram¨, ¨porque quero ajudar o meu povo¨, ¨porque eu me sinto preparado¨, etc. etc.

E tem coisa pior, já ouvi muitos políticos titubearem nesta pergunta inicial: ¨ainda não tenho muito elaborada esta resposta¨, ¨não sei ainda se vou sair¨, ¨não sei ainda se vou conseguir a indicação no partido¨, ¨não sei se vou conseguir ter estrutura e dinheiro para fazer campanha¨…

Vejo com muita preocupação esse tipo de resposta, afinal, uma campanha eleitoral é uma guerra, uma máquina de moer gente, tem ataques muitas vezes pessoais, à família, à honra, ao passado da pessoa, fake news. E um candidato que titubeia antes mesmo de se lançar, provavelmente vai fraquejar quando a campanha começar para valer.

Para entrar na guerra eleitoral é muitíssimo desejável que o candidato tenha uma vontade determinada, tenha um espírito já robustecido, mãos calejadas e uma força interna que não permita muitas dúvidas e inseguranças.   

Voltemos ao porquê. Mesmo que a resposta inicial seja ainda frágil e precária, um primeiro trabalho a que o marketing precisa se dedicar é na construção de um porquê forte, convincente, emocionante e que já consiga dialogar com o signo da eleição, com os problemas dos eleitores, resumir a razão principal da candidatura e o propósito do candidato.

Um bom porquê, em geral, não é individual e centrado no candidato. Quero ser prefeito porque estou preparado, sou competente, honesto, diferente, etc. Até porque há uma grande tendência de se descambar para o autoelogio. Contudo, existe espaço para algumas abordagens mais pessoais: ¨ sou uma pessoa que conseguiu chegar muito longe, e amo a minha cidade que me deu tudo, sou muito grato. Quero ser prefeito para devolver tudo que o povo da minha cidade me deu¨…      

Um bom porquê se refere ao eleitor, ao público-alvo, aos desejos e necessidades dos potenciais votantes. Quero ser prefeito porque a cidade está parada e vou promover mudanças para ela avançar; quero continuar as transformações que já iniciamos na cidade; quero fazer a cidade continuar e seguir em frente e avançar ainda mais; quero ser prefeito para melhorar a saúde, gerar emprego, fazer a cidade crescer (dialogar com principais demandas dos eleitores).

Na linha da abordagem do líder servidor, existem alguns porquês possíveis: quero servir ao povo que sempre me deu um carinho enorme¨, ou ¨acredito que tenho condições de fazer muito mais do que tem hoje, já demostrei isso quando fui secretário de estado¨ (por exemplo).

Para resumir. Se o sujeito não consegue saber qual é o seu propósito, o que o motiva, qual ou quais as razões que o fazem querer liderar a sua cidade, como é que vai conseguir convencer alguém a votar nele? Como vai motivar e mobilizar pessoas para seguirem seus passos, caminhar junto? Como vai entusiasmar pessoas a dedicar seu tempo para pedir votos em nome do candidato? Ou fazer as pessoas confiarem e acreditarem que as suas propostas são verdadeiras e vão se tornar realidade? Ou seja, sem uma resposta bem convincente do porquê, é pouco provável que um candidato tenha condições de vencer uma eleição.

*RODRIGO MENDES é estrategista de marketing e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política. Autor do livro Marketing Político: o poder da estratégia nas campanhas eleitorais (C/Arte/2002).
sobre
Rodrigo Mendes
Rodrigo Mendes

RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.

Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.