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Como falar e conversar bem
31/10/2023 / 12:36
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Willer Veloso, amigo de longa data, que respeito muito e considero um dos melhores profissionais de marketing com quem tive a honra de trabalhar, depois de uma carreira de sucesso no Brasil, mudou-se com a família para os Estados Unidos. Em uma de nossas conversas mais recentes, indicou-me uma leitura: The Secrets of Good Communications, de Larry King. Uma preciosidade para quem se interessa por comunicação. No artigo de hoje comento algumas das lições que este autor nos presenteia.

Larry King, o famoso apresentador dos programas ‘Larry King Life’, ‘Larry King Now’ e ‘Politicking With Larry King’ publica o livro The Secrets of Good Communications no ano de 2000. Já se vão 23 anos, portanto, muita coisa mudou, principalmente depois da entrada da internet e das redes sociais no campo da comunicação. Mesmo assim, há diversos ensinamentos no livro de King que merecem ser compartilhados. Até porque, segundo King:

a maior parte das pessoas de sucesso são comunicadores de sucesso. Não surpreendentemente, o inverso também é verdadeiro. Se você desenvolveu a capacidade de falar bem – e ela pode ser desenvolvida – você será bem-sucedido. Se você acha que já é uma pessoa de sucesso, pode obter um sucesso ainda maior aprendendo a falar melhor”.

Inicialmente ele mostra quais são os elementos necessários para se conseguir estabelecer uma conversa bem-sucedida. A conversa é a base da comunicação de duas mãos. Sobretudo nos dias de hoje, em que predominam as redes sociais (canais de retorno/dialogais) e não mais os meios de comunicação de massa (monólogo), elas são essenciais. Conversar, seja através de algum meio de comunicação ou em público, como qualquer outra atividade na vida, exige treinamento e domínio de alguns princípios básicos, para se obter uma boa performance.

Segundo King são eles: honestidade, atitude correta, interesse pela outra pessoa, abertura e disponibilidade.  Seja honesto – “se você estiver sendo honesto, nada será considerado errado, seja no rádio ou em qualquer setor das comunicações onde quer que atue” e, segue, “deixe os seus ouvintes e telespectadores compartilharem com você suas experiências e sentimentos”.  A ideia aqui é fazer com que o público se coloque no seu lugar, identifique-se com você – fazer a audiência participar da sua experiência.

Larry King fala, também, que, para se comunicar bem, é necessário “ter uma atitude certa”, ter vontade de se comunicar bem, de se exercitar e buscar melhorar esta capacidade de forma permanente. Como exemplos desta busca por aperfeiçoamento, cita: melhore a sua voz, cuide de sua aparência, seja breve, cuide da linguagem corporal.

A rotina de se comunicar continuamente, o desenvolvimento do hábito, assim como uma atividade física, um esporte, exige treinamento e condicionamento. Na medida em que a pessoa vai fazendo – treinando, estudando, condicionando-se – com o tempo vai melhorando. Este ensinamento é interessante uma vez que distingue a capacidade de se comunicar de um dom, é um aprendizado, que todos podem desenvolver. A habilidade de falar em público encaixa-se perfeitamente neste raciocínio.

Outro ingrediente da boa conversa é o interesse genuíno pelo seu interlocutor, a abertura e a disponibilidade. Capacidades cada vez mais raras nos dias de hoje. Para a conversa fluir bem não pode ser um monólogo, é necessário haver uma troca e para isso é essencial o interesse sincero pelo outro. Procurar sempre olhar nos olhos e não desviar o olhar, respeitar a todos de igual maneira – “toda pessoa é expert em alguma coisa e tem pelo menos um assunto sobre o qual adora falar”. Quando você respeita o conhecimento da outra pessoa vai ocorrer a reciprocidade – “se percebem que os respeita, vão prestar mais atenção enquanto você fala. Caso contrário, nada do que você diga ou faça conquistará a atenção deles para o que você está falando”.

