Hoje pela manhã tive uma conversa com um amigo que é diretor de um instituto de pesquisa de opinião. Estávamos falando sobre as nossas impressões sobre os diversos grupos focais que assistimos Brasil afora e deles tentamos extrair algumas ideias ou tendências para as próximas eleições de prefeitos que vão acontecer em 2024.
As pesquisas qualitativas, sejam as entrevistas em profundidade ou os focus group (grupos de discussão, como são chamados no Brasil), são interessantes para revelar os sentimentos e as emoções das pessoas. O objetivo é ir um pouco mais fundo, ver o que está por detrás das opiniões e desvendar as motivações que moldam o comportamento. Como emoções e sentimentos são elementos mais duradouros e perenes, portanto, menos voláteis que as opiniões, a sua descoberta pode ajudar a prever o que está por vir em um futuro próximo.
O que as pesquisas qualitativas estão apontando?
Primeiro. Que o brasileiro está cansado da polarização entre esquerda e direita, entre PT, Lula, seus correligionários e partidos próximos de um lado, e Bolsonaro, bolsonaristas e seus aliados, de outro. Esse conflito e seu acirramento, que muitas vezes gerou afastamentos dentro das famílias, causando traumas e estresse, já cansou. A maioria das pessoas não deseja mais estas brigas para sua vida e preferem uma política menos tensa e mais distendida. Neste sentido, a polarização ideológica, mesmo nos grandes centros urbanos, parece que não terá tanta força como outrora.
Segundo. O eleitor está avaliando bem a maioria dos prefeitos. A exceção de um ou outro caso cuja gestão seja muito aquém do esperado, a população está gostando das atuais administrações municipais.
Parece que há uma forte tendência favorecendo a reeleição dos atuais mandatários ou que existe grande chance de estes conseguirem fazer seus sucessores, mesmo que a transferência de votos para outrem seja mais difícil. Em 2024, opositores que pregam mudanças não encontrarão facilidade. Para o eleitor, o custo da mudança parece que vai pesar bastante.
É importante registrar que em 2020, última eleição municipal, a taxa de reeleição já foi muito alta, chegando a 63%. Ao que tudo indica esta é uma tendência bem consistente.
Terceiro. Associada a tendência de continuidade, o eleitor parece desejar segurança no próximo pleito. Segurança no sentido físico, de buscar se sentir mais seguro na cidade onde mora, mas, sobretudo em um sentido psicológico. O eleitor não parece disposto a se arriscar. Tende a preferir o certo ao duvidoso. Parece preferir votar no próximo e no conhecido.
Assim, se há um prefeito que está fazendo um trabalho bom ou razoável, “mesmo que sem muito brilho”, um “arroz com feijão temperadinho”, é melhor manter o que aí está trabalhando, do que “arriscar em alguém que a gente não conhece bem e a coisa correr o risco de desandar”. Uma fala de um eleitor resume bem a tendência: “pra que mudar só por mudar, tem que ser para melhorar, né? E se a gente não conhece direito, pode ser que piore. As coisas pelo menos tão funcionando. Aí é melhor ficar com o que a gente já conhece”.
Quarto. O eleitor busca um gestor que cuide bem da cidade, do bairro e da rua. Há mais um desejo de um síndico da cidade, um administrador dos problemas do cotidiano. Predomina na eleição municipal um localismo, um foco nos problemas locais e próximos. Nacionalizar a eleição não parece um caminho muito promissor.
Eventualmente nos grandes centros urbanos as questões ultrapassam as demandas relativas à zeladoria, como o buraco da rua, a luz no poste, a coleta do lixo, o remédio e o médico no posto, a vaga na escola ou na educação infantil. Os problemas podem ser bem maiores como o preço e a qualidade do transporte público, a desigualdade social, a falta de inclusão, a violência urbana, a precariedade da saúde, o trânsito caótico, mas a solução passa, aos olhos do eleitor, muito mais por um gestor qualificado e que, de preferência, já tenha trabalho comprovado, do que por um político com um discurso ideológico ou nacional.
Sempre disse que um dos grandes atributos de um prefeito é a proximidade. O cidadão ter a segurança de que, em uma eventualidade, o prefeito pode ser acionado para ajudar a resolver o problema. Se a demanda é por uma vaga na escola para o filho ou uma consulta médica, o cidadão pode, em tese, recorrer ao gestor para tentar buscar uma solução. É a sensação de proximidade. Nas cidades menores isso acontece com mais frequência, nas maiores é mais difícil. Mas, mesmo nas grandes cidades, o prefeito precisa se fazer presente, seja através de uma agenda com a cidade, seja através da mídia, seja através de uma boa sinalização e divulgação das obras e ações. Um prefeito ausente ou fechado no gabinete não será bem avaliado.
Certa vez, em 1997, quando era assessor de marketing do prefeito de Belo Horizonte, Dr. Célio de Castro, fui fazer uma visita ao então prefeito de Salvador Antônio Imbassahy, o gestor mais bem avaliado no Brasil. Perguntei qual era o segredo do seu desempenho e ele me disse: “meio expediente no gabinete e meio expediente na rua. Todos os dias”. Ele fazia visita a obras, ia em escolas, comunidades, postos de saúde, fazia reunião de secretariado nas praças da cidade, passeava com a família no shopping center, frequentava bares e igrejas, etc. Ou seja, estava sempre presente e era visto no cotidiano da cidade. Segundo ele, essa proximidade é o que o tornava o mais bem avaliado do Brasil.
Por fim, é sempre bom reforçar que cada eleição é única e cada caso é um caso. Não há regra universal e nem receita de bolo. Às vezes um prefeito bem avaliado perde ou um mal avaliado consegue se reeleger. Mas, se há uma regra é a reeleição de prefeitos bem avaliados. Parece-me que esta é a tendência para 2024. Resta, portanto, aos opositores pensarem, desde já, em estratégias contraintuitivas e inovadoras para superar as tendências dominantes.
* RODRIGO MENDES é publicitário, sociólogo e cientista político, estrategista de marketing e comunicação pública com 25 anos de experiência, já tendo coordenado 60 campanhas eleitorais e prestado consultoria para diversos governos, instituições e lideranças. Autor dos livros – MARKETING POLÍTICO: O PODER DA ESTRATÉGIA NAS COMPANHAS ELEITORAIS. OS SEGREDOS DA GESTÃO PÚBLICA EFICIENTE. MARKETING ELEITORAL: APRENDENDO COM CAMPANHAS MUNICIPAIS VITORIOSAS e NOVAS ESTRATÉGIAS ELEITORAIS PARA UM NOVO AMBIENTE POLÍTICO.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.