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Como se livrar de pensamento suicida e a importância de falar sobre o problema
22/04/2024 / 15:00
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Foto: reprodução/BdF

Há uma espécie de segredo que permeia as tragédias. Quem passa por uma delas está fatalmente transformado para sempre, de uma maneira que não é possível compartilhar (ao menos não completamente) com os outros. O livro “Dia Um” (Companhia das Letras, 2022), do escritor e jornalista Thiago Camelo, é um relato sensível e duro sobre um sujeito a partir do momento da ocorrência de uma tragédia fundante: o suicídio do irmão mais velho, após se atirar do sétimo andar em um apart-hotel em Copacabana.

O “dia um” parece autoexplicativo. E é. “o suicídio é uma espécie de deus das culpas. O suicídio é uma espécie de deus das saudades”, é o que diz o autor.

Mas quais são os mitos comuns sobre o suicídio e como podemos combatê-los?

Na reportagem especial desta semana, o Portal F5 Online fala, com ajuda da Psicóloga Cynthia Silva, destaca quais fatores que podem levar alguém a considerar o suicídio, como identificar os sinais de alerta de que alguém pode estar em risco de suicídio e o papel que desempenha a saúde mental na prevenção do suicídio.

“A morte é um tabu em nossa sociedade, então, infelizmente, o suicídio é cercado de mitos perigosos que aumentam a estigmatização do sofrimento associado a ele. O mais comum é que o suicídio é um ato de fraqueza, loucura ou egoísmo”

Cynthia Silva, psicóloga.

Desde a infância, quando foi a uma psicóloga pela primeira vez – pois era uma criança muito calada e costumava desenhar espadas e outras armas brancas -, W. P conta que já tinha um certo pânico moral em torno dos atiradores em escolas estadunidenses.

“A narrativa que se costumava contar sobre eles coincidia com a minha. Contava-se que também eram crianças caladas que sofriam bullying e jogavam videogames, e por isso procuravam se vingar de uma maneira a imitar os jogos. Apesar de sofrer bullying na escola, apenas a mim foi indicado ir ao psicólogo; em relação a quem praticava, nada foi feito”, conta o jovem que preferiu não se identificar.

Segundo W. P, na época da escola, além do bullying, as notas caíram muito, o que gerava, segundo ele, uma série de reclamações dos pais e um claro desgosto deles pelo filho.

“Nestes momentos, minha vida parecia sem valor, já que não conseguia atingir as notas médias nem ter ao menos a indiferença de alguns colegas de classe. Por curioso que pareça, em parte só deixei a vida ir seguindo”, diz ele, refletindo sobre os momentos de desespero e solidão.

“A maioria dos métodos que conhecia eram doloridos e já sentia dor na vida, não gostaria de senti-la na morte e com isso fui adiando os meus planos de morrer. Com o tempo e a frequência em tratamento psicológico foram me ajudando a encontrar coisas nas quais poderia me agarrar por mais um tempo e de tempo em tempo eu segui com a vida”.

O relato de W. P é de quem sobreviveu a uma jornada pessoal com a saúde mental. Os desafios enfrentados desde a infância, incluindo bullying na escola e dificuldades em lidar com o sofrimento interno, encontram apoio na terapia e no suporte de amigos, que o ajudaram a encontrar motivos para continuar vivendo, mesmo nos momentos mais difíceis.

Tabu e estigma em torno do suicídio

Em entrevista ao portal F5 Online, a psicóloga Cynthia Silva destaca o tabu persistente em torno do suicídio na sociedade.

Foto: psicóloga Cynthia Silva

“Ainda é um assunto que a sociedade teme falar abertamente”, afirma. Ela ressalta que o suicídio é um fenômeno complexo, com raízes profundas na vulnerabilidade social e na violação de direitos.

A psicóloga ressalta ainda que os fatores de risco para o suicídio estão ligados à vulnerabilidade social e ao sofrimento psíquico, incluindo violência e falta de apoio. Identificar os sinais de alerta, como expressões de desesperança e comportamento de despedida, é crucial para intervir precocemente e oferecer apoio.

“O suicídio nada tem a ver com força, sanidade ou caráter, ele é simplesmente a expressão de um sofrimento intenso que não foi ouvido e tratado a tempo. Outra crença errônea é que pessoas que dizem que querem se matar não têm realmente a intenção, querem “apenas” chamar atenção, e que quem ‘realmente’ quer acabar com a própria vida não vai procurar ajuda ou alertar entes queridos sobre seus planos”, disse.

Muitas pessoas acreditam que conversar sobre suicídio pode levar uma pessoa à tentativa, e, portanto, o melhor seria não falar o assunto com alguém que está dando sinais de que pode estar pensando em tirar a própria vida. Também existe a falsa ideia de que alguém que sobreviveu a uma tentativa de suicídio não tentará novamente. Todos esses mitos levam as pessoas a terem vergonha ou medo de buscar ajuda em momentos de crise e, na verdade, aumentam o risco de suicídio.

Apoio de amigos, familiares ou profissionais de saúde mental

No caso de W. P, ele relata que a família foi um tanto indiferente: seguiram a recomendação do colégio em levá-lo ao psicólogo, mas não foram além disso. Por outro lado, ele diz que os amigos foram importantes.

“Mesmo que não conversássemos sobre esses assuntos. A presença e o companheirismo em outras áreas da vida acabaram por me fazer querer viver. Além disso, o acompanhamento psicológico foi fundamental. Ele me fez perceber várias coisas por ângulos novos e, de certa forma, isso tirava o peso dos meus pensamentos e emoções”.

Importância da terapia e do acompanhamento profissional

A saúde mental desempenha um papel crucial na prevenção do suicídio, oferecendo apoio e saídas para aqueles que enfrentam o sofrimento psíquico. É fundamental garantir o acesso a serviços de saúde mental e promover uma cultura de acolhimento e apoio na comunidade.

“A terapia e o acompanhamento profissional desempenham um papel crucial no tratamento de transtornos mentais relacionados ao suicídio, oferecendo suporte emocional e estratégias de enfrentamento para lidar com os desafios da vida”, completou Cynthia.

Recursos e apoio disponíveis

Diversos recursos estão disponíveis para aqueles que enfrentam pensamentos suicidas, incluindo o Centro de Valorização da Vida (CVV) e serviços de saúde mental como CAPS e PASM. É fundamental que amigos e familiares ofereçam apoio e estejam abertos para ouvir sem julgamentos.

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