Por fim, é necessária uma abertura em relação a si próprio quando estiver conversando com outra pessoa. Fazer com os outros o que você gostaria que eles fizessem com você. Seria o que hoje é chamado de atitude ou comunicação empática – colocar-se no lugar do outro e ter uma atitude ética, em sentido kantiano. Ou seja, você deve ser tão aberto e honesto com quem fala quanto gostaria que eles fossem com você.

Seguindo nas regras de uma boa conversa proposta por Larry King:

Minha primeira regra da conversação é a seguinte: eu nunca aprendi nada enquanto estava falando. Digo a mim mesmo, todas as manhãs, que nada que eu falar hoje vai me ensinar coisa alguma, de forma que, se eu tiver de aprender algo nesse dia, terei de consegui-lo ouvindo”. A máxima aqui é saber ouvir. E para isso acontecer, quanto mais você tiver informações prévias sobre a outra pessoa ou o público, melhor. Mais pontes de interesse em comum poderão ser criadas.

E ele prossegue: “se você não se esforça para ouvir com mais atenção o que os outros têm a dizer, não pode esperar que eles prestem atenção no que você diz”. O problema dos dias atuais é este, como diz Byung-Chul Han, vivemos numa sociedade onde uma das grandes crises é a da “escuta atenta”. Muitas vezes a conversa não flui porque uma das partes fala demais, monopoliza a conversa. Na política isso é muito comum. Os políticos, via de regra, falam demais e escutam de menos.

King lista algumas características que os comunicadores eficientes têm em comum:

  1. Eles olham sob um novo ângulo e assumem pontos de vista inesperados sobre temas familiares;
  2. Pensam sobre horizontes amplos – reportam várias experiências e questões que ultrapassam o cotidiano;
  3. São entusiasmados e conseguem transmitir isto aos outros – o público precisa perceber que você adora o que faz e acredita verdadeiramente no que fala, “demonstra paixão pelo que faz”;
  4. Não falam sobre si mesmo o tempo todo;
  5. Mostram empatia – estabelecem uma forte conexão com seu interlocutor;
  6. Têm senso de humor;
  7. Têm disposição para uma boa polêmica (essencial hoje nas redes sociais);
  8. São claros – tem capacidade de explicar suas ideias e atividades de forma simples e de modo que todos entendam e o fazem de maneira interessante. Diz King: seja direto, evite jargões e modismos, “se você se lembrar de que falar em público é apenas mais uma forma de conversar, e de falar como se fala de maneira natural e simples, com certezas as pessoas vão compreendê-lo muito mais. Elas vão sentir que você está se dirigindo a eles, e não falando de coisas que elas não podem entender”;
  9. Têm seu próprio estilo de falar;
  10. Conhecem o seu interlocutor – sabem quem é a plateia, quais são os seus interesses e o que ela deseja ouvir de você;
  11. Só falam sobre algo que conheçam e demostram esta segurança e confiança.

Em resumo: Conversar bem, muito mais que um dom ou uma arte, é um aprendizado, que pode ser treinado. Eu mesmo sou um exemplo. Era uma criança tímida e acanhada. Com o tempo, em função das necessidades que a vida impõe, fui aprendendo a me soltar e a comunicar. Estudei as técnicas e aos poucos fui exercitando as habilidades de falar na TV, no rádio, no vídeo, falar na sala de aula, para grandes plateias, etc. Hoje com tanto tempo de prática domino razoavelmente a matéria. Mas não foi fácil, foi um exercício de superação. Como aconteceu comigo, pode acontecer com qualquer pessoa que tenha a vontade genuína de se comunicar e falar em público. O livro indicado pelo amigo Willer, de Larry King, é uma obra que traz muitos ensinamentos que encurtam esse caminho. Vale a pena a leitura.

* RODRIGO MENDES é estrategista de marketing e comunicação pública com 25 anos de experiência, já tendo coordenado 60 campanhas eleitorais e prestado consultoria para diversos governos e lideranças.