Por Nilson Hashizumi
A imagem recente que viralizou no cenário político, mostra Flávio Dino e Sergio Moro sorrindo em conversa, momentos antes da votação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que aprovou o atual ministro da Justiça ao STF, indicado pelo presidente Lula.
A primeira manifestação de Sergio Moro foi evidenciar sua preocupação com a “viralização” da foto, captada pelo repórter fotográfico Pedro França, da agência Senado.
Assim foram as suas entrevistas no dia em que – apesar de toda a resistência e mobilização da oposição – Dino foi aprovado para tornar-se ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e onde poderá cumprir mandato até 2035. Moro manteve discrição, fazendo questão de defender “a prerrogativa parlamentar” de não divulgar o voto na indicação de autoridades, alegando sofrer ataques nas redes sociais por apoiadores do Governo Federal e do PL do Paraná.
Senador eleito pelo Paraná em 2022, Sergio Moro tem uma trajetória controversa e não linear. Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Maringá em 1995, especializou-se em crimes financeiros. Tornou-se juiz federal um ano depois, havendo atuado como juiz auxiliar do STF, onde assessorou a ministra recém-aposentada, Rosa Weber.
Ganhou visibilidade no Brasil e exterior ao comandar julgamentos em primeira instância dos crimes apontados pela “Operação Lava Jato”, levando à prisão diversas personalidades da política nacional, como Sergio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro e o sucessor Luiz Fernando Pezão e muito outros como o deputado Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, o senador Delcídio do Amaral e até mesmo o atual presidente Luís Inácio da Silva, o Lula, condenado a nove anos e seis meses de prisão e posteriormente libertado após 580 dias, depois de declarada a suspeição do juiz e cujos vereditos foram cancelados.
De “herói da Lava Jato” a senador sujeito à cassação, Sergio Moro aliou-se ao então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro, e tornou-se ministro da Justiça e Segurança Pública no governo eleito em 2018. Mais tarde, alegando ingestão em seu Ministério pelo presidente, deixou o governo e – numa estória obscura – atuou na iniciativa privada, contratado por empresa que assessorou algumas das empresas implicadas na própria Lava Jato, até se tornar candidato ao Senado e circular por diversos partidos, antes de candidatar-se, pelo União Brasil, pelo qual foi eleito. Foi, portanto, acusado de traição pelos apoiadores do governo.
Em meio à polarização instalada desde as eleições de 2018, muita coisa mudou no campo da comunicação governamental e marketing político no Brasil. Representantes do campo conservador progrediram rapidamente ao desenvolver metodologias de produção e distribuição de conteúdos, seja pelas redes sociais, seja através de aplicativos de mensagens. Coisa que o campo progressista ainda busca diminuir a diferença.
Com método, disciplina e muitos apoiadores engajados, em curto espaço de tempo centenas de milhares de pessoas são alcançadas por conteúdos de mensagens em textos, fotos, vídeos e artes com grande poder de mobilização e indução para ações como o compartilhamento para novos apoiadores. Os conteúdos, invariavelmente são contundentes e em sua variação, ao chegar ao conhecimento dos públicos pretendem emocionar as pessoas, levando-as da mais profunda decepção, passando por sentimento de indignação, até a mais colérica reação e sentimento de ódio. Não importa se verdadeiros ou não.
Os dois opostos, conservadores e progressistas, se fortaleceram e se alimentam continuamente dos sentimentos de ódio e indignação, afastando possibilidades de aceitação – mínima que seja – sobre fatos e decisões que possam beneficiar a população.
Flávio Dino, por sua vez, parece não perder a oportunidade de reafirmar suas crenças e, com uma atuação recheada de humor e ironia, desconstrói toda e qualquer manifestação contrária ou ataques efetuados por opositores.
Curiosamente, a trajetória do atual ministro da Justiça e Segurança Pública teve início na magistratura, onde atuou como juiz federal da 1ª Região, com sede em Brasília e jurisdição sobre o Distrito Federal e os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins, no período de 1994 a 2006, quando candidatou-se a deputado federal pelo Maranhão.
Eleito, exerceu o cargo de deputado federal entre 2007 e 2011.
Em 2014, com mais de 63% dos votos válidos, Flávio Dino foi eleito governador do Maranhão e reconduzido em 2018 para o seu segundo mandato consecutivo, com mais de 59% dos votos válidos.
Indicado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, desde o início do mandato do atual presidente, Dino tem se destacado por sua atuação proativa e veloz, atitude que gerou ciúmes de parte de seus pares, mas aos olhos da opinião pública se coloca entre os mais bem avaliados do governo Lula III.
Com reações diferentes diante de um fato comum, foi preciso que Sergio Moro se sentisse na obrigação de explicar seu sorriso no encontro, como “um gesto de cordialidade” diante do público e principalmente aos seus eleitores, que “raivosamente” já demonstram sua decepção com o mandato em curso e pretenso comportamento oscilante, que sua trajetória remonta.
Por seu lado, Dino deu uma explicação simples, com base em uma carreira jurídica que, em determinados momentos, coincidiu de esbarrar com o então colega Sergio Moro. Além de ambos terem sido, em governos totalmente antagônicos, ministros da Justiça e Segurança Pública. E seguem colegas, ainda, uma vez que ambos foram eleitos ao Senado em 2022.
Uma curiosa coincidência de trajetórias, com desfechos totalmente distintos. Se, de um lado, Moro teve sua carreira jurídica questionada e decisões contrariadas e desfeitas por instâncias jurídicas superiores, sua passagem como ministro da Justiça e Segurança Pública apagada e um término longe do que ele próprio deve ter imaginado, qual seja uma vaga no Supremo Tribunal Federal por indicação de Bolsonaro que não veio e, por fim, um mandato no Senado que tende a ter fim com uma cassação, o caminho de Dino é totalmente inverso.
Jurista, deputado, governador, ministro em cargo Executivo nacional, bom relacionamento inconteste com o presidente da República, com consequente indicação a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, já aprovada pelo Senado, Dino representa o inverso proporcional de Moro.
E assim a história política brasileira segue. Alguns vencem, outros perdem.
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