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Comunista e ultradireitista disputarão segundo turno no Chile
17/11/2025 / 10:11
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Os candidatos na disputa pela Presidência do Chile Jeannette Jara e José Antonio Kast, escolhidos para o segundo turno – Crédito: Rodrigo Arangua e Marvin Recinos/AFP

Os chilenos decidiram levar para o segundo turno a escolha de quem irá suceder o presidente Gabriel Boric no ano que vem. Conforme indicavam as pesquisas, a disputa final será entre a candidata do Partido Comunista Jeannette Jara e o ultradireitista José Antonio Kast.

Os resultados divulgados pela autoridade eleitoral do país apontam que, com a totalidade dos votos apurados, Jara conquistou 26,8%, e Kast 23,9% dos votos.

No pleito deste domingo (16), nenhum dos oito candidatos conseguiu atingir mais da metade dos votos, e uma nova votação está marcada para o dia 14 de dezembro. Com o voto obrigatório, a participação ficou acima de 66%.

Ao não participar das primárias na metade deste ano, o campo da direita acabou dividindo votos neste domingo, concorrendo, além de Kast, com o também ultradireitista Johannes Kaiser (do Partido Nacional Libertário, com 13,9% dos votos) e a conservadora Evelyn Matthei (da UDI, com 12,5%). No segundo turno, a tendência é que Kast aglutine os votos da direita e ganhe a eleição, segundo as pesquisas até agora.

O candidato Franco Parisi (19,4%), de viés populista, foi a surpresa da noite, obtendo seus melhores resultados nas regiões do norte do Chile. O economista conseguiu tirar votos da esquerda e da direita em Arica e Parinacota, Tarapacá, Antofagasta, Atacama e Coquimbo.

Jara foi o nome escolhido em primárias para representar a coalizão governista e tentar manter a esquerda no poder. Boric não pode tentar um novo mandato consecutivo pelas regras do país, e sua ex-ministra ofereceu aos chilenos uma plataforma de crescimento com inclusão social.

A militante do Partido Comunista agora tem o desafio de superar a baixa popularidade do atual governo e propor uma alternativa à pauta de combate à insegurança, que foi dominada pela direita ao longo da campanha.

Seu adversário no segundo turno, Kast, surfou no temor crescente dos chilenos em relação ao aumento da criminalidade —ainda que em patamares inferiores aos de outros países latinos— para propor uma agenda de combate duro ao crime organizado e combate à imigração ilegal, que ele associa ao crescimento da violência.

Desde os protestos de 2019, os chilenos passaram por diferentes processos eleitorais e consultas, o que gerou certa saturação e descontentamento eleitoral. “No entanto, o voto obrigatório pode modificar a dinâmica tradicional e aumentar a volatilidade”, segundo análise da consultoria Directorio Legislativo.

“Agradeço por nos acompanharem nessa mensagem de esperança e e futuro para o país. Quero dizer que enquanto escrevia essas palavras, não podia deixar e pensar que o Chile é um país grande e não podemos nos esquecer disso. Somos um país imenso, generoso, solidário e com muita esperança, nossa pátria vai continuar crescendo para todas e todos, precisamos valorizar a democracia no nosso país”, disse Jara, que acenou aos outros candidatos que não foram para o segundo turno, elogiando propostas que eles fizeram.

“Na crise em que estamos, tanto de segurança quanto econômica, a unidade é fundamental. Temos um mês de trabalho e estou certo de que trabalhando em equipe poderemos recuperar e reconstruir a nossa pátria. Talvez o governo atual seja o pior da história democrática do Chile”, afirmou Kast, ao agradecer o apoio de Matthei e Kaiser.

Matthei, que chegou a liderar as pesquisas há pouco mais de um ano, mas foi engolida por seus concorrentes de direita, foi a primeira candidata a reconhecer a derrota. Por volta das 20h, ela disse que iria se juntar a Kast. “Obrigada aos chilenos que me acompanharam com esperança, à coalizão e ao meu partido. Agora vamos ao comando de campanha de Kast, para levarmos o Chile para frente.”

“Reconhecemos a vitória de José Antonio Kast, vamos apoiar a sua candidatura no segundo turno, pois a alternativa é Jara. Em apenas seis meses depois de termos formado um partido, vamos ter uma bancada de senadores, somos uma força que chegou para ficar na política nacional”, disse Kaiser, por volta das 20h15. “Vamos cobrar para que a nossa doutrina não seja abandonada, o direito à liberdade. Os resultados podem decepcionar alguns, quando comparados com as pesquisas, mas estão entre os melhores da história da nossa república.”

“Acreditamos na classe média, na meritocracia, não gostamos de ideologia. A situação atual não é boa, não queremos apologia a [Salvador] Allende ou a [Augusto] Pinochet”, disse Franco Parisi, ao comentar os resultados e se distanciando tanto de Jara quanto de Kast.

Também concorreram os independentes Marco Enríquez-Ominami, Eduardo Artés e Harold Mayne-Nicholls.

Além de escolherem o próximo presidente, os chilenos renovaram a Câmara dos Deputados e metade do Senado. Atualmente, há um maior equilíbrio entre representantes de esquerda e direita. Para a próxima legislatura, se projeta um crescimento da direita, tanto na Câmara quanto no Senado.

No Legislativo, a direita ficou mais perto da maioria nas duas Casas. A Câmara, que tem 155 cadeiras, ficará conformada com 76 deputados de direita das coalizões Chile Grande e Unido e Mudança pelo Chile; a esquerda teria 64 (com a Unidade pelo Chile e os Verdes, Regionalistas e Humanistas); o Partido Popular teria 14; haverá também 1 senador independente. No Senado, com 50 vagas, as coalizões de direita passam a ter 25 senadores. A esquerda soma 23. Os independentes somam 2 senadores.

A eleição com voto obrigatório para a escolha de presidente, deputados e senadores no Chile foi marcada por longas filas e atrasos no encerramento das votações, que estavam previstas para ocorrer das 8h às 18h. Mais de 15 milhões de pessoas estavam habilitadas para votar no Chile e no exterior.

Em grandes cidades, como Santiago, Valparaíso e Viña del Mar, os eleitores se queixaram de demora para chegar aos centros de votação, e diversas zonas eleitorais tiveram horário de votação ampliado.

No início da tarde, Jara votou em Conchalí e teve de esperar em uma longa fila que se formou na escola em que ela estava registrada. “Estou emocionada, por ter sido um caminho longo, as pessoas me conheceram quando fui ministra, mas a trajetória política é larga. Se vou a segundo turno, estarei um pouco mais nervosa”, disse aos jornalistas. “O ódio, a crítica ao outro e exacerbar o medo não são governar um país, é preciso ter capacidade de diálogo e empatia com a população.”

Ao votar em Paine, Kast comentou as declarações de Matthei sobre uma possível foto de unidade entre os três candidatos da oposição após a divulgação dos resultados. Ela disse que “95% dos chilenos não se importam” com isso.

“Cada um é dono de seu silêncio e escravo de suas palavras. Cada um escolhe os termos e conceitos para se referir à importância ou não do voto, de uma imagem. Acredito que todas as imagens de unidade que podemos dar são importantes, mas isso está dentro da liberdade de cada candidato”, disse Kast.

Acompanhado por sua filha Violeta, de cinco meses, o presidente Gabriel Boric deixou sua casa em Punta Arenas por volta das 9h e caminhou até a escola onde vota. No caminho, parou para tirar fotos com apoiadores. Com ele estava seu pai, Luis Boric.

“O Chile tem um futuro promissor que depende de nós e que pode ser construído em dias como este.” Aos jornalistas Boric disse que, por ser presidente, não podia dar declarações que pudessem favorecer algum dos candidatos. “O mandato que o povo nos deu é até 11 de março e vamos trabalhar sem parar para que a qualidade de vida dos chilenos melhore.”

“Parabéns para Jara e Kast por terem chegado ao segundo turno. A consciência e o voto livre e informado de cada um de vocês vai decidir. O diálogo, o respeito e o carinho pelo Chile devem prevalecer”, disse Boric no fim da noite, após a divulgação dos resultados preliminares.

Com informações da Folha de São Paulo