Seja para enviar um meme para amigos, entrar em grupos da família, discutir política, tratar de assuntos do trabalho, realizar ligações e até mesmo para fazer compras, o WhatsApp está presente no cotidiano da grande maioria dos brasileiros.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Mobile Times/Opinion Box, em 2022 o número de usuários ativos no WhatsApp no Brasil era de 165 milhões de pessoas ou seja 96,4% da população. Hoje, 99% dos brasileiros com acesso a um smartphone usam o WhatsApp como principal meio de comunicação.
O WhatsApp vem se tornando cada dia mais essencial na vida dos brasileiros. A prova disso é o tempo médio que as pessoas passam no aplicativo – 29,2 horas por mês. Isso equivale a praticamente 1 hora por dia. 61% dos usuários do WhatsApp abrem o aplicativo pelo menos uma vez ao dia, sendo que, desses, 35% o deixam aberto o dia todo. E uma ferramenta disponibilizada pelo WhatsApp que é bastante utilizada pelos usuários são os grupos, devido à facilidade de poder se comunicar com várias pessoas ao mesmo tempo. 74% afirmaram fazer parte de grupos com seus familiares e ou amigos e 58% fazem parte de grupos de trabalho.
O que acontece quando o WhatsApp deixa de ser apenas um aplicativo de mensagens de comunicação interpessoal e passa a ser um meio de comunicação de massa? Que impactos que isso gera na sociedade?
Manoel Castells no livro Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet afirma que o poder é exercido por meio da construção de significado na mente das pessoas, mediante mecanismos de manipulação simbólica. Nada distante da teoria do Posicionamento de Al Ries e Jack Trout e também dialoga bastante com o conceito de hegemonia proposto por Antônio Gramsci.
Segundo Castells, os seres humanos criam significado interagindo com seu ambiente natural e social, conectando suas redes neurais com as redes da naturais e sociais. A constituição de redes é operada pelo ato da comunicação. Comunicação é o processo de compartilhar significado pela troca de informações.
A contínua transformação da tecnologia da comunicação na era digital amplia o alcance dos meios de comunicação para todos os domínios da vida social, numa rede que é simultaneamente global e local, genérica e personalizada, num padrão em constante mudança. Os dados mostram que no Brasil este fenômeno é acelerado e já atinge quase a totalidade da população.
Todos os processos de construção simbólica dependem amplamente das mensagens e das estruturas criadas, formatadas e difundidas nas redes de comunicação multimídia. Embora cada pessoa construa seu próprio significados, cada um interpretando em seus próprios termos as informações comunicadas, esse processamento mental é condicionado pelo ambiente da comunicação. Assim, a mudança do ambiente comunicacional afeta diretamente as normas de construção de significado e, portanto, a produção de relações de poder, seja a sua conquista ou a sua manutenção.
Nos últimos anos, a mudança fundamental no domínio da comunicação foi a emergência do que Castells chama de autocomunicação – o uso da internet e das redes sociais como plataformas da comunicação digital. É autocomunicação porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a designação do receptor é autodirecionada e a recuperação de mensagens das redes de comunicação é autosselecionada. O usuário gera o seu próprio conteúdo (UGC), o direciona para onde deseja (segmenta ou micro segmenta a mídia através de impulsionamentos) e seleciona a quem quer responder ou com quem quer interagir.
Com certeza pode-se falar de comunicação de massa porque são processadas mensagens de muitos para muitos, com o potencial de alcançar uma multiplicidade de receptores e de se conectar a um número infindável de redes que transmitem informações digitalizadas para milhares de grupos, pela vizinhança ou pelo mundo. Segundo ainda Castell, a autocomunicação de massa fornece a plataforma tecnológica para a construção da autonomia do ator social, seja ele individual ou coletivo, em relação às instituições da sociedade. As redes de poder o exercem sobretudo influenciando a mente humana mediante as redes multimídia de comunicação de massa. É isto que o WhatsApp se transformou, um grande e poderoso meio de autocomunicação de massa. A prova cabal disto é a importância que o aplicativo alcançou nas últimas eleições presidenciais brasileiras, como fator decisivo de propagação de mensagens (sejam verdadeiras ou falsas).
Fica uma pergunta no ar: se WhatsApp é hoje uma rede de comunicação de massa e fator decisivo na construção da imagem, por que os governos estão tão atrasados na utilização desta ferramenta tão eficiente na comunicação com cidadãos-eleitores?
No próximo artigo será abordado como os governos podem fazer uso do WhatsApp na comunicação e construção de relacionamentos com a população.
RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política.
Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectadoe a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